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Dantização de Wilson

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A imprensa é muito criativa na hora de batizar os eventos mais importantes da sua cobertura. Acho que é influência dos Estados Unidos, pra variar. O caso mais famoso, no EUA, e que acabou fazendo escola no mundo, que é o watergate.

No Brasil, já tivemos mais de centenas de exemplos, como o escândalo do Mensalão, Crise do Apagão, entre outros. Em Mato Grosso também há vários. Um, no qual dei uma pitada pessoal, foi o Secomgate, no governo Dante de Oliveira.

Por falar em Dante de Oliveira, a imprensa cuiabana alcunhou as mudanças em curso pelo prefeito Wilson Santos no seu secretariado, atraindo figuras próceres do governo de Dante, de “dantização”.

Sobretudo pela presença de Guilherme Müller na secretaria de Planejamento. De fato, Guilherme Müller tem na testa o carimbo de Dante. Além de auxiliar Dante em vários momentos, na prefeitura e no Governo, Guilherme, assim como Frederico Müller, era amigo pessoal de copa e cozinha do Senhor Diretas. Assim como Valter Albano, hoje conselheiro do Tribunal de Contas, entre outros.

Mas, fato novo mesmo é Guilherme Müller, porque José Antonio Rosa, Ronaldo Taveira e Pedro Pinto, que também eram ligados a Dante, já estavam na administração há mais tempo.

Essa discussão se iniciou, na prática, logo após a morte de Dante, na forma da pergunta “quem herdará o espólio político de Dante?”. Naquela época, três eram os nomes mais cogitados: a viúva Thelma de Oliveira, o senador Antero de Barros e o prefeito Wilson Santos.

Como todos estavam muito suscetíveis por causa do acontecimento, iniciou-se, inclusive, certa beligerância entre os tucanos mais ligados a cada um desses três personagens, e o assunto também provocava mais dor e pesar à família de Dante.

O calor da campanha acabou arrefecendo esse debate, mas não o aniquilou. Antero perdeu as eleições e ficou praticamente descartado da disputa. Restaram a viúva Thelma, reeleita deputada federal em lances emocionantes para quem gosta e acompanha política, independente das preferências e convicções político-ideológicas, e Wilson, que seguiu com seu governo.

Thelma, após as eleições, ainda parece não ter se recuperado da perda, e mergulhou num relativo ostracismo. Já Wilson acabou ficando no centro das atenções. Em certa medida pela força do cargo de prefeito de uma cidade com muitos problemas, o que é natural, e em outra por causa de iniciativas polêmicas, como a da privatização da água.

Ao que parece, o prefeito leva uma vantagem sobre a deputada por esse espólio. Por estar no centro gravitacional da micro-política de Cuiabá, tendo que disputar a reeleição ano que vem. Vencendo a eleição, poderá entrar no centro gravitacional da micro-política mato-grossense, como governadoriável. E o que define um líder, entre outros, é o tamanho do seu grupo de seguidores e o tamanho dos projetos que abraça. Já Thelma, como deputada federal, se continuar mergulhada, dificilmente conseguirá se inserir nesse centro gravitacional.

Por outro lado, a opção (que aqui significa escolha consciente e planejada por algo) de Wilson em “dantizar” sua administração parece que começou a ser feita quando decidiu permanecer no PSDB, quando muita gente, inclusive no ninho tucano, apostava que ele trocaria de sigla logo após as eleições do ano passado.

É uma aposta de risco, mas qualquer aposta em cavalos, poker e política é de alto risco mesmo. Entretanto, ela pode se explicar por um fato simples: o PSDB é, hoje, a única oposição, ainda que formal, ao PR do governador Blairo Maggi e a Lula em Cuiabá. Logo, pela estratégia da diferenciação, larga na frente de eventuais concorrentes. O assunto possui vários outros ângulos. Provavelmente voltarei a ele.

Kleber Lima é jornalista e analista político em Cuiabá. E-mail: [email protected]

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