terça-feira, 23/abril/2024
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Acerca do equívoco

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Acerca do equívoco

KLEBER LIMA*

Novamente a revista Veja (edição do último domingo, 18) destila todo o seu reacionarismo para tentar aproveitar a crise política provocada pelos medíocres do PT para atacar a esquerda, em particular, e o socialismo, em geral.
São dois os pressupostos da revista:
1) o equívoco primordial do PT foi ter nascido empunhando a bandeira socialista, em 1980, quando esse sistema já estaria carcomido pelo tempo e a história; e
2) o equívoco secundário, resultante do primeiro, foi transformar Lula no operário-símbolo dessa luta de conquista do poder, como recurso tático de acumulação de forças dentro do campo democrático para construir,a posteriori, um processo revolucionário.
É muita bobagem vendida num único texto. Sobre o equívoco socialista (que significa, na verdade de Veja, e a eternização do capitalismo), Francis Fukuyama o fez com muito mais propriedade nos anos 90, sob o título de seu famoso livro “O fim da história e o último homem”, e não prosperou. Porque é demais para a cabeça de qualquer pessoa com um nível de informação elementar a idéia de que o capitalismo – a sociedade de mercado, a concentração de renda, a exclusão social e a vulgarização da vida – possa ser o último estágio de evolução da organização social e econômica da humanidade.
Já quanto ao equívoco de Lula como vetor da causa socialista no Brasil, sou forçado a concordar. O problema dessa gente mal intencionada da direita ou a serviço dela (e mesmo de setores tidos de esquerda, mas desonestos intelectualmente) é que sempre pegam um dado verdadeiro para construir uma premissa falsa. É a isso que chamam de falso silogismo ou simplesmente sofisma.
Lula, de fato, nunca foi socialista ou revolucionário. No máximo, foi um grande líder de massas, com um carisma extraordinário, e com uma vocação nata para a liderança sindical. Ponto. A sua transformação em agente revolucionário deve ser creditada na conta dos intelectuais heterodoxos que sempre acreditaram na revolução sem sangue, pelas vias pacíficas. O resultado é o que estamos vendo.
Mas, daí a classificar todo o escândalo do mensalão como arquétipo do revolucionário ou do socialista são outros quinhentos. A corrupção em escala é, antes de tudo, uma chaga capitalista, fruto da deploração dos valores éticos da humanidade, da lógica do lucro a qualquer custo e da visão patrimonialista, anti-republicana, de tornar o bem público propriedade privada. O grande erro dos “companheiros” do mensalão foi se deixar afetar por esse vício burguês, construindo eles próprios seu sofisma de acumulação de forças para a revolução.
Mas, esteja certo, caro leitor, o socialismo já sofreu reveses piores na história e nem por isso morreu. E por uma razão simples: não se mata uma utopia! O melhor retrato dessa crise, creiam, é a agonia do capitalismo moribundo que produz miséria, exclusão, fome, violência, guerras, abala instituições, valores, moral, ética, na tentativa hercúlea de manter-se vivo.

Kleber Lima é jornalista e Consultor de Comunicação da KGM-SOLUÇÕES INSTITUCIONAIS.

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