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UFMT pesquisará em 50 cidades se há contaminação por agrotóxicos

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Pelo menos 50 municípios mato-grossenses devem ser alvos de pesquisa pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Eles têm em comum a produção agrícola em grande escala, que está diretamente associada ao uso intensivo de agrotóxicos por aplicação aérea. As instituições querem saber quais os prejuízos que esta prática vem causando à saúde da população e também ao meio ambiente.

Estudos já realizados em 2 municípios – Campo Verde e Lucas do Rio Verde – apontaram a contaminação humana e também de recursos hídricos por pelo menos 13 agrotóxicos utilizados nas lavouras. O grupo de pesquisadores analisou, por um período de 2 anos, amostras de águas de córregos, rios e de poços artesianos em propriedades próximas às áreas de plantio e também nas cidades. Somente nos poços, foram encontrados resíduos de 13 dos 27 princípios ativos que compõem os defensivos, fungicidas e herbicidas mais usados nas lavouras.

O pesquisador e doutor na área de toxicologia Wanderley Pignati explicou que, em alguns casos, a concentração de agrotóxicos estava acima dos limites estabelecidos por lei. Ele também argumentou que até mesmo quando estão abaixo do permitido, a contaminação pode causar prejuízos, já que a exposição continuada a baixas doses de agrotóxicos, por longos períodos, pode causar danos não só ao meio ambiente como também a saúde humana. Outra preocupação, segundo o médico sanitarista, é a detecção de resíduos nas águas de chuva e de córregos, que indicam uma contaminação de áreas não cultivadas, como por exemplo os centros urbanos.

Outra pesquisa realizada em Lucas do Rio Verde, que destaca-se entre os 5 maiores produtores de grãos do Estado, apresentou dados mais preocupantes. Entre os anos de 2007 e 2010, foram feitas análises em 4 escolas, sendo uma no centro, outra na região periférica da cidade e duas na zona rural. Pesquisadores identificaram resíduos de vários tipos de agrotóxicos em 88% das amostras de sangue e urina dos professores das instituições, sendo que o nível dos profissionais que atuam na zona rural foi o dobro dos que trabalham na área urbana. Também foi confirmada a contaminação do leite materno de 62 mães que amamentavam em 2010.

Aérea – De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato), um quarto das propriedades mato-grossenses aplicam agrotóxicos por via aérea. Para o pesquisador, a prática é mais danosa tanto ao meio ambiente quanto à população. Isso porque o produto pode ser expandido pelo vento e também pelas chuvas. “Como não há limites de segurança para a presença de resíduos de agrotóxicos em água de chuva, é impossível dimensionar o real impacto que ele causa”. A aplicação de agrotóxicos via aérea é regulamentada pela Instrução Normativa 2, de janeiro de 2008. Uma das exigências é que seja feita com, no mínimo, 500 metros de distância de povoados, cidades, vilas, bairros e mananciais de captação de água para abastecimento de população. “Será que isso está sendo respeitado no Estado?”.

Restrição – Em julho, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) restringiu o uso de 4 príncipios ativos – Imidacloprido, Tiametoxam, Clotianidina e Fipronil – em aplicações aéreas em todo o país. O coordenador nacional de Avaliação de Substâncias Químicas do órgão, Marcio Freitas, destacou que a medida foi tomada para que seja realizada uma reavaliação dos produtos, já que o uso dos mesmos tem sido associado à morte de abelhas em diferentes regiões do país. Ele argumentou que a decisão de restringir a aplicação aérea e o uso de inseticidas a base destes princípios foi fundamentada em pesquisas científicas e em decisões adotadas por outros países. “Há 2 anos o Ibama vem estudando isso, e agora tomou a decisão de reavaliar o produto, o que é garantido por lei, e também restringir o uso como precaução”.

Num período de 4 meses, o Instituto vai avaliar qual a participação dos produtos na morte de abelhas, que são consideradas os principais polinizadores em ambientes naturais e agrícolas, e contribuem para o aumento da produtividade. “Os polinizadores têm uma importância muito grande para a agricultura, pois garantem a reprodução das plantas. No caso das frutíferas, eles são responsáveis por 60% da produção”. Na avaliação do pesquisador Wanderlei Pignati, os danos causados por estes agrotóxicos podem ser maiores ainda, já que o mesmo processo de neurotoxidade causado nos insetos, pode afetar o ser humano. “Neste caso nós temos dois tipos de intoxicação: a aguda, que ocorre no manuseio do agrotóxico, e a crônica, quando a pessoa fica exposta a baixas doses por longos períodos. Isso pode desencadear doenças no futuro”.

Setor- A decisão de restringir o uso de 4 princípios ativos não agradou o setor agropecuário do Mato Grosso, que é apontado como o maior consumidor de agrotóxicos do Brasil. O gestor do Núcleo Técnico da Famato, Eduardo Godói, argumentou que, hoje, um quarto das propriedades produtivas no Estado utilizam aeronaves para fazer as aplicações de fungicidas, herbicidas e inseticidas nas plantações. Com a restrição, muitas terão que fazer novos investimentos para garantir uma boa produtividade na safra de soja, que está próxima de começar.

Outra preocupação, conforme ele, é com a substituição destes produtos. O Tiametoxam é uma das principais armas que o setor possui para o controle do percevejo, praga que mais atinge as lavouras de soja e milho no Estado. “Estamos ficando sem munição, pois já tivemos a proibição de outro principio que era usado no combate ao percevejo. Sem este combate podemos perder até 30% das lavouras”. Além da aplicação aérea, estes agrotóxicos não poderão ser usados, mesmo que por via terrestre, em épocas de floração ou quando observada a visitação de abelhas na lavoura. Godói justificou que os produtores não terão tempo hábil para fazerem estas substuições já para a próxima safra. “Por isso estamos pedindo um prazo maior, de 1 ano, para a proibição valer”.

Além disso, destaca ele, existem outras alternativas para evitar danos aos polinizadores, já adotados em outras regiões do país, que podem ser determinadas pelos órgãos competentes. “Diante do tamanho das áreas agrícolas em Mato Grosso, a aplicação aérea é fundamental e é tão segura quanto a terrestre, basta atender os critérios de segurança, que vem sendo cumpridos”.

Outro lado – Procurado pela reportagem, o Indea-MT não atendeu as ligações.

 

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