A Polícia Civil de Mato Grosso investiga 14 deputados estaduais, o prefeito de Rondonópolis, Claudio Ferreira, por suposto desvio de emendas parlamentares do orçamento estadual que pode ter gerado prejuízo de R$ 28 milhões aos cofres públicos na compra de kits agrícolas. A informação foi divulgada, esta manhã, pelo portal UOL. O jornalista Pablo Rodrigo teve acesso a documentos da Operação Suserano, da Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), de setembro do ano passado, que investiga destinação de kits com roçadeira, motocultivador, adubadeira costal e perfurador de solo e que “o secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Alan Kardec também são citados na investigação e que “empresário teria atuado como sócio oculto de uma rede de empresas que foram destinatárias de emendas. Elas foram pagas pelos seguintes deputados: José Eduardo Botelho (União), que na época era presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso; Juca do Guaraná (MDB); Cláudio Ferreira (PL), atual prefeito de Rondonópolis; Doutor João José (MDB); Alan Kardec (PSB), atual secretário de Ciência e Tecnologia da Informação; Gilberto Cattani (PL); Fabio Tardin (PSB); Julio Campos (União); Faissal Calil (PL); Ondanir Bortolini (PSD); Dr. Eugênio (PSB); Wilson Santos (PSD); Thiago Silva (MDB); Dilmar Dal Bosco (União) e Carlos Avalone (PSDB). A Polícia Civil encaminhou a investigação para a Polícia Federal.
A reportagem relata que o “empresário Alessandro do Nascimento é apontado como suposto beneficiado do esquema. Ele seria sócio oculto de empresa que teria recebido dinheiro de emendas parlamentares” dos deputados citados. “A delegada responsável pelo caso, Juliana Rado, solicitou o encaminhamento do inquérito à Polícia Federal no dia 15 de maio” e que o “sobrepreço seria de R$ 10,2 milhões. Os parlamentares foram os autores de emendas que resultaram em 24 termos de fomento assinados pela Seaf (secretaria de Estado de Agricultura Familiar) com o Instituto de Natureza e Turismo – Pronatur para fornecer kits agrícolas comprados com sobrepreço de R$ 10,2 milhões, segundo a investigação”.
Ainda de acordo com o UOL, nas investigações, “o dinheiro dos kits foi pago pelo instituto para a empresada comércio e Representações. Segundo a polícia, a empresa estava em nome de um homem que seria laranja do grupo e trabalhava como treinador de futebol da Associação Atlética e Cultural Nacional, presidida por outro investigado. A associação também recebeu recursos de emendas para o projeto “Craque cidadão” com valor superior a R$ 1 milhão.
Um dia antes de a operação ser deflagrada, Alessandro Nascimento teria descoberto as investigações. Segundo a polícia, ele deixou na casa de um casal de amigos uma caixa, na tentativa de evitar que o material fosse apreendido. A caixa foi entregue pelo próprio Nascimento à Polícia Civil dias depois e foram verificadas anotações com os nomes de deputados estaduais. As anotações trazem os nomes de Eduardo Botelho (União) e Ondanir Bortolini (PSD). “500k Nininho” e “1m Botelho” e, abaixo, “Distribuição e fomento de materiais esportivos para?”, diziam as anotações. Os cadernos que o investigado supostamente tentou esconder também mostram anotações em nome de Dr. Eugênio (PSB), Dilmar Dal Bosco (União), Faissal Calil (PL), Carlos Avalone (PSDB) e Thiago Silva (MDB).
A polícia também identificou que diversos deputados estaduais solicitaram produtos para a empresa no setor de esportes – Eduardo Botelho (União), Juca do Guaraná (MDB), Claudio Ferreira (PL), Doutor João José (MDB), Alan Kardec (MDB), Gilberto Cattani (PL), Fabio Tardin (PSB) e Júlio Campos (União).
Outro lado
Os deputados e demais citados na investigação se defenderam.
Eduardo Botelho: “Nunca participei de nenhuma entrega de obras ou equipamentos durante o período eleitoral. Sempre respeitei a legislação eleitoral.”
Deputado João José afirmou que as emendas “foram indicadas e executadas integralmente com seriedade e transparência, de acordo com a legislação” e “reafirma seu respeito e comprometimento com toda a população do estado, por conseguinte, coloca-se à disposição para mais esclarecimentos, se houver necessidade”.
Claudio Ferreira (ex-deputado e atual prefeito de Rondonópolis): “Ressalta que a destinação da emenda questionada foi feita dentro da devida moralidade e legalidade, sendo que nunca autorizou ninguém a mencionar seu nome. Também afirma que a destinação da referida emenda jamais foi usada com cunho eleitoral, pontuando que cabe agora aos órgãos convenientes fazerem a fiscalização e a comprovação da entrega do serviço”. “Zelo com o bem público, eficiência e princípios constitucionais que regem a administração pública, colocando-se à disposição para quaisquer outros esclarecimentos”.
Gilberto Cattani: “não havendo qualquer envolvimento com atos ilícitos, estando certo de que em eventual procedimento investigatório sua inocência será inconteste”. “Manifesto ainda o apoio a toda e qualquer punição a quem praticar atos criminosos em nosso país, respeitados a ampla defesa e o contraditório.”
Julio Campos manifestou apoio a operação que faz a investigação e “vem através de sua assessoria jurídica, notificar o UOL, que desautoriza o uso de seu nome e imagem, associados a tal operação, uma vez que não foi noticiado judicialmente e desconhece o conteúdo apreendido pela Deecor e que supostamente estaria relacionado à sua pessoa”. Ele afirma que a destinação busca atender áreas da saúde e da educação, e que as destinações a Cuiabá e Várzea Grande acontecem devido à alta densidade populacional e com administrações independentemente de partidos e legendas de oposição.
Diego Guimarães emitiu nota alegando que não destinou qualquer emenda, seja individual ou de bancada, ao Instituto de Natureza e Turismo Pronatur, e que um ofício da Pronatur que solicitava indicação de beneficiários para destinação de kits chegou ao gabinete, mas não houve indicação por ser considerado, pelo gabinete, um equívoco da entidade. “O deputado não indicou entregas, nem participou de qualquer entrega dos kits agrícolas. Como o deputado não destinou emendas, indicou beneficiários ou participou de entregas dos kits agrícolas, fica evidente seu distanciamento do caso.”
O deputado Dr. Eugênio disse desconhecer benefícios de agricultores em período eleitoral. “Não houve destinação de emenda impositiva em ano eleitoral, e desconhecemos que agricultores familiares e/ou pequenos produtores rurais tenham sido beneficiados em período proibitivo, ao que se refere ao projeto do Pronatur”.
Wilson Santos defendeu a destinação de emendas parlamentares, afirmando que tal recurso é previsto na Constituição de Mato Grosso. “A execução dessas emendas inclui o empenho, a liquidação e a compra de bens e serviços, sendo de responsabilidade das secretarias estaduais competentes”. Ele também reforça que eventuais irregularidades devem ser apuradas pelos órgãos de controle, a fim de que sejam devidamente esclarecidas.
Thiago Silva afirmou que cumpriu rigorosamente a legislação eleitoral, e a campanha transcorreu dentro do mais absoluto rigor e estrita observância à lei, e que sob nenhuma hipótese praticou qualquer crime eleitoral, pois não realizou entregas de equipamentos durante o período de campanha, em 2024.
A assessoria do deputado Dilmar Dal Bosco informa que sempre tomou os cuidados legais para não desrespeitar a legislação eleitoral, não participando das entregas de materiais e outros bens em período eleitoral.
Carlos Avallone: a assessoria afirmou que há anos destina emendas para fortalecer a agricultura familiar para contemplar pequenos produtores rurais com kits agrícolas, e que obedeceu fielmente à legislação vigente, com a devida prestação de contas, identificação e assinatura de cada beneficiário. “Não houve entrega de kits em período eleitoral e as entregas feitas pelo deputado foram publicizadas nas redes sociais do parlamentar, para total transparência. O deputado reitera que está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento.”
O secretário Allan Kardec afirmou que não foi notificado em relação a qualquer procedimento investigatório, e que reafirma a lisura das suas relações institucionais enquanto deputado e detentor do direito de indicar emendas parlamentares para aquisição e distribuição de materiais esportivos como forma de incentivar o esporte em Mato Grosso.
O empresário Alessandro Nascimento se defendeu apontando que “a Operação Suserano está em segredo de Justiça; Alessandro do Nascimento não foi indiciado ou denunciado, sequer foi ouvido pela Polícia Civil” e que ele e a empresa de esportes citada “não possuem contratos com o Estado de Mato Grosso e que os Termos de Fomento são com a Pronatur” e uma empresa de Ferramentas. Também relata que a empresa de esportes : não é investigada na Operação Suserano e não foi alvo de nenhuma medida judicial.
O UOL também informa que os deputados Nininho Faissal Kalil, Fabio Tardin e Juca do Guaraná ainda não se manifestaram.