O primeiro dia do ano de 2009 em Rondonópolis foi marcado pelo ressurgimento do movimento dos sem-teto, que invadiu duas áreas na cidade, sendo uma pública e outra de propriedade da OAB local, num total de 20 mil m2, na região do Parque São Jorge.
De acordo com um dos organizadores do movimento, o ex-pedreiro e mototaxista José Maria Alves da Silva, de 44 anos de idade, o movimento do Parque São Jorge vem sendo orquestrado há cerca de dois meses e é composto por 54 famílias, a maioria moradores da própria região e de outros bairros da cidade. Os sem-teto já dividiram e delimitaram as áreas ocupadas, armando barracos, criando ruas e estabelecendo a metragem dos lotes em 10mx20m, num total de 200m2 cada.
Segundo o líder do movimento, os pais de famílias querem do novo prefeito uma atenção especial no sentido de regularizar a situação dos mesmos, negociando e disponibilizando aquelas áreas ou mesmo uma outra, onde eles possam pagar pela mesma. “Nós não queremos nada de graça. Só queremos ter o nosso cantinho. E se estamos invadindo essa área é porque a maioria de nós não tem casa e está morando de favor em casa de parentes e de amigos. Nós não temos uma casa e nem um local para construir os nossos barracos, a nossa moradia. Então nós queremos que o novo prefeito Zé Carlos do Pátio faça o que foi feito aqui do lado, no Loteamento Farias, onde os moradores ganharam lotes e pagam R$ 25,00 por mês. Essa quantia, todo mundo pode pagar, e nós vamos ter um lugar para morar”, explicou José Maria.
As duas áreas invadidas medem juntas cerca de 20 mil metros quadrados. A primeira é uma área pública, reservada para espaços de lazer das comunidades vizinhas. A segunda é propriedade da Associação dos Advogados de Rondonópolis, ligada à OAB local.
O presidente da OAB Rondonópolis, Duílio Piato Junior disse ontem que já está tomando as providências legais no sentido de ajuizar, na segunda-feira (5), uma ação de reintegração na Justiça Federal, que é a instituição adequada para tratar de assuntos de interesse e referentes a OAB.
Duílio Piato disse que já efetuou um levantamento e um registro fotográfico da invasão, que será juntado aos documentos de propriedade da área e fará o ajuizamento da ação de reintegração.
Segundo o vice-presidente da OAB Rondonópolis, Nelson Pereira Lopes, a área em questão foi doada à instituição pelo então prefeito Percival Muniz, ainda na gestão do advogado Humberto Queiroz à frente da OAB local.
“Essa área é a nossa bandeira de luta e representa o nosso sonho de construirmos a nossa sede campestre. Assim que ganhamos a área, construímos um campo de futebol, gramamos o local e agora estamos viabilizando recursos para a construção da sede. Por isso, vamos envidar todos os esforços e adotarmos todas as ações necessárias para a reintegração desse patrimônio dos advogados de Rondonópolis”, avisou Pereira Lopes.
Ontem, ao sem-teto estavam providenciando um abaixo-assinado de apoio às suas reivindicações junto aos moradores do Parque São Jorge, já que a invasão está dividindo opiniões: uma parte dos moradores é a favor e outra é contra.
O atual presidente da Associação de Moradores do Parque São Jorge, Valdivam Domingos da Silva, mais conhecido como “Novinho”, ouvido pela reportagem, se mostrou contrário à invasão da área pública (campo de futebol), que segundo disse, estava reservada para a construção de um espaço de cultura e lazer para a comunidade. “Essa é a única área pública que nós temos disponível para a construção de um espaço cultural e de lazer para os próprios moradores. A outra questão que preocupa é o abastecimento de água. Ali no ‘grilo’ ao lado as ligações são todas clandestinas à base de mangueiras pretas. Se essa invasão for regularizada, além da gente perder a única área pública disponível para lazer e diversão, as ligações de água que eles vão fazer vai deixar a comunidade sem água”, alerta.
O líder do movimento disse que não havia conseguido manter contato com a nova administração, já que ontem foi ponto facultativo.