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Recuperandos ganham chance de aprender profissão em MT

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“Eu andei me envolvendo com algumas coisas erradas e fui preso. Fiquei dois anos e dez meses na cadeia. Foi muito difícil! Mas, agora que reconquistei a minha liberdade novamente, estou decidido a tentar uma nova vida”, garantiu Bráulio Alves Vieira, de 24 anos, preso por tráfico de drogas.

Bráulio é um dos 200 estudantes que assistiam atentamente à aula inaugural do projeto ‘Formar para Socializar’, na noite de segunda-feira (20 de abril), no auditório da Igreja Batista Nacional, no município de Sorriso (420km ao norte de Cuiabá). Realizado através de uma parceria entre o Poder Judiciário de Sorriso, Senai de Sinop, Ministério Público de Sorriso, Prefeitura Municipal de Sorriso e a Câmara Legislativa Municipal, o objetivo do projeto é reinserir socialmente através da educação e do trabalho cidadãos em situação de vulnerabilidade social, bem como menores em conflito com a lei e egressos do sistema carcerário.

Conforme André Henrique Santos, gerente regional do Senai de Sinop, a iniciativa surgiu através de uma parceria entre o Senai e o Ministério Público do Estado (MPE). Ele contou que o promotor Márcio Florestan o procurou para relatar que estava tendo dificuldade com alguns jovens infratores que não queriam voltar para a sala de aula, mas que se interessavam em fazer curso profissionalizante em que eles pudessem aprender uma profissão.

“A proposta inicial era que fossem disponibilizadas apenas 80 vagas com recursos do Senai e do MPE. Mas, em seguida, envolvemos a Prefeitura Municipal de Sorriso e o Poder Judiciário no processo e o projeto foi ganhando mais recursos e se expandindo para atingir mais pessoas. O Poder Judiciário, através da 5ª Vara Criminal de Sorriso, entrou como um parceiro muito grande para ajudar a selecionar os estudantes vindos de regimes aberto e semiaberto, para que eles possam se profissionalizar e também sair com uma profissão”.

O gerente ressaltou ainda que o Senai acredita que a educação seja a principal alternativa para as pessoas conseguirem uma vida melhor e, por isso, tem investido em projetos como este. “Hoje se fala muito em desemprego, em razão da crise, mas o problema não é a falta de emprego, mas a falta de qualificação para as vagas oferecidas. E na contramão do que acontece no país, em Mato Grosso a indústria cresce. A missão do Senai é preparar as pessoas para atuar na indústria, por isso estamos oferecendo apenas cursos de educação profissional com alta empregabilidade”, explicou.

Entre as capacitações disponibilizadas pelo projeto estão: informática, eletricista industrial, aplicador de revestimento, eletricista instalador predial de baixa tensão, mecânico de motocicleta, mestre de obras, operador de empilhadeira, montador de painéis elétricos, pedreiro, pintor de obras, soldador, aplicador de gesso, operador industrial de alimentos e operador de máquinas pesadas e escavadeiras hidráulicas.

A juíza da 5ª Vara Criminal da Comarca de Sorriso, Emanuelle Chiaradia Navarra Mano, contou como se dá a parceria. “A parceria funciona da seguinte forma: quando o recuperando progride para o regime semiaberto, nós contamos como condição para que ele se mantenha no regime a frequência nesse curso profissionalizante. Em pouco mais de dois meses já encaminhamos cerca de 40 recuperandos para o projeto. A ideia é que eles saiam com o compromisso de se profissionalizar, para que assim seja possível diminuir o índice de reincidência”, salientou.

A magistrada destacou ainda que além de ensinar uma nova profissão, os recuperandos vão ter o benefício de remissão da pena, uma vez que a Lei de Execução Penal prevê a redução de um dia de pena para cada 12 horas de estudo comprovado. E enfatizou: “estou à disposição para auxiliar os colegas que desejem levar o projeto para as suas comarcas”.

Bráulio ficou sabendo do projeto durante uma audiência. “A juíza perguntou se eu tinha interesse em fazer um curso profissionalizante e eu aceitei na hora. Vou fazer o curso de aplicador de gesso. Escolhi esse curso porque foi o que eu achei interessante e que mais tinha a ver comigo. Estou disposto a seguir um novo rumo. Não vou faltar nenhum dia”, disse o jovem.

Sobre o motivo que o levou ao mundo do crime, ele disse ainda que foi influência das más companhias. “Eu sei que a gente vai porque a gente quer, mas as influências às vezes são mais fortes. A experiência na cadeia foi muito ruim. Pude refletir sobre o que eu estava fazendo da minha vida e sobre o que eu vou fazer a partir de agora. Quero concluir esse curso, procurar um emprego e tocar a vida. Não pretendo me envolver com mais nada errado, pois o preço é muito alto. A gente fica longe da família e não temos liberdade nem privacidade. É muito, muito ruim lá dentro”, reforçou.

Quem também vai aproveitar a oportunidade dada pelo projeto para construir um novo futuro é Valdenir de Sousa Lucena, de 39 anos. Ele já teve uma série de ofícios, como taxista, pedreiro, costureiro, pulverizador agrícola, operador de colheitadeira, entre outros. Mas, diante de um momento de desespero por conta de uma dívida e diante de uma oferta tentadora de dinheiro fácil, acabou por entrar para o mundo do tráfico de drogas. E após cumprir seis anos da condenação de 10 anos e 10 meses, ele progrediu para o regime semiaberto. E, hoje, também a convite da juíza criminal, inicia o curso de Máquinas Pesadas.

“Trabalho numa fazenda a 66km de Sorriso. Vou ter que vir de moto e sair mais cedo do trabalho para vir fazer o curso. Meus patrões não gostaram muito da ideia, mas disse que se for pra escolher, prefiro fazer o curso. Quero melhorar meu salário e viver dignamente. Se eu fosse pagar por esse curso, não sairia menos de R$900. E eu não tenho condições pra isso. Fiquei muito feliz com esta oportunidade. Não quero nunca mais ouvir falar em trafico nem em nada errado. Daqui pra frente é estudar, estudar e estudar”, afirmou.

Professores – Para quem acha que construção civil não é lugar de mulher, Valdirene Furtado mostra o contrário. Há cinco anos como instrutora de construção civil do Sesi, ela conta que tem uma longa experiência com a qualificação de recuperandos  e pessoas em vulnerabilidade e acredita que não há melhor forma de resgatar a dignidade de uma pessoa que não seja através da educação.

“Eu acredito muito nesta forma de reeducar, porque eles veem isso realmente como uma segunda chance. Sem falar que eles têm uma gana de melhorar para voltar a ocupar um lugar na sociedade. Não faltam, se dedicam e participam bastante dos cursos”, disse.

O projeto ‘Formar para Socializar’ tem como parceiros o Poder Judiciário de Sorriso, o Senai de Sinop, o Ministério Público, a Prefeitura de Sorriso e a Câmara Legislativa Municipal. A ideia é expandir o projeto para todo o Estado.

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