O empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, 31, chefe da máfia dos sanguessugas, foi preso hoje pela Polícia Federal, em Cuiabá (MT), por “ocultação e venda de provas” e por “chantagear pessoas envolvidas em crimes”, ou seja, no esquema de venda de emendas ao Orçamento que envolve ao menos 90 parlamentares.
A ordem de prisão partiu do juiz da 3ª Vara Federal de Cuiabá, Cesar Augusto Bearsi, a pedido da PF. “É inadmissível que o réu [Vedoin] disposto a participar de uma delação premiada venha a ocultar provas importantes e ainda usá-las para chantagear as pessoas, vendendo-lhes tais provas”, afirmou o juiz em sua decisão.
A prisão de Vedoin –que estava escondido em um motel de Cuiabá, segundo a PF– ocorreu um dia depois de seu primo Paulo Roberto Trevisan ter sido preso pelo órgão.
Trevisan foi detido no aeroporto de Cuiabá, na noite de quinta-feira, com uma fita de vídeo, um DVD e fotos que registraram evento em maio de 2001, em Cuiabá, onde o ex-ministro da Saúde José Serra, candidato do PSDB a governador de São Paulo, participa de entregas de ambulâncias vendidas por Vedoin a prefeituras.
Vedoin foi encaminhado depois para a delegacia da Polinter, onde já ficou preso quando a PF deflagrou a operação Sanguessuga, em maio deste ano.
Ainda de acordo com a PF, Vedoin mandou entregar o material a duas pessoas em São Paulo que, em troca, pagariam R$ 2 milhões em dinheiro.
Em São Paulo, segundo a PF de Cuiabá, estão detidos o empresário Valdebran Carlos Padilha da Silva e Gedmar Pereira Passos, advogado e ex-agente da PF. Padilha já foi tesoureiro das campanhas eleitorais do PT no Mato Grosso e Passos se apresentou como advogado do diretório do PT naquele Estado. A suspeita é que o material seria “vendido” para eles.
Preso no mês de maio na Operação Sanguessuga, Vedoin estava em liberdade desde o dia 11 de julho, após colaborar com a Justiça no sistema de delação premiada. Em seu depoimento de nove dias, Vedoin revelou o pagamento de propina a parlamentares em troca de emendas ao Orçamento destinadas a compra de ambulâncias.
Esses veículos, adquiridos por prefeituras em licitações fraudadas, eram fornecidos pela Planam e Santa Maria, empresas de Vedoin sediadas em Cuiabá. As revelações do empresário levaram a CPI dos Sanguessugas a pedir a cassação de 69 deputados e três senadores por venda de emendas ao Orçamento.
Em agosto e neste mês, ao dar entrevistas a revistas, Vedoin envolveu novos congressistas que não havia citados nos depoimentos à Justiça e à CPI. Um novo nome adicionado à lista de parlamentares foi o do senador tucano, candidato ao governo de Mato Grosso, Antero Paes de Barros, que nega envolvimento e acusou o empresário de negociar depoimentos.
O superintendente da PF em Mato Grosso, Geraldo Pereira, disse que a prisão de Vedoin foi pedida porque “ele estava sonegando prova e atrapalhando as investigações”.
“Interceptação [escuta] telefônica regularmente decretada gerou entre seus frutos o conhecimento de que Luiz Vedoin está negociando provas, em especial documentos que mantém ocultos”, afirmou o juiz ao decretar da prisão do empresário.
Anteontem, Vedoin entregou novos documentos ao Ministério Público Federal sobre depósitos bancários que seriam comprovantes de pagamento de propina em troca de liberação de verbas no Ministério da Saúde no governo anterior, em 2001 e 2002.
Em uma entrevista à revista “IstoÉ”, o empresário afirmou, ao falar sobre os documentos, que a melhor época para ele foi quando Serra era ministro.
O procurador da República em Cuiabá Mário Lúcio Avelar disse hoje que os documentos não apontam envolvimento de Serra com o esquema da máfia dos sanguessugas.
São Paulo
Padilha e Passos depuseram para a PF em São Paulo. A PF, em Cuiabá, informou que iria pedir a prisão temporária dos dois. Até as 20h desta sexta-feira, os dois continuavam na sede da PF de São Paulo. A Justiça, entretanto, ainda não havia autorizado a prisão deles.
A expectativa é que a autorização seja dada até o final da noite. Não se sabe se eles serão transferidos para Cuiabá ou se continuarão em São Paulo.