quinta-feira, 9/maio/2024
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Policiais mato-grossenses reclamam de "promoções políticas"

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A influência política na nomeação dos oficias da Polícia Militar de Mato Grosso contribui para a desmotivação da corporação. As promoções são realizadas obedecendo 2 critérios distintos, a antiguidade e o merecimento. Para cada 5 oficiais promovidos, apenas 1 consegue ascender por tempo de serviço prestado à PM. Os outros 4 são escolhidos pelo governador do Estado que recebe, para cada posto, o nome de 3 oficiais encaminhados pela Comissão de Promoção de Oficiais da Polícia Militar (CPO). A CPO, presidida pelo comandante geral da PM, coronel Osmar Lino Farias, é composta por 5 coronéis e é alvo de denúncias. Ela se reúne hoje para o procedimento de atribuição de notas.

Para o presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar de Mato Grosso (Assof-MT), coronel Leovaldo Emanoel Sales da Silva, o componente político faz com que oficiais deixem o trabalho de rua e busquem proximidade com políticos, ao invés de terem o reconhecimento por bons serviços prestados à corporação. "É necessário resgatar a instituição. Recompensando bons homens sem que eles tenham que lamber botas de políticos teremos uma polícia melhor".

Algumas promoções chamam a atenção. O major Sandro Barbosa da Silva, ainda capitão, se licenciou da corporação para assessorar um deputado federal. Após seu retorno, foi agraciado com a promoção por merecimento. "Este é um caso que causou grande revolta na corporação. É público e notório que as promoções têm mesmo este componente político", revelou um oficial, atualmente na reserva, que não quis ser identificado.

Outro "atropelo" no processo de promoção de oficiais foi verificado com a major Jane Sousa Melo, que apenas 1 ano após seu interstício, período mínimo que um oficial deve permanecer em seu posto antes da promoção, foi alçada a esta condição, passando na frente de 61 outros oficiais. Ela é esposa do atual comandante geral da PM e prestava serviços no Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

Conforme Sales, as promoções funcionam da seguinte forma, o oficial presta serviços a um político. Após um determinado período, recebe, como "presente", a indicação, feita para a CPO, que ajeitaria as notas atribuídas para garantir o atendimento à solicitação. "Hoje para ser promovido só depende do padrinho", atestou o oficial da reserva.

Nos últimos 8 anos de PM, período em que se intensificou a prática, percebeu nas fileiras praças e oficiais desmotivados, sem condições de exercer o trabalho. "E o resultado disso vemos nas ruas, repleta de policiais de fachada".

Um dos oficiais que aguarda há anos a promoção, e que teve seu posto e identidade preservados devido o medo de retaliaões, resume bem a situação. "No começo, ficava esperando ansioso as promoções por merecimento, por ter ficha limpa e realizar bem o meu trabalho. Agora, nem espero tanto".

Conta que seu caso, conhecido de vários membros da corporação, é apenas mais um em que os interesses políticos se sobrepõem à competência. Para a reunião da CPO de hoje, não esconde uma ponta de esperança. "Vai que os coronéis são iluminados e deixam de lado este tipo de coisa".

Mas informações dão conta que os nomes da promoção do dia 5 de setembro, cuja definição acontece hoje, já estariam definidos e seriam ligados a desembargadores, deputados e coronéis.

Dentro da corporação, existe até uma paródia intitulada "Cajor", junção de capitão com major, que retrata a realidade de dezenas de oficias da PM de Mato Grosso. A música, adaptada da "Dou A Vida Por Um Beijo", de Zezé Di Camargo e Luciano, retrata a dificuldade para conseguir a promoção.

Entre os praças, o problema acarreta em grandes dificuldades na execução das tarefas. Responsáveis pelo trabalho ostensivo da PM, soldados, cabos e sargentos não encontram nos oficiais a liderança necessária. "Que moral tem um capitão que está há vários anos no posto e já nem consegue cobrar a tropa? Nenhuma. Logo, toda a corporação perde a vontade de trabalhar", aponta um praça que não quis ser identificado.

Para colocar fim aos problemas ocasionados pelas indicações, todos os PMs ouvidos foram unânimes em destacar a mudança dos critérios por algo mais objetivo. "Não nos conformamos com esta situação, mas temos nossas limitações. Algo precisa ser feito para que a PM volte a ter sua autonomia e que se preservem os valorosos homens que temos", completa o presidente da Assof.

Fora das ruas – Além dos problemas com as promoções, atualmente existe um alto número de oficiais e praças lotados em órgãos públicos, como o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), a Assembleia Legislativa (AL) e diversas secretarias. Chamados para compor os quadros organizacionais dos poderes, estes oficiais são escolhidos a dedo, que solicita à PM, nominalmente, quem quer nestes postos. "E é este o caminho para a promoção por merecimento que, além de ser nocivo, tira das ruas homens com grande experiência e conhecimento do trabalho policial", ressalta Sales.

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