O documento, assinado por representantes da Comissão de Educação Escolar Indígena do Território Indígena do Xingu, formada pelas 16 etnias que vivem na região, se posiciona contra o desmembramento do campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em Sinop. Uma Assembleia Geral da Associação Terra Indígena Xingu (ATIX), realizada no dia 02, aprovou a elaboração e divulgação de uma nota pública em defesa da multicampia.
O texto evidencia que o projeto de desmembramento não interessa à população e destaca possíveis impactos e a gravidade das consequências que seriam impostas, caso a separação ocorra. “O posicionamento da ATIX e das demais lideranças reforça que o desmembramento não atende aos interesses coletivos da região, tampouco contribui para o fortalecimento de políticas públicas de longo prazo. Ao contrário, segundo as organizações indígenas e acadêmicas, a proposta fragiliza o compromisso do Estado brasileiro com a interiorização da educação superior e coloca em risco iniciativas essenciais para o desenvolvimento social, científico e cultural do Norte de Mato Grosso. A fragmentação desse modelo, via emancipação, representa um grave retrocesso que nos atingirá diretamente, pois diluirá a força institucional, a capilaridade e o compromisso histórico que a universidade construiu conosco. A emancipação fragilizaria a política de ações afirmativas e comprometeria programas de extensão e pesquisa essenciais, que dependem da sinergia entre as unidades para atuar em nossos territórios”, diz determinado trecho da nota.
Para as comunidades indígenas, a defesa da UFMT multicampi está profundamente ligada ao direito de permanecerem ativos na construção do próprio futuro, em especial nas agendas de formação profissional, produção de conhecimento, sustentabilidade territorial e direitos coletivos. “Nosso posicionamento baseia-se no histórico concreto da UFMT. Há décadas, a universidade tem sido uma aliada na formação de profissionais indígenas e não indígenas, na produção de conhecimento sobre e com nossos povos, e no desenvolvimento de projetos que fortalecem nossas culturas, línguas e direitos territoriais. Essa atuação integrada e multicampi permitiu que a UFMT fosse uma ponte entre o saber acadêmico e o saber tradicional, respeitando a diversidade do estado. A emancipação de Sinop criaria uma instituição voltada prioritariamente para agendas locais e setoriais, inevitavelmente desvinculada da missão estadual e do compromisso histórico com os povos indígenas de todas as regiões de Mato Grosso, nos condenando ao esquecimento e ao abandono pelo poder público federal no estado”, afirma outra parte do documento.
Entre as entidades acadêmicas que têm se manifestado sobre o assunto está a Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind), que tem declarado sua preocupação com os impactos da proposta. Para o diretor da entidade, Gustavo Canale, o cenário é extremamente grave. “Essa carta demonstra a importância da permanência e do fortalecimento do campus da UFMT no município de Sinop. O campus atende uma ampla região composta de importantes municípios como Feliz Natal, Peixoto de Azevedo, União do Sul, Cláudia, Santa Carmem, entre outros. Para além da notória importância do campus para o desenvolvimento de Sinop, também atuamos em assentamentos da agricultura familiar e em territórios indígenas, como a Terra Indígena do Xingu. Qualquer alteração de status deste campus, como o proposto desmembramento, impacta um conjunto de ações da UFMT junto às comunidades mais vulneráveis, dos bairros aos territórios. A Adufmat-Ssind tem afirmado a necessidade de um amplo diálogo entre a comunidade acadêmica para a elaboração de um novo projeto de multicampia, com a manutenção do campus de Sinop na estrutura da UFMT”, disse, através da assessoria da Associação dos Docentes da UFMT.
As 16 etnias que vivem na Terra Indígena do Xingu são: Juruna, Waurá, Kaiabi, Yawalapiti, Suyá, Trumai, Aweti, Ikpeng, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu e Tapayuna.
Conforme Só Notícias já informou, algumas lideranças de Sinop confirmaram uma apresentação do manifesto pró-emancipação do campus de Sinop da Universidade Federal de Mato Grosso na próxima sexta-feira (12), no auditório da União das Entidades de Sinop (Unesin) para definir ações que busquem agilizar o processo junto ao ministério da Educação. Representantes dos poderes públicos e da sociedade civil organizada pretendem criar uma comissão que terá o papel de direcionar as negociações.
Conforme Só Notícias já informou, em outubro, reitora Marluce Aparecida Souza e Silva esteve em Sinop e, em reunião com a comunidade acadêmica, também destacou a necessidade de diálogo entre a academia, lideranças políticas e a sociedade civil, mas ponderou que o desmembramento poderia fragilizar financeiramente a universidade, que também padece de evasão de alunos.
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