A visita da comitiva Noruega significa um novo rumo para o desenvolvimento econômico e ambiental para o Estado. Com R$ 1 bilhão em investimentos no Fundo Amazônia nos últimos sete anos, dos quais cerca de R$ 70 milhões em Mato Grosso, a proposta da ministra de Clima e Ambiente norueguesa, Tine Sundtoft, é apoiar o projeto de desenvolvimento econômico sustentável do Governo do Estado, que construiu parceria sólida com o setor produtivo, as Organizações Não-Governamentais (ONGs) e a iniciativa privada. “É bom vê-los juntos, apoiando o governo na agenda de transformação.”
Tine explicou que nesse período é a primeira vez que visita o Brasil e a Amazônia, e que estava ansiosa para conhecer os frutos do trabalho desenvolvido a partir dos recursos oriundos do seu país. “É uma grande felicidade poder colaborar com vocês”. Ela disse estar impressionada com a contribuição de Mato Grosso ao reduzir mais de 90% da área desmatada na floresta nos últimos dez anos, também avaliou como muito positiva a ambição do Estado em querer continuar reduzindo esses índices a partir do envolvimento de diversos setores da sociedade. “O trabalho de vocês com certeza é uma das maiores contribuições do mundo para as mudanças climáticas, queremos mostrar isso em Paris”.
O governador Pedro Taques destacou que nos últimos oito meses de governo fortaleceu as Secretarias de Estado de Meio Ambiente (Sema) e de Agricultura Familiar e Regularização Fundiária (Seaf) com o objetivo de promover políticas públicas regionais e voltadas para o desenvolvimento sustentável, além disso, colocou o meio ambiente como pauta em outras secretárias de Estado para que a sustentabilidade deixe de ser um discurso para ser colocado na prática, fazendo parte da vida do cidadão. “É muito bom Mato Grosso ser reconhecido como um Estado que faz seu dever de casa. Mas ainda temos muitos desafios a serem superados para que possamos aumentar nossa produção agrícola, promover inclusão social e ainda garantir a preservação ambiental”.
A secretária de Estado de Meio Ambiente, Ana Luiza Peterlini, reforçou que além da redução do desmatamento em área de floresta, também houve uma diminuição ainda maior, de 94%, na área do cerrado, partindo de uma taxa de 6.528 km², no ano de 2004, para 429 km², em 2012. Hoje, entre os 60% do território que estão preservados, 20% ficam em terras indígenas (14,8 milhões) e nas unidades de conservação (5,3 milhões), e 38% em áreas particulares. “Esse trabalho de reverter a lógica de produção, criando uma nova consciência ambiental, exigiu um esforço coletivo, inclusive dos próprios produtores, um exemplo dessa parceria bem sucedida é o número de inscrições ao CAR (Cadastro Ambiental Rural), que em outubro do ano passado era de 43 mil cadastros e no início deste mês ultrapassou 80 mil. Já temos 55 milhões de hectares inseridos no sistema, a maior área cadastrada do país”.
O secretário da Seaf, Suelme Fernandes, mostrou à comitiva da Noruega que mesmo que Mato Grosso tenha destaque nacional como grande produtor em diversas áreas, tem hoje o grande desafio de promover inclusão social da população. Ao todo, 104,3 mil famílias estão hoje carentes de apoio na agricultura familiar, que detém em torno de 6 milhões de hectares com índice abaixo de 5% de aproveitamento do seu potencial produtivo. “Mato Grosso tem sim 15 municípios com o maior PIB (Produto Interno Bruto) do país, mas e os demais 126 estão em uma condição de desenvolvimento econômico e social precário, falta inclusão social, sobretudo na região amazônica”.
Para ilustrar o impacto disso, Suelme mostrou que o estado é o segundo no país em número de assentamentos rurais, com um total 763 projetos realizados desde as décadas de 70 e 80, dos quais 208 estão localizados em municípios da Amazônia Legal, totalizando 2,8 milhões de hectares e 46 mil famílias. “Nossos assentamos se transformaram em grandes favelas e pobreza”. Fernandes acrescentou que a maioria dessas pequenas propriedades está embargada e impossibilitada de promover arranjos produtivos ou acessar créditos rurais. “Temos muito orgulho de ser um estado rico, mas também temos o contraste de ter hoje 30% da população, a maioria da área rural, tendo que acessar benefícios de baixa renda do governo federal devido à condição de miséria”.
A ministra do Meio Ambiente (MMA), Izabella Teixeira, disse que este é um momento especial para o Brasil, que conseguiu cumprir os acordos realizados de diminuição de desmatamento na Amazônia, mas que é desafiador promover a integração de regiões tão distantes e distintas, com desenvolvimento econômico, social e proteção ambiental. “Um dos pontos importantes desse momento é deixar de vilanizar o setor produtivo, para torná-lo parceiro a partir da incorporação de novas práticas na agricultura e pecuária, que sejam mais modernas e eficientes. Outro ponto muito positivo é a implantação do CAR que se tornará um importante instrumento de planejamento e tomada de decisão dos governos estaduais. Tenho certeza que seremos um Brasil ‘pré’ e ‘pós’ Paris no quesito gestão ambiental.”
Também participaram do workshop parceiros na execução de diversos programas e projetos, como Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Earth Innovation Institute, Althelia Climate Fund, Grupo Amaggi, Marfrig Global Foods, Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) e Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato).