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A fila não andou para eles

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Alguém, que não me ocorre quem no momento, teria dito: “Aquele que, jovem, não tem simpatias pelo socialismo, é um canalha. Se, quando amadurecido, mantém as mesmas preferências, é um idiota”.

Parece que foi ontem, quando ainda jovem universitário no Largo São Francisco em São Paulo, reuníamo-nos em grupos de estudo para discutir e debater o socialismo. Encantava-nos os ideais socialistas. Líamos sofregamente O Capital (Das Kapital) de Karl Marx e procurávamos entender conceitos como: mais valia, capital constante e capital variável, acumulação primitiva e outros conceitos econômicos igualmente complexos. Éramos jovens. Éramos todos socialistas. Nossos ídolos eram Che Guevara e Fidel.

O tempo passou, a fila andou, e tive que rever meus conceitos. Os ideais socialistas continuaram a encantar-me pela pureza das suas propostas. A dinâmica econômica das nações, porém, provou que tais ideais, infelizmente, só são possíveis no campo das teorias. O fracasso do sistema soviético e de outros campos experimentais de aplicação do socialismo veio provar que, quando colocado em prática, não funciona. A ilha de Fidel, tanto quanto o feudo do baixinho Kim Jong-il, a Coréia do Norte, bem como o fracasso da revolução bolivariana de Hugo Chaves, são demonstrações claras e inequívocas que o ideal socialista não passa mesmo de uma utopia.

Mas parece que é muito difícil para algumas pessoas desapegarem-se de suas paixões juvenis. Continuam apaixonadas, mesmo que traídas. Optam por tirar o sofá da sala a aceitar a desdita.

É sintomática a tardia paixão ostensivamente demonstrada pela jurássica esquerda brasileira pelos arremedos de ditaduras esquerdistas latino-americanas. Preferem abrir mão dos mais comezinhos princípios humanitários, mas não abrem mão de suas convicções. O raciocínio prevalecente: nossos ditadores são melhores que os ditadores deles; aos nossos tudo é permitido, aos deles tudo deve ser combatido.

O apoio declarado do governo Lula a Hugo Chaves e ao eterno ditador Fidel é algo deplorável. Ver Lula e assessores abraçados e rindo-se com Fidel, enquanto prisioneiros políticos são torturados e mortos nas masmorras cubanas, é motivo de vergonha para todas as pessoas que cultivam princípios humanitários. E descaradamente Fidel ainda clama o testemunho consentido de Lula ao dizer: “Lula sabe, há muitos anos, que em nosso país jamais se torturou alguém, jamais se ordenou o assassinato de um adversário, jamais se mentiu para o povo".

E isso tudo aconteceu quando o país está de luto pela morte de Orlando Zapata, um pedreiro negro que foi condenado a 32 anos de prisão por ter desacatado um policial, e por isso foi considerado um dissidente do regime. Morreu, por ter usado a única arma que tinha para lutar em defesa de seus direitos: a greve de fome. O mundo todo criticou a omissão do presidente. O que Lula fez foi criticar o morto pela greve de fome, e não a ditadura, que o levou ao desespero da greve de fome até a morte.

Onde ficam os princípios que justificaram a luta de tantos contra a ditadura brasileira? Que autoridade tem Dilma para apresentar-se, perante o eleitorado, dizendo-se orgulhosa do seu passado de guerrilheira, de ter lutado contra a ditadura brasileira, ao tempo em que cultua cegamente os ditadores latino-americanos? Um pouco de coerência lhe faria muito bem.

A fila andou para todos, menos para eles.

Waldir Serafim é economista em Mato Grosso.

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