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Relatório da Comissão da Verdade aponta participação de policiais em MT

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Relatório final da Comissão Nacional da Verdade responsabiliza dois policiais militares de Mato Grosso por crimes ocorridos na época da ditadura militar, além de listar duas vítimas que atuaram no Estado durante o período de repressão. Ao todo foram responsabilizadas 377 pessoas, que a mando do governo atuaram em ações como tortura, homicídios, prisões ilegais, entre outros. No Estado foram apontados como responsáveis o coronel Euro Barbosa de Barros, do Exército Brasileiro, que foi nomeado comandante da Polícia Militar, e o soldado da PM Ezy Ramalho Feitosa.

Eles foram responsáveis por ações em São Félix do Araguaia (1.200 km a Nordeste da Capital), em relação à prelazia da Igreja Católica no município. Segundo o relatório, Barbosa comandou a invasão da prelazia em junho de 1973 para intimidar Dom Pedro Casaldáliga e a agente da prelazia Thereza Salles, onde pessoas foram detidas ilegalmente e outras torturadas. Apesar das ações de tortura, o coronel recebeu em 1981 a Medalha do Pacificador. As últimas notícias sobre Barbosa, segundo o Exército Brasileiro, é que ele tem 80 anos e está vivo, morando em Campo Grande (MS).

Ezy Ramalho Feitosa é citado no documento como o assassino do padre João Bosco Penido Burnier, que realizava um trabalho em São Félix do Araguaia junto com Dom Pedro Casaldáliga. A Comissão relata que Feitosa matou o padre com um tiro na cabeça, após a vítima ter ido junto com Dom Pedro à delegacia para reclamar das torturas que eram aplicadas à duas mulheres inocentes.

No relatório poucas são as informações sobre o soldado, que foi expulso da Polícia Militar pouco tempo depois do assassinato do padre Burnier, mas, segundo informações da Prelazia, ele tem por volta de 60 anos e foi visto na cidade nesse ano, depois de um longo período afastado da região.

Para quem sofreu a dor de ver um familiar ou amigo desaparecido ou ser informado da morte, a ferida continua aberta. O relatório da Comissão Nacional da Verdade traz um reconhecimento oficial da culpa do Estado nas mortes, através de uma política que incentivava ações de tortura que incluíam espetar pessoas com agulhas, ter as unhas arrancadas, ser jogado dentro de um tambor morro abaixo, além de agressões físicas como chutes e socos.

Mártir – o padre Burnier, citado no relatório é lembrado na cidade como mártir e em sua homenagem a cada cinco anos é realizada a Romaria dos Mártires, em Ribeirão Cascalheira (900 km a Leste da Capital), município onde o padre foi ferido pelo policial. Na prelazia de São Félix do Araguaia, a divulgação do relatório trouxe comemoração, pelo reconhecimento do responsável. “Para nós é muito importante esse reconhecimento, porque é uma forma de se fazer justiça. O padre João Bosco morreu em defesa das mulheres que estavam sendo torturadas e essa história não pode ser esquecida. Fazemos a Romaria dos Mártires como uma forma de mostrar essa história e a de tantos outros que morreram por lutar por justiça.

Outra pessoa citada no relatório é a cacerense Jane Vanini, que militou nos movimentos contra a ditadura em São Paulo e Mato Grosso, foi julgada à revelia pelo governo Brasileiro e em 1974 foi morta por agentes do governo chileno.

Sua história foi resgatada por historiadores do Brasil e de outros países, por sua intensa participação política. Sobrinho de Jane, Ricardo Vanini afirma que o governo chileno já havia reconhecido a culpa na morte de sua tia, mas que o relatório é importante para todas as famílias que sofreram com os crimes cometidos pelo Governo. “O relatório serve para que essa história não caia no esquecimento. É um tema que ainda dói, minha família ainda sofre ao lembrar por tudo que a minha tia passou. A própria constituição da Comissão Nacional da Verdade é um passo muito importante, que trouxe avanços na elucidação dos casos”.

Vitale Joanoni Neto, historiador e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) lembra de nomes como Vicente Canhes, Ezequiel Ramires e Wilson Piazza, além do Massacre do Paralelo 11, em 1960, que matou mais de 3.500 índios Cinta Larga, mas que por falta de documentação da época, não constam no relatório da Comissão. “O relatório é uma amostra, que se propõe a reconhecer essa parte da história brasileira. Tivemos duas tentativas de instalar uma Comissão Estadual da Verdade, mas que nunca saíram do papel, o que poderia auxiliar nesse esclarecimento. Pois enquanto se permanece na ignorância, não se tem a real dimensão do que foi esse período para o Brasil e para Mato Grosso”.

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