A semana que antecede a solenidade de Pentecoste é denominada “Semana de oração pela unidade cristã” (SOUC). A celebração da semana da unidade é preparada, anualmente, pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC). Este ano temo como tema: “Crês nisto? (Jo 11,26). É um versículo bíblico sobre a fé comum das Igrejas cristãs na ressurreição.
É uma palavra de conforto e consolo de Jesus para Marta no velório do seu irmão Lázaro. O caderno de celebrações é uma resposta ao apelo comovente de Jesus, na sua oração ao Pai: “Pai que todos sejam para que o mundo creia” (Jo 17,21). Realmente, o mundo precisa dessa demonstração concreta de que a paz e o diálogo são possíveis, especialmente entre as Igrejas cristãs.
Igrejas unidas têm mais força para promoverem a paz, a justiça social e a diaconia ecumênica transformadora. Igrejas que se agridem prejudicam mutuamente a pregação do evangelho aos que não creem, dando contratestemunho da fé cristã. Ter amigos e amigas é melhor e mais bonito que ter competidores ou competidoras. Jesus Cristo nos têm como amigos e amigas e deseja nossa comunhão fraterna. Ele mesmo disse: “Eu vos chamei amigos porque vos comuniquei tudo que ouvi de meu Pai” ( Jo 14,15).
Chamamos de ecumenismo a busca da unidade entre as Igrejas cristãs (culto ecumênico) e dialogo inter-religioso o processo de entendimento mutuo entre as diferentes tradições religiosas (Culto inter-religioso). O Ecumenismo não é disfarce para uma Igreja dominar a outra, ou algo que afaste a pessoa da sua própria Igreja. Mas é a celebração conjunta da fé comum fixada no concílio de Niceia (325).
O concílio de Niceia teve a missão de preservar a unidade da fé cristã, então seriamente ameaçada pela negação da plena Divindade de Jesus Cristo e da sua igualdade com o Pai. Neste ano jubilar, comemoramos, com gratidão, os 1700 anos da realização deste concílio e da elaboração da nossa fé comum. Assim, o ecumenismo se faz sobre os pontos de coincidências ou consensuais das Igrejas cristãs, os quais são infinitamente maiores do que os pontos que dividem. Vivemos numa sociedade religiosamente plural.
Por isso, precisamos ser pessoas cristãs ecumênicas, isto é aberta ao diálogo respeitoso, fraterno e amável. Lembrando o que disse s. João Paulo II: “O diálogo não é apenas uma troca de ideias. Mas uma “troca de dons” (Ut Unun Sínt., n. 28), ou seja, o ecumenismo é um enriquecimento mutuo entre as Igrejas e não um confronto proselitista.
O proselitismo é querer tirar o outro da sua Igreja. O grande objetivo do diálogo ecumênico é estabelecer amizade, paz, harmonia, e partilhar valores humanos, morais e espirituais, em espírito de fé e de verdade. Só através do diálogo, fecundo e frutuoso, podemos derrubar os muros das divisões, dos preconceitos, da intolerância e construir pontes de amizade, harmonia, fraternidade. Na conjuntura atual, não há mais espaço para a intolerância religiosa.
A intolerância religiosa é tipificada como crime. Mas, é importante lembrar que, não raro, as intolerâncias são praticadas por pessoas fanáticas, fundamentalistas ou extremistas, as quais desonram ou envergonham a suas próprias confissões religiosas com atitudes discriminatórias e preconceituosas. Sabemos que a constituição brasileira, no artigo V, inciso VI, garante o livre exercício da fé ou crença religiosa.
Cada cidadão tem direito de escolher e expressar sua fé com seus rituais e símbolos litúrgicos. Proclamou Luther King (1929- 68),” aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”. Em um de seus inflamados discursos ele disse: “o homem não se define pela sua cor, sua classe social, seu gênero, sua etnia ou credo, mas pela força do seu caráter”.
Francisco na encíclica Fratelli Tutti (Todos irmãos): “As várias religiões, ao partir do reconhecimento do valor de cada pessoa humana como criatura chamada a ser filho ou filha de Deus, oferecem uma preciosa contribuição para a construção da fraternidade e para a defesa da justiça na sociedade” (FT, n.271). Finalmente, para os que creem, o dom da unidade é uma dádiva divina a ser recebida de Deus quando, de joelhos, oramos. Porque a oração é a alma do ecumenismo, caminho de humanização e escola do amor.