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A Cartilha

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Do amigo Kleber Lima recebi um e-mail com alguns tópicos da cartilha distribuída pela Secretaria dos Direitos Humanos, que de cara provocou a fúria sagrada do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro e nos deixou a todos também indignados e  com a pulga atrás da orelha quanto ao futuro da liberdade de  expressão. A indigitada cartilha, elaborada por um “servidor público” que ora pontifica como professor da UnB, relaciona quase uma centena de palavras e expressões consideradas pejorativas e discriminatórias, portanto inadequadas ao uso politicamente correto da nossa “flor do Lácio inculta e bela”. 

Contra essa absurda discriminação, o nosso enraivecido João Ubaldo lançou um manifesto furioso como uma Catilinária de Cícero.

Justifica-se, em parte, a indignação do escritor. Realmente, o  conteúdo da cartilha recende aquele insuportável mau cheiro do fascismo. A pretexto de combater preconceitos abre um perigoso precedente: enseja o patrulhamento mequetrefe e escancara a porta à censura odienta. Como o adágio adverte que “cesteiro que faz um cesto faz um cento, contanto que não lhe falte tempo e cipó”, somos levados a temer que, se  agora se atrevem a pôr no índex da intolerância palavras e expressões que julgam impróprias, possivelmente amanhã, se puderem, não hesitarão em disciplinar o uso do vernáculo proibindo palavras e expressões que rotularem de ofensivas aos donos do poder. Quem garante que amanhã – como teme o romancista de O Sorriso do Lagarto – uma MP não venha ser editada institucionalizando o garroteamento, a mordaça, o estupro da liberdade de expressão? Tal despropósito seria o caos, a volta à idade do obscurantismo, aos anos sombrios  da ditadura.

Provavelmente nem tentarão chegar a tanto. Apesar dos seus traumas e de sua aparente fragilidade, nossa democracia está cristalizada e imune aos vírus do totalitarismo. Mas, além  desta certeza, tenho para mim que a tal cartilha, se analisada sem o calor da indignação que nos provoca, não nos revela nenhuma vocação totalitária oculta do nosso atual governo. A biografia do operário-presidente nos leva a esta conclusão. Por isso, não entendendo esse ridículo documento como uma antevisão de possíveis futuras investidas contra a liberdade  de expressão, imagino outras razões para o seu lançamento. Como agora é moda  combater preconceitos, nossos zelosos guardiões dos direitos humanos decidiram dar essa palhinha.  Ao fim e ao cabo, noves fora as chamadas boas intenções que enchem o inferno, a cartilha não passa de mais uma contribuição ao ressurgido febeapa e deve ser vista apenas como uma baianada (perdão) de burrocratas que quiseram mostrar serviço. Aliás, serviço de péssima qualidade.

A cartilha, pretendendo nos orientar, indica certas palavras e expressões que devem ser evitadas. Exemplo: nunca se deve  usar expressões como “mulher da vida” ou “mulher de vida fácil” referindo-se a uma meretriz. Nada de eufemismos para suavizar o tratamento. Segundo a cartilha, o correto mesmo é chamá-la de prostituta. O mesmo que marafona, rameira, puta, mulher à-toa. Basta esta “pérola” para se ter uma idéia do que é essa esdrúxula cartilha do “politicamente correto” na concepção caolha dos iluminados da urrocracia pátria.

Wilson Lemos é jornalista
[email protected]

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