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A aula de Jéferson

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O principal argumento dos acusados pelo deputado Roberto Jéferson de participarem do mensalão da Câmara Federal – e também dos setores governistas que se apóiam num folclórico risco de golpe e instabilidade – é o que o homem-bomba petebista não apresentou provas e que teatralizou seu depoimento à Comissão de Ética da Câmara Federal, na última terça.

Pura bobagem. No primeiro caso, a prova é o próprio depoimento. Roberto Jéferson é presidente de partido e deputado federal, tem fé pública, e afirmou categoricamente que pelo menos seis colegas seus de parlamento recebiam e distribuíam mesada do PT para suas bancadas. E ainda deu riqueza (palavra comprometedora no contexto) de detalhes sobre como provar suas acusações. Os indícios estão todos ali no longo depoimento de Jéferson. Vi-o detidamente por duas vezes. E ainda vou vê-lo muitas vezes mais.

Já no segundo caso, o da teatralização, a acusação de representação contra Jéferson é, antes, um elogio, um reconhecimento ao seu extraordinário desempenho.

Peço ao leitor, sobretudo quem é político ou lida com opinião pública, que compreenda o seguinte: vamos tentar abstrair o fato em si, as acusações o e escândalo, e suas implicações éticas e morais. Foquemos na crise e na forma de se lidar com ela. Ou seja, vejamos a crise como oportunidade de aprendizado de gerenciamento.

Roberto Jéferson, além da sua grande habilidade retórica adquirida em 23 anos de exercício parlamentar e nos mais de 200 júris populares em que atuou como criminalista, se preparou para aquele depoimento. Fez um roteiro, traçou uma estratégia, planejou cada passo.

O resultado foi aquele visto por todo o Brasil: ele entrou como acusado e saiu como acusador. Esse desempenho pôde ser visto e revisto por algumas observações:

1) Estava vestido apropriadamente, com um terno bem cortado, camisa e gravata em cor neutra, discreta. Cabelo bem penteado. Ou seja, vestiu uma imagem serena, equilibrada, confiante, adequada não para uma reunião com deputados, mas para aparecer na TV em rede nacional! Fez jus ao tratamento de “metrosexual”. A preocupação ali era com a opinião pública, não com a plenária.

2) O discurso obedeceu a uma narrativa cadenciada, com riqueza de detalhes (o que empresta credibilidade a qualquer enredo), com emoção comedida, firme, sem vacilações. De novo, sua preocupação era explicar ao “Zé da Silva” o que queria dizer. E o fez com maestria. Basta perguntar ao seu vizinho o que achou do depoimento.

3) A estratégia era simples, mas que pegou seus antípodas no contrapé: surpreendeu ao não defender-se a si próprio. Demonstrando altruísmo, considerou-se já sacrificado (o cidadão médio tem uma grande vocação ao perdão) e se colocou como alguém que estava se sacrificando para passar a Câmara a limpo, com coragem para desnudar patifarias que todos sabemos que existem, mas ninguém aponta o dedo. Ele apontou, e colocou em maus lençóis pelo menos uma dúzia de autoridades.

4) Acusar a imprensa pareceu-me um erro inicial. O comportamento posterior de todos os veículos citados, no tentando, todos tentando se justificar, me mostrou o contrário. Ao pôr o dedo na ferida da imprensa, garantiu que tivesse um tratamento mais justo na cobertura do caso. A Globo se explicou, Veja se explicou, Estadão se explicou….

Há outras inúmeras lições a se tirar da boa estratégia de Roberto Jéferson para o depoimento. Infelizmente, não cabem nas minhas 40 linhas. Voltaremos ao tema. Por enquanto, basta dizer o seguinte: não sabemos se Jéferson conseguirá se safar da cassação. Talvez essa nem seja sua estratégia. Mas, que até aqui ele está se saindo bem melhor que os próceres do mensalão, disso não tenho dúvida.

Kleber Lima é jornalista e Consultor de Comunicação da KGM – Soluções Institucionais. [email protected]

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