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Relatório aponta que 54 cidades de MT não registraram homicídios

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Dos 141 municípios de Mato Grosso, 54 não registraram homicídios em 2014, contrariando a realidade dos maiores municípios do Estado. Juntas, Cuiabá e Várzea Grande registraram 500 crimes contra a vida no ano passado, entre assassinatos e latrocínios (roubo seguido de morte). As informações são da Polícia Civil e constam no Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp).

Em geral, as cidades sem casos de assassinatos contam com baixo número de habitantes e estão distribuídas em todas as regiões. A mais populosa, Rosário Oeste, tem 17.275 moradores, enquanto a menor, Araguainha, tem 1 mil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para a professora e pesquisadora Vera Bertoline, do Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e da Cidadania, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a informação sobre a quantidade de municípios que não registraram homicídios surpreende de forma positiva, ao mesmo tempo que chama a atenção para vários questionamentos.

“Fico surpresa de forma positiva com a informação. Mas ao mesmo tempo questiono se isso de fato reflete a realidade. Será que existe uma subnotificação dos registros de morte no Estado? Surgem muitas dúvidas”. Para a professora, vítimas podem estar sendo ocultadas pelos seus assassinos, ou mesmo a Polícia não tem registrado de forma satisfatória as situações. A pesquisadora justifica as dúvidas com base na localização de algumas cidades, que estão em região de conflito agrário, ou mesmo de fronteira. Dois fatores motivadores para ocorrência de crimes desta natureza.

“Muitos questionamentos surgiram e avalio que é preciso fazer uma análise social desses municípios”, relata a professora ao mencionar que quanto melhor a política de inclusão social, menor os índices de violência. Com base em uma pesquisa de preocupação com serviços públicos feita pela prefeitura de Santa Rita do Trivelato (445 km ao norte), uma das cidades sem assassinatos em 2014, Vera avalia que as condições divulgadas pela gestão representam qualidade de vida e ambiente pouco favorável à criminalidade.

O levantamento demonstra que 27% se preocupam com a educação no município, 18% com a saúde, 18% com a segurança, 9% com o plano diretor, 9% com o transporte e 0% com os serviços de iluminação pública, lixo, orçamento e saneamento. “Esses quatro itens que não despertam preocupação nos moradores são muito importantes e refletem diretamente na vida e segurança da população. A ausência de iluminação pública, por exemplo, cria ambientes propícios para a prática de crimes, como roubo, estupro, ou mesmo assassinatos. Se isso não é preocupação dos moradores de Santa Rita, isso é muito bom. Sinal que a cidade não sofre com esse problema”.

O diretor-geral da Polícia Civil, Adriano Peralta complementa que cidades pequenas não costumam ter vida noturna, o que também reflete na segurança pública. Quanto mais intensa a movimentação de pessoas nas ruas, especialmente quando envolve o consumo de álcool e drogas, maior as chances de registro de ocorrências envolvendo crimes.

Por outro lado, rebate a possibilidade de subnotificação de casos, uma vez que crimes contra a vida e roubos/furtos de veículos sempre são registrados. “Uma hora o corpo aparece, ou a família reclama a ausência da pessoa. Não existe a possibilidade de subnotificação de casos de assassinatos”.

Sobre as cidades localizadas em áreas de conflito agrário, justifica que alguns locais registram uma onda de situações, mas terminam acalmando. E pontua ainda que vários garimpos foram desativados, contribuindo para o cenário de tranquilidade.

Outros fatores citados como incentivadores para homicídios pelo delegado é o processo migratório em regiões com colheita, ou instalação de estruturas que demandam mão de obra intensa, além das situações que envolvem o tráfico e consumo de drogas. No entendimento do prefeito de Rosário Oeste, João Balbino, a ausência da industrialização e o trabalho familiar no campo são fatores que contribuem para os baixos índices de violência. Cita que a cidade é tranquila, com uma população mais antiga, com pessoas idosas. A vida noturna não é agitada e a principal movimentação é ocasionada por festas de santos tradicionais do município, informações que confirmam o entendimento do delegado. Apesar do perfil pacato, o prefeito lamenta os dois homicídios já registrados no primeiro mês de 2015.

O pouco desenvolvimento de Araguainha também é apontado pela prefeita Maria José das Graças Azevedo como fator determinante para não ter registrado nenhum assassinato no ano passado. A segurança pública da cidade é garantida por três policiais militares.

Cita que nem mesmo as vias de acesso são asfaltadas, porém garante que o menor município de Mato Grosso é um bom lugar para morar, especialmente para os que desejam tranquilidade. “É um lugar simples, com a economia baseada na pecuária.

A renda per capita não é alta. Mas todos se conhecem pelo nome. Quem quiser ter uma vida tranquila, Araguainha é um bom lugar”.   

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