Considerado um dos maiores produtores de grãos do país, o município de Sorriso já apresenta índice de degradação ambiental em áreas de reserva permanente de aproximadamente 10%. O problema é causado principalmente pela má administração do solo, degradação de nascentes dos rios e desmate de matas ciliares.
Foi justamente com o propósito de combater tais práticas e reduzir a taxa de degradação que a entidade Clube de Amigos da Terra (CAT) lançou, em 2005, o projeto de educação ambiental ‘Sorriso Vivo’. A iniciativa conta com a parceira do Ministério Público Estadual (MPE), representado no município pelo promotor de Justiça Marcos Brant Gambier Costa.
A parceria entre MPE e CAT fundamenta-se principalmente na criação de um ‘disque denúncia’ voltado exclusivamente a reclamações relacionadas ao meio ambiente. Isso irá garantir à população do município um veículo de fácil acesso com o órgão legitimado para a defesa do meio ambiente, analisa o promotor.
Uma das principais propostas é resolver o problema com o reflorestamento de áreas degradadas, principalmente em leitos dos rios. E, concomitantemente à solução do impasse ambiental, entidades parceiras estariam encontrando soluções alternativas para ajudar a resolver problemas sociais, principalmente da juventude. Isso porque o projeto tem como meta a criação de um horto florestal, cuja mão-de-obra será formada principalmente por adolescentes infratores e/ou desocupados.
Além disso, presidiários e trabalhadores temporários que vão ao município à procura de emprego e não conseguem também serão incentivados a aderir ao projeto. Poderíamos utilizar essa mão-de-obra para que as pessoas se sustentem e consigam dinheiro para voltar à cidade natal. Aproveitaríamos também mão-de-obra prisional, de pessoas que preencham os requisitos legais, explica Brant. O horto florestal contempla a produção de mudas para o reflorestamento de matas ciliares (encostas e cabeceiras de rios), bem como a produção de hortaliças e plantas ornamentais.
As plantas serão utilizadas para a ornamentação de espaços públicos, como praças e avenidas. Já as mudas de árvores nativas serão destinadas ao reflorestamento. A produção de hortaliças é um trabalho voltado para garantir alimentação de entidades que necessitem desse tipo de alimento.
Sorriso Vivo
O projeto ambiental prevê a disseminação de práticas de plantio direto entre produtores rurais, principalmente os pequenos. Visa a conscientização da comunidade em geral para a preservação do solo, matas, rios, fim da pesca predatória e caça ilegal de animais. Muitas fazendas locais estão em estado irregular com suas reservas, mas a burocracia de averbação, a falta de conhecimento da tecnologia de reflorestamento e a escassez de sementes de espécias nativas hoje são outros empecilhos que afugentam os produtores da recuperação dessas áreas.
Por informações do CAT, que já vem desenvolvendo o trabalho de conscientização, percebemos que já existe adesão considerável dos produtores, principalmente no que se refere ao plantio direto. Na questão do reflorestamento, é um trabalho que começa a partir do projeto piloto. O horto florestal teria papel fundamental porque conseguiríamos vender, a baixo custo, mudas cuja disponibilidade no mercado é escassa, conta o promotor.
Na área piloto já existe uma infinidade de plantas nativas da região que já foram introduzidas em ambiente adequado para fim de reflorestamento. Esse projeto serve de modelo não só para outros agricultores. Vai render ensejo de mostrar o senso de preservação com a visitação de crianças e adolescentes, acrescenta.
Brant diz que o plantio direto diminui o impacto ambiental gerado pela atividade agrícola, principal fonte de renda do município. Uma das propostas do projeto é difundir a técnica aos demais produtores mato-grossenses. Em parceira com o CAT, queremos incutir nos agricultores a importância de desenvolver esse tipo de agricultura para mitigar o impacto ambiental na prática da agricultura da soja, milho, sorgo, enfim, todos os tipos de grãos. Um dos principais benefícios do plantio direto é a redução em 70% do assoreamento em represas, lagos e rios oriundos de lavouras e pastagens.