Dos motoristas profissionais que trafegam pela BR-163, cerca de 30% têm mais de 50 anos, enquanto a média trabalhadores em Mato Grosso na mesma faixa-etária é de apenas 14%, conforme a última Relação Anual de Informações Sociais – 2015 (Rais), divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A média nacional de trabalhadores formais acima dos 50 anos é de 17%.
O perfil dos motoristas da rodovia federal que corta Mato Grosso foi levantado pela Rota do Oeste durante as edições do programa Parada Legal do Oeste realizada em 2016 em Cuiabá, Nova Mutum e Sorriso. Ao todo, 2.200 profissionais foram atendidos com serviços de saúde, lazer e educação, além de serem entrevistados para a pesquisa. Os dados coletados pela Concessionária apontam ainda que 68% são casados, o grau de escolaridade de 58% não ultrapassa o Ensino Fundamental, 40% concluiu o Ensino Médio, 64% são mato-grossenses e 49% transportam grãos.
O percentual de pessoas com mais de 50 anos trabalhando como caminhoneiro, na avaliação da economista Suely da Costa Campos, ocorre porque a profissão absorve uma mão-de-obra não aproveitada pelo mercado em decorrência da baixa escolaridade e qualificação para ocupar outros cargos. “A profissão de motorista, embora seja muito importante para o desenvolvimento do país, termina exigindo poucos requisitos. Com isso, as pessoas com idades mais avançadas acabam ocupando essas vagas”.
Os profissionais com mais de 50 anos ainda estão em idade produtiva e encontrar um mercado que acolha essa mão-de-obra é importante tanto para o trabalhador, quanto para a economia do país, como um todo. Vale lembrar que os caminhoneiros desenvolvem uma atividade exaustiva, passam longo tempo longe de casa e exercitam uma profissão de risco.
Outro ponto que contribui para a permanência desse profissional nas rodovias é o amor pela profissão. Muitos caminheiros entram na atividade ainda jovens e encontram na atividade o amor pelas rodovias. Aos 75 anos, sendo 52 anos como motorista, Aido Giroletti conta que sempre gostou de caminhão e viajar, e desde os 23 anos se dedica às estradas do país.
Com o trabalho conseguiu comprar um caminhão, criou os quatro filhos e planeja transportar grãos pelo Brasil enquanto tiver força. “Já estou ficando cansado e até já pensei em trabalhar com outra coisa, mas com o que? Dediquei a vida toda ao caminhão e é o que sei fazer. Minha saúde está boa, dirijo muito bem e conheço esse Brasil todo”.
Para Giroletti, a experiência como motorista faz muita diferença para a segurança de todos que viajam. Pontua que nas cinco décadas como caminhoneiro se envolveu em um acidente e acredita que a quantidade de motoristas de caminhão e carros de passeio inexperientes nas rodovias resulta nos altos índices de acidentes que registrados atualmente. “O pessoal é muito inexperiente, não sabe dirigir direito e não tem paciência. Isso resulta em um monte de acidente, provocado por pura imprudência”.
O caminhoneiro Elton João Alves, 28, herdou a profissão da família e há 6 anos transporta grãos. Revela que sempre atuou na área, mas antes operava máquinas pesadas e decidiu mudar a categoria da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para ganhar a vida nas estradas. “É uma profissão exaustiva, mas sou muito grato a ela. O que tenho devo ao meu trabalho como caminhoneiro. É uma profissão digna e muito bonita, mas infelizmente tem os contratempos”.
Casado e pai de dois filhos, Elton relata que não concluiu o Ensino Médio e pretende voltar a estudar, mas ainda não sabe como conseguirá frequentar as aulas uma vez que precisa viajar.