Um ano e seis meses após a desastrosa operação da Polícia Civil que resultou na execução do vendedor Gilson Silvio Alves, 34 anos, no bairro São Simão, em Várzea Grande, supostamente confundido com um ladrão de carga que era o alvo dos policiais, o acusado João Carlos de Oliveira, 56, conhecido por "Carlinhos" foi preso em Cuiabá no último sábado. Contudo, a viúva da vítima, Joziane Carlos dos Santos, que até hoje não recebeu nenhum amparo por parte do Estado, não sabia da prisão de Carlinhos. Ao ser informada, ela afirmou que isso só aumenta a dor pela perda do marido e também sua revolta contra o Estado porque, segundo ela, o esposo trabalhador foi apontado como bandido e morto por policiais despreparados. "Até hoje meus 2 filhos não fomos indenizados e não recebemos sequer uma carta com pedido de desculpas", conta emocionada ao enfatizar que sempre soube da inocência do marido com quem era casada há 15 anos e teve dois filhos, atualmente um tem 13 anos e outro 8. "Mataram um trabalhador de forma covarde. A sensação da perda dele (Gilson) ainda é muito doída.
Essa nova informação só aumenta a dor minha e dos meus filhos que ficaram abalados psicologicamente e até hoje não superaram o trauma. A morte do pai deles prejudicou até no aprendizado deles na escola, enfatizou.
Joziane conta que antes da morte do marido, ela nunca havia trabalhado e hoje, por falta de recursos, mora com os pais na mesma casa, no bairro Jardim Eldorado. "Ele sempre sustentou toda a família e com a morte dele precisei procurar emprego mesmo sem nenhuma experiência em qualquer área", conta ela que trabalha em um supermercado. "Hoje meus filhos que já perderam o pai de forma brutal e injusta, ficam o dia inteiro longe de mim, porque estou trabalhando para ajudar nas despesas", diz.
A viúva conta que sua revolta contra o Estado se deve ao fato de que até hoje nunca recebeu um pedido de desculpas e muito menos uma ajuda financeira para cuidar dos filhos que tiveram o pai assassinado, por segundo ela, servidores que agiram de forma imprudente. "Não recebi sequer uma carta lamentando pela imprudência dos profissionais que estavam a serviço do Estado quando mataram meu marido, pai dos meus filhos. Mas hoje, isso também não faz mais diferença, pois ele não está mais aqui para ouvir.
Só quero que o Estado assuma suas responsabilidades e repare os prejuízos da família. Preciso de ajuda para cuidar dos meus filhos, para ajudar nas despesas e dar a eles tudo o que o pai deles dava". explica. A família é defendida pelo advogado Hélio Nishiyama. "Nessa semana que passou entrei em contato com ele, mas fui informada que não existe nenhuma novidade no caso. O processo encontra-se parado no gabinete do juiz aguardando por decisão".
Gilson foi morto com 8 tiros de pistola no dia 23 de maio de 2011 durante abordagem dos policiais Maxwel José Pereira, Edson Leite e João Osni Guimaraes, o "João Caveira" que foram até um posto de combustível na Rodovia dos Imigrantes, para tentar prender um foragido, especialista em roubo de cargas. Na versão dos policiais, o vendedor teria reagido e atirado contra e atirado contra Maxwel e Edson, sendo alvejado como resposta. Edson e "João Caveira" morreram logo depois, em um acidente de carro.
Andamento processual
No processo criminal que corre desde junho de 2011 na 1ª Vara Criminal de Várzea Grande sob responsabilidade do juiz Otávio Vinicius Affi Peixoto, o investigador Maxwel José Pereira foi indiciado por homicídio. Os policiais Edson Marques Leite e João Osni Guimarães mortos em consequência de um acidente de trânsito ocorrido após o tiroteio, também aparecem como vítimas ao lado do vendedor Gilson Silvio Alves.
A denúncia oferecida contra Maxwel por homicídio foi rejeitada pelo juiz Newton Franco de Godoy no dia 30 de março deste ano, mas o Ministério Público Estadual (MPE) recorreu em abril deste ano com um recurso. O juiz terá prazo para rever o caso e decidir se reverte a decisão. Caso mantenha a rejeição, o processo será apreciado pela Segunda Instância.
Narra a denúncia do Ministério Público que na data de 23 de maio de 2011, por volta das 15h, no Posto 2006, localizado no bairro São Simão, o denunciado Maxwel José Pereira, juntamente com policiais civis Edson Marques Leite e João Osni Guimarães, no curso de uma abordagem policial efetuaram disparos em desfavor da vítima Gilson Silvio Alves, o qual veio a óbito por traumatismo crânio encefálico.
Também tramita na 1ª Vara Criminal de Várzea Grande, desde junho do ano passado, uma representação pela quebra de sigilo telefônico expedido pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) dos telefones do vendedor Gilson Silvio Alves e dos policiais Maxwel José Pereira, João Osni e Edson Marques Leite. Foi autorizada a quebra de sigilo de 8 telefones celulares no período compreendido entre os dias 15 a 25 de maio de 2011. A quebra do sigilo foi autorizada no dia 3 de agosto do mesmo ano. Porém, em uma decisão do dia 27 de junho deste ano, foi solicitado pelo juiz do caso, informações acerca da conclusão da quebra do sigilo telefônico dos celulares.