A quantidade de chuvas registradas durante o mês de agosto deste ano superou em cerca de 600% a média histórica dos últimos anos. Foram 88,8 milímetros de água, contra a média de 10 a 20 milímetros registrada no mesmo período nos anos anteriores. Em setembro, o índice chegou a 68,2 milímetros, bem acima dos habituais 40 milímetros. O resultado disso foi aumento da umidade relativa do ar e dias amenos, atípicos para o calor intenso ao que o mato-grossense, especialmente o cuiabano, está acostumado a enfrentar.
A mudança no cenário está relacionada ao reflexo das alterações climáticas ocorridas no Brasil e no mundo, como o aquecimento, o crescimento das cidades, o aumento no número de veículos e ainda ao desmatamento. Conforme a geógrafa da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e especialista em climatologia, Gilda Tomasini Maitelli, trata-se de um ano atípico, mas que a chuva deve ser resultado da massa de ar equatorial vinda da Amazônia e também do sul do país e é encarada como um fenômeno normal. Por se tratar de mudanças cíclicas, existe a possibilidade de inversão dos períodos chuvosos. "Daqui a pouco, ao invés de chover em janeiro vai passar a chover em junho", exemplifica.
Conforme a especialista, embora aconteça com menos frequência, cenário como de 2009 já pode ser observado pelo menos 4 vezes nos últimos 20 anos na região. Ela lembra que em 1989, o estado não enfrentou estação seca, quando o índice pluviométrico chegou a 100 milímetros. "Depende muito das condições climáticas, não tem como dizer com exatidão. É provável que seja consequência das alterações que estão acontecendo no planeta".
Já a queda pontual da temperatura está relacionada a invasão do frio originário do sul da América do Sul e também está ligada a ocorrência de pancadas de chuva. Na seca, o ar úmido da Amazônia não chega na região. Historicamente, os meses de setembro e outubro são considerados os mais quentes na região, devido ao movimento da Terra em relação ao sol. Cuiabá ainda tem um agravante, por estar localizada em uma depressão, ter pouca arborização, alto número de carros e o setor de construção civil em desenvolvimento acelerado, com asfaltamento de ruas e avenidas. "Há 30 anos, a temperatura de 40 graus era observada raramente. De 1920 a 1994, por exemplo, ocorreram aproximadamente 50 registros de 40 graus. Nos últimos 10 anos, esse número já subiu consideravelmente", observa Maitelli.
Conforme a diretora do 9º Distrito de Meteorologia de Mato Grosso, Marina da Conceição Padilha, a queda na temperatura é resultado do encontro entre frentes frias e quentes, carregadas de nuvens e baixa umidade. O frio sentido pela população, garante, está mais ligado a sensação térmica em razão da queda brusca. A última ocorrência registrada foi do domingo, 28 de setembro, quando a temperatura máxima chegou a 36 graus. No período da tarde, houve uma chuva rápida, que fez a temperatura despencar para 25 graus durante a madrugada e na segunda-feira (29) o cuiabano enfrentou entre 17 e 25 graus, dependendo da localização.
O dia 16 de setembro de 2009 foi considerado o mais quente do ano em Cuiabá, quando o termômetro do Distrito marcou 40,1 graus. Embora esta temperatura possa ser observada com freqüência nos termômetros instalados em diversas regiões da Capital, o chefe do Núcleo de Telecomunicação do Distrito, Waldilson Almeida Fidélis, explica que este é o resultado considerado oficial, já que o termômetro está protegido do sol, do vento e da chuva. Como outubro é considerado o início do período chuvoso, a tendência é que o número de ocorrências aumente ainda mais a partir de agora.
A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia para hoje em Mato Grosso é de céu parcialmente nublado com pancadas de chuva em áreas isoladas no sudoeste, sul e no sudeste. Nas demais áreas, nublado. A temperatura oscila entre 19 e 37 graus. Para amanhã (5), a previsão é ocorrência de nuvens com pancadas no sul e sudeste. Nas demais áreas, céu parcialmente nublado e a temperatura deve ficar entre 19 e 38 graus. Em Cuiabá, a temperatura deve ficar entre 24 e 32 graus hoje, com pancadas de chuvas em áreas isoladas. Para amanhã, a máxima pode chegar a 34 graus.
Para a especialista em climatologia, a saída para combater o aumento do calor é maior investimentos na preservação dos parques e arborização de quintais e praças, além das nascentes dos rios e córregos, uma parceria entre a população e o poder público. "Nós temos 2 grandes aliados naturais para minimizar os rigores do clima: as plantas e a água. Fora isso, só a tecnologia, sendo que nem todo mundo tem acesso a ar condicionado", ressalta a especialista em climatologia.