Das 355,4 mil das ligações realizadas para os serviços de emergência do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) no primeiro semestre deste ano, 42,7 mil foram trotes, o que representam 12% dos atendimentos, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública.
O percentual de chamadas falsas deste ano foi maior que o mesmo período de 2017, que contabilizou 9,5% do total de ligações. Canções, palavrões e histórias inverídicas sobre violência são os casos mais comuns de trotes praticados por crianças e adultos, aponta a Sesp.
Na última terça-feira, um trote mobilizou quatro viaturas e 12 profissionais do Corpo de Bombeiros Militar e Polícia Militar. No início da tarde, um adulto ligou para o número de emergência avisando que duas crianças caíram em um poço no Bairro São Matheus, em Várzea Grande. De imediato foi solicitado o socorro e 10 profissionais do Corpo de Bombeiros se deslocaram para o local, incluindo dois mergulhadores.
“Assim que chegamos verificamos que na borda do poço não havia nenhuma marca legítima de que alguém tivesse caído. Mas mesmo assim, iniciamos os trabalhos. Utilizamos escadas e demais equipamentos para realizar o salvamento. Após uma hora e meia de trabalho não foi encontrado e detectamos que se tratava de um trote”, afirmou o tenente Fábio Gomes Pereira, por meio da assessoria.
Ainda segundo o militar, o emprego de efetivo e viaturas em uma ocorrência falsa poderia estar ajudando pelo menos outras três situações verdadeiras. “O trote prejudica muito o trabalho a ser disponibilizado para quem precisa. Quem perde com isso é a população”, destacou.
As chamadas indevidas geram um “efeito dominó” em todo o sistema de emergência, pois quando não é possível identificar que a pessoa está passando um trote e a ocorrência é despachada para as equipes, uma viatura é empenhada sem necessidade, gerando custo ao Estado.
“Outro fator negativo é que no momento em que ocorre o trote, um ramal fica ocupado, impossibilitando ajudar realmente quem precisa. Contudo, os prejuízos vão muito além. As pessoas precisam tomar consciência que trote é crime e desperdício de dinheiro público. Em média, quando uma viatura sai para atender uma ocorrência falsa, cerca de R$ 500 é deixado de investir em segurança pública. Se somarmos este valor a quantidade de trotes realizados no semestre, o prejuízo é de R$ 20 milhões. Todo este recurso poderia estar sendo investido em prol da sociedade”, disse o coordenador do CICC, tenente coronel PM Siziéboro Elvis de Oliveira.
O trote aos serviços de emergência é um crime previsto no Código Penal. O autor é enquadrado por falsa comunicação de crime ou de contravenção, cuja pena é detenção de 1 a 6 meses ou multa.
Para inibir os trotes feitos pelo telefone celular e se aproximar do cidadão, a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) implantou, em julho de 2014, um sistema de envio de mensagens de texto informativo.
O sistema é acionado quando a chamada de uma pessoa, via celular, é classificada como trote pelos atendentes do Ciosp. Uma mensagem de texto é enviada automaticamente ao celular com os seguintes dizeres: “Ciosp informa! Você fez uma chamada ao número de emergência que foi classificada como TROTE. TROTE é ato criminoso de acordo com o artigo 340 do Código Penal”.
Já quando a chamada não é um trote, a pessoa que realiza a ligação via celular ao Ciosp, recebe um torpedo SMS com o seguinte texto: “Você fez uma chamada ao número de emergência. Estamos empenhados em lhe atender”. A mensagem contém ainda o número e o dia da ocorrência gerada no sistema.
O Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) é responsável pelo recebimento das chamadas emergenciais da Polícia Militar (190) e Corpo de Bombeiros (193), chamadas de emergência de trânsito da Secretaria de Mobilidade Urbana (118) e disque denúncia da Polícia Judiciária Civil (197) e denúncias de violência contra a mulher (181). A central também coordena o envio de pessoal e viaturas ao atendimento das ocorrências e o videomonitoramento.