Um dia depois de seu partido ganhar o comando dos Correios, o senador José Sarney (PMDB-AP) defendeu ontem a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso no plenário do Senado, e ressaltou que manteve o apoio ao governo do petista mesmo durante a crise do mensalão.
“O meu candidato é o presidente Lula, que trouxe ao poder uma esquerda responsável e equilibrada”, afirmou Sarney. “Defendo a reeleição do presidente Lula. Acho necessária não só para a continuidade das coisas que ele fez. Em um segundo mandato seria muito bom que esse presidente operário avançasse”, disse o peemedebista na tribuna.
A ala governista do PMDB, capitaneada por Sarney e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), recebeu anteontem a presidência dos Correios e três diretorias. Eles negociam ainda o cargo de ministro da Saúde.
Essa corrente do partido enterrou a candidatura própria do PMDB à Presidência da República, o que aumenta as chances de Lula vencer a eleição no primeiro turno.
Apesar de o partido ter se mantido rachado durante o governo Lula, Sarney afirmou que o PMDB vai apoiá-lo em um segundo mandato e que a sigla terá um papel fundamental, já que segundo ele, vai eleger as maiores bancadas na Câmara e no Senado, além do maior número de governadores.
“O PMDB deverá dar sustentação ao novo governo, dele participando decisivamente. Essa participação não se dará na divisão fisiológica de cargos, mas na formulação e condução de projetos nacionais”, afirmou Sarney, que disse agradecer a Deus por não ser “fechado a idéias novas”. “Onde na minha vida fui conservador?”, questionou o ex-presidente.
Sarney disse ainda que o governo do presidente Lula foi uma surpresa. “O caos não veio. O desastre não chegou.”
Ao ser questionado após o discurso sobre as indicações emplacadas nos Correios, o senador afirmou que não sabia do fato. “Cargos? Que cargos? Não estou sabendo de nada. Já foi indicado alguém para os Correios?”, perguntou o peemedebista, no final da manhã.
Mensalão
Sarney elogiou ainda o procedimento de Lula durante a crise do mensalão. “A corrupção sempre foi uma arma para desestabilizar o poder, ferir sua legitimidade, investir quando a discussão de idéias se torna difusa”, disse o senador.
O PMDB comandava os Correios no início do governo Lula, mas teve que entregar os cargos quando um funcionário da autarquia foi filmado recebendo propina. Esse episódio deu início à crise que abateu a administração petista e culminou no escândalo do mensalão.
O novo presidente dos Correios, Carlos Henrique Almeida Custódio, é uma indicação do ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG); Carlos Roberto Samartine Dias, novo diretor de Operações, foi sugerido pelo líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB); Manassés Leon Nahmias, novo diretor de Tecnologia, é indicado pelo senador Luiz Otávio (PMDB-PA). O novo diretor Comercial, Samir de Castro Hatem, é indicação do líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR).
O discurso de Sarney foi criticado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), que foi pré-candidato do partido à Presidência da República. “É triste esse papel do Sarney. Infelizmente ele serve a qualquer governo e tem os cargos que quer”, afirmou o senador gaúcho.
Na próxima segunda-feira, parlamentares da ala governista do PMDB se reunirão com o presidente Lula para definir um movimento de apoio ao petista durante a campanha.