Três mortes no trânsito a cada dois dias principalmente por imprudência e embriaguez ao volante. Esta é a realidade em Mato Grosso, conforme apontou o 10º Anuário da Segurança Pública, levantamento que é feito de dois em dois anos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Este Fórum é uma organização não-governamental que atua, entre outras frentes, para desenhar o real cenário do setor e provocar políticas públicas. Conforme o anuário, em 2014, foram registrados 484 casos de mortes no trânsito no Estado, tratadas como homicídios culposos, ou seja, não intencionais, e, em 2015, foram outros 457. Além desses casos, foram registradas ainda, nestes dois anos, mais 229 mortes no trânsito, qualificadas de outras formas.
O delegado Jefferson Dias, titular da Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (Deletran) de Cuiabá e que responde por um raio de 500 quilômetros no entorno da região metropolitana, afirma que o principal motivo dessas mortes é a imprudência e, entre as demais imprudências, a mais comum é circular em alta velocidade. “Algo que poderia ser evitado se o condutor respeitasse as leis de trânsito para aquela via”, lamenta o delegado.
Dirigir embriagado, na opinião dele, é igualmente um absurdo, porque, muitas vezes, além de tirar a própria vida, ceifa a de terceiros. Por causa disso, o delegado Jefferson, quando conduz inquéritos desta natureza, costuma indiciar por homicídio doloso, ou seja, intencional. “Um cara que bebe, que dirige em alta velocidade, assume o risco de matar. Eu atuo em favor da vítima e da sociedade”.
Outra situação que se repete com frequência no trânsito mato-grossense e que fica em terceiro lugar, conforme o delegado, na lista de motivações de acidentes, é dirigir sem a carteira de habilitação, ou seja, em tese, sem qualificação para tal.
O delegado Jefferson ressalta ainda o papel negativo dos motoqueiros neste cenário de “guerra”. Segundo ele, a maior parte não tem habilitação, não respeita leis de trânsito e não valoriza a própria vida e a dos outros.
Para o delegado, os radares é que têm ajudado a amenizar as estatísticas, porém, apenas sensivelmente. “Muita gente chama de máquina de fazer dinheiro, mas eu não acho isso, eu acho os radares importantíssimos e defendo que sejam instalados, assim como em Curitiba, por vários pontos estratégicos da cidade, porque quem já ouviu falar de acidentes em frente ao radar?. Ninguém, porque não acontecem”.
Para ele que acompanha os acidentes na rotina, 2016 foi o ano da imprudência. “O que vi de gente morrendo por conta própria, ou seja, não bate em ninguém, morre na situação por infração que cometeu. Foi assim em 90% das ocorrências este ano”.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) acompanha a problemática em nível internacional. O mundo gasta R$ 1 trilhão por ano com a recuperação de vítimas que se machucam nessas ocorrências, mas não chegam ao óbito. Por isso, a Saúde é a pasta no setor público que vem articulando as comissões de análise de trânsito.
Em Cuiabá tem uma comissão deste tipo, da qual o delegado Jefferson Dias faz parte. “Eu pensei que somente o brasileiro fosse imprudente no trânsito, que gostasse de andar com alta velocidade, mas não isso ocorre no mundo todo”, comenta o delegado.