Na próxima segunda-feira (8), detentos do sistema prisional da Comarca de Sorriso entregarão a entidades carentes do município as primeiras unidades de uma série de cadeiras de rodas, cadeiras fisiológicas e macas que começaram a ser produzidas em setembro no Centro de Ressocialização local. A ação acontece por meio do projeto “Liberdade sobre rodas”. O projeto foi idealizado pelo ex-coordenador de atividades laborais da Secretaria de Justiça de Santa Catarina, professor Júlio Carneiro, e desenvolvido em parceria com a Corregedoria da unidade prisional, sob responsabilidade da juíza Débora Roberta Pain Caldas, e o Poder Executivo municipal.
A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) será uma das primeiras instituições beneficiadas. Nesse primeiro instante, serão entregues três cadeiras de rodas, duas cadeiras fisiológicas e duas macas. A solenidade de entrega dos produtos será realizada na segunda-feira às 18h30, no Shopping Park Sorriso. “Na ocasião, dois detentos representando o grupo farão a entrega dos equipamentos produzidos às entidades filantrópicas”, destaca a magistrada. A meta do projeto é que os detentos produzam pelo menos 10 cadeiras de rodas por mês.
De acordo com a juíza corregedora da cadeia local, o projeto “Liberdade sobre rodas” tem traz três grandes benefícios. O primeiro deles é a possibilidade de remição de pena dos detentos que participarem da oficina, na proporção de um dia a menos na pena a cumprir a cada três dias trabalhados. Outra vantagem é o apoio gratuito dado às entidades filantrópicas do município, atendendo às necessidades dessas instituições. Além disso, os detentos contribuem para a preservação do meio ambiente, pois os equipamentos – cadeiras, macas, andadores etc. – serão produzidos com sucatas de bicicletas apreendidas pela polícia que não foram procuradas e nem interessam mais a processos judiciais.
“Além de possibilitar ao preso a remição de pena e de contribuir com instituições que atendem pessoas carentes, o projeto também livra o meio ambiente de sucatas que aceleram sua degradação, reciclando bicicletas que ficavam entulhadas no pátio da delegacia. Os reeducandos transformam essas em importantes utensílios para pessoas com necessidades especiais”, assinala a juíza Débora Caldas. Os equipamentos produzidos serão entregues para entidades de assistência social sem fins lucrativos, como asilos e hospitais.
O trabalho da oficina de detentos com as bicicletas teve início na quinta-feira passada (27 de setembro) no Centro de Ressocialização de Sorriso. Essa mesma iniciativa foi desenvolvida pelo professor Júlio Carneiro em Santa Catarina e, devido à notoriedade do projeto, foi reproduzido em vários Estados. Em Mato Grosso, para ensinar aos detentos como confeccionar as cadeiras de rodas, o professor Júlio está ministrando curso de 15 dias para sete reeducandos, que serão multiplicadores dos ensinamentos para outros detentos interessados e que se enquadrarem no perfil de trabalho a ser realizado.
A juíza Débora Caldas explica que a oficina terá sete vagas fixas. Na medida em que os detentos participantes forem progredindo de regime, novos detentos terão a chance de participar da iniciativa. Para participar, os interessados serão analisados por uma psicóloga, uma assistente social e pelo diretor da cadeia. “Eles devem ter bom comportamento e baixa periculosidade”, acrescenta.
Para a realização do projeto, o Centro de Ressocialização contou com o apoio do vice-prefeito de Sorriso, Luiz Carlos Nardi, que manteve o primeiro contato com Júlio Carneiro e custeou as despesas de transporte, hospedagem e alimentação do professor. O projeto “Liberdade sobre rodas” também conta com apoio do promotor de justiça Marco Aurélio de Castro, do diretor Adomires Soares Sampaio, e do Conselho da Comunidade, representado por Lucinei Baretta e Adelizis Faxo, além dos delegados de Polícia Civil Maria de Fátima Moggi e Enio Carlos Lacerda.
HORTA – Desde outubro do ano passado, os detentos de Sorriso também têm a opção de exercer trabalho remunerado na horta instalada em frente à cadeia. Eles plantam e cultivam verduras e legumes que posteriormente são vendidos em mercados locais. O projeto foi desenvolvido pela juíza Débora Caldas e pelo Conselho da Comunidade local, com o apoio dos poderes Executivo e Legislativo. A remuneração dos reeducandos é retirada do valor das vendas dos produtos. Antes de repassar o salário aos detentos, entretanto, são descontados os custos da produção das verduras. Os detentos que trabalham conseguem também o benefício da remição (cada três dias trabalhados diminui um dia do total da pena a ser cumprida).
Drogas
Em abril deste ano foi lançado na Cadeia Pública de Sorriso o projeto “Drogas, problema seu, meu, nosso”, que tem como objetivo principal a desintoxicação de presos com dependência química, uma das principais causas da criminalidade. O projeto resulta de uma parceria entre o Conselho da Comunidade e a Clínica de desintoxicação de dependentes químicos ‘Lar de Deus’, que atende doentes com dependência química em todo Estado, inclusive por meio de convênios firmados com municípios. Segundo a juíza Débora Caldas, o projeto inaugurou uma nova fase na função ressocializadora da pena, voltada para atacar a causa e não somente a conseqüência do delito.
“A partir de pesquisa feita na unidade prisional local constatamos que, dos infratores que cometem crimes patrimoniais, 75% têm envolvimento com drogas tanto lícitas (álcool, tabaco), quanto ilícitas (principalmente pasta-base de cocaína)”, explica. Para a presidente do Conselho da Comunidade, Lucinei Baretta, o projeto é único na região. Isso porque leva para dentro dos muros prisionais uma equipe multidisciplinar que trata os usuários de drogas para que eles possam sair livres da dependência química. O objetivo é evitar que eles reincidam no crime a fim de manter o vício.