A figura do bode expiatório está associado aos costumes e tradições religiosas dos judeus, quando o sacerdote sacrifica um animal e deixa o outro para ficar ao relento e vagar pela região, levando consigo os pecados do povo. De acordo com a Enciclopédia livre Wikipédia, "em sentido figurado, um "bode expiatório" é alguém que é escolhido arbitrariamente para levar (sozinho) a culpa de uma calamidade, crime ou qualquer evento negativo (que geralmente não tenha cometido). A busca do bode expiatório é um ato irracional de determinar que uma pessoa ou um grupo de pessoas, ou até mesmo algo, seja responsável de um ou mais problemas sem a constatação real dos fatos".
Esta tem sido mais ou menos a forma das relações diplomáticas estabelecidas pelo governo brasileiro com o governo americano. Decorrido mais de um ano de uma suposta espionagem que nem o Palácio do Planalto, nem o serviço de inteligência e contra-inteligência brasileiro, nem a alta direção da Petrobrás tenham notado, eis que nossa Presidente e seu governo forram sacudidos por uma reportagem bombástica dando conta de algo tão comum e corriqueiro nas relações internacionais que é a espionagem.
Tal fato caiu como uma luva em um momento em que a presidente estava no fundo do poço em relação aos seus índices de popularidade perante a opinião pública e novos casos de corrupção nas altas esferas do Governo Federal e em risco em suas pretensões eleitorais do próximo ano.
Dilma demonstrou sua indignação por diversas vezes e exigiu de Obama uma explicação clara e rápida quanto as razões e profundidade da espionagem que estaria afrontando a soberania brasileira. Como as explicações do governo americano nao foram suficientes para aplacar a indignação do governo petista, findo o prazo do ultimato, veio a tacada final.
O que muitos temiam é que a reação poderia vir através de um rompimento de relações diplomáticas ou até mesmo a declaração de guerra do Brasil contra os EUA, com sério risco para o gigante do norte, semelhante a estória de David e Golias, uma superpotência ser derrotada e humilhada por um país emergente que também aspira ser potência, que já possui e deverá aperfeiçoar seus serviços de espionagem, assemelhando-se a dezenas de países que também fazem da espionagem uma forma de ação diplomática.
Aconselhada por seus assessores íntimos resolveu-se que a Presidente não mais iria aos EUA e sua visita de Estado seria adiada até que Obama responda de forma clara, objetiva e profunda o que as agências de segurança e inteligência estão fazendo no Brasil e no resto do mundo. Para aumentar a pressão os ministros de defesa do Brasil e Argentina se reuniram e firmaram um pacto para o fortalecimento de seus serviços de inteligência, com o objetivo de melhor defender a soberania nacional.
Enquanto isto milhões de ha. das propriedades rurais no Brasil estão nas mãos de estrangeiros, a desnacionalização da economia segue a passos rápidos em todos os setores, chegando a 90% em alguns e diversos outros entre 50% e 90%. Os investimentos em ciência e tecnologia no Brasil estão muito aquém de sua estatura política e estratégica internacional, a baixa produtividade de nossa economia impede que o Brasil ultrapasse a barreira dos 3% de participação no comércio internacional e nossos governantes só sabem o que a espionagem estrangeira realiza através dos meios de comunicaçao e a Justiça acaba de dar uma nova chance aos mensaleiros. Tudo isso e muito mais deve ser culpa do Obama.
Portanto, até as próximas eleições Obama ou outro governo ou país serão usados como bodes expiatórios para induzir o povo a não ver os fatos que tanto denigrem nossa imagem mundo afora e nos angustiam internamente.
Juacy da Silva, professor universitário, Titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia.