O titulo que encabeça este artigo é muito utilizado por aqueles que acreditam que aqui na terra, tanto é céu, quanto inferno. Literalmente falando, o termo indica que tudo aquilo que nós, seres humanos, fazemos de errado aqui no planeta Terra, aqui mesmo haveremos de pagar, pressupõe-se. Os reflexos dessa pseudo-teoria são observados nos vários segmentos da sociedade mundial, incluindo-se aí a nossa atmosfera, evidentemente. A devastação da natureza provocada pelo homem – o desmatamento exacerbado e as abusivas queimadas estão em debates mundo afora – já é sentida e vivenciada pela humanidade. As conseqüências, imbecilmente ignoradas resultam no aquecimento global. Outras não menos importantes são: a destruição da terra por meio de terremotos, vendavais, tsunamis, vulcões, tornados, etc… Aqui se faz aqui se paga. Não tem escapatória.
Por outro lado, há, ainda, o comportamento sócio-cultural e, principalmente financeiro da sociedade como um todo. Aqui no Brasil, por exemplo, o homem se auto- destrói a partir do momento em que se julga superior ou melhor que o outro e, por fim, se deixa fluir pelo egoísmo, egocentrismo barato e tantos outros adjetivos indecorosos que a ética repudia. Para esses indivíduos, o inferno lhes deve ser o limite de suas desgraças. Não se pode dizer que um acidente de automóvel, por exemplo, onde haja óbitos, aconteceu por acaso. Por mais que as vítimas tenham sido de boa índole, a resposta para tal situação pode ter sua explicação no comportamento dos ancestrais das vitimas. Qualquer semelhança é mera coincidência?
A questão – céu e inferno – é ampla, carece de aceitação da fé individual de cada um e não tem nada a ver com macumba ou coisa parecida. Particularmente, acredito que o mal está na cabeça das pessoas e no seu comportamento. O rancor, por exemplo, é um sentimento, dentre outros, que concentra inveja e repulsa a outrem, que não permite o perdão. Quem o instiga, por conseguinte, não tem idéia do mal que está fazendo a si mesmo. Outro fato diz respeito àquele que, em sã consciência, não se responsabiliza pelos seus atos. Neste caso, esse indivíduo está cativando aquilo que não deseja para si mesmo.
A realidade é uma só: colhemos aquilo que plantamos. Antonine de Saint-Exupéry, autor do livro “O pequeno príncipe”, literatura clássica, enfatiza que: “Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas”. Quando o autor faz essa revelação, ele deixa explicito que, se nossas atitudes têm a conotação de hospitalidade, cordialidade, fraternidade, receberemos o mesmo tratamento por parte de quem a recebe, seja ele selvagem. Todavia, se fazemos exatamente o contrario, estaremos fadados a receber respostas negativas advindas de horizontes inimagináveis.
Não é possível, entretanto, admitir, categoricamente, que essa teoria seja 100% verdadeira. O incógnito não pode ser dúvida para quem quer que seja, uma vez que sua ignorância não lhe permite lucidez compartilhada com os interesses sociais. É, portanto, mais prático e cômodo aproximar-se do inferno, provocando a ira de seus semelhantes com enganações, muitas vezes levianas e irresponsáveis, que felicitar-se por vê-lo feliz.
Movido pela crença ou não de que “aqui se faz aqui se paga”, a verdade é que prover o mal, independentemente do seu grau de periculosidade, é o mesmo que enganar-se a si mesmo, tentando isentar-se da responsabilidade dos desatinos da vida ou do mundo. Não obstante, àqueles que promovem o bem, sem estabelecer condicionamentos quaisquer, resguarda para si uma tranqüilidade singular que a paz, tanto interior, quanto exterior, o destino lhe faculta.
Gilson Nunes é jornalista e técnico de T.I.