Dados preliminares do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que, entre os anos de 2014 e 2015, 29 policiais morreram em Mato Grosso em serviço ou não em intervenções violentas. Deste total, 25 são militares e quatro civis. A maioria morreu fora de serviço (20). Segundo a pesquisa, são situações em que estão fazendo "bico" ou de fato folga.
A pesquisa é feita há uma década pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, organização não-governamental constituída em março de 2006 com intenção de levantar dados referenciais que possam subsidiar políticas públicas em prol de mudanças na área.
Os dados da apontam que os policiais assumem uma das profissões mais arriscadas entre as demais da carreira pública. "Toda saída de casa, de manhã, na hora de trabalhar é um adeus, porque a gente não sabe se volta", ressalta o tenente coronel da Polícia Militar Wanderson Nunes de Siqueira, presidente da Associação dos Oficiais da Polícia e Bombeiro Militar de Mato Grosso. Segundo ele, além dos próprios policiais, esposas e maridos, além dos filhos e demais familiares, vivem este drama na rotina.
"É a profissão de grande risco porque a gente trabalha com o inesperado. Você nunca sabe o que vai acontecer ali na frente e, mesmo fora da rotina de trabalho, somos alvos de atentados", ressalta o tenente coronel Wanderson.
Apesar disso, desde 2000, os militares de Mato Grosso não recebem benefício por insalubridade ou periculosidade. "Cortaram isso da gente. A gente reivindica mas a alegação sempre é que não tem como pagar, que não comporta no orçamento. Também cobramos seguro de vida e nada", reclama.
Ainda de acordo com ele, além das mortes, os casos de invalidez também são altos. "O número de inválidos é muito maior do que de mortos. É militar paraplégico, sem braço, sem perna e só conseguem garantir a indenização prevista em nosso estatuto se recorrem à Justiça".
O presidente do Sindicato dos Agentes Policiais Civis (Siagespoc), Cledson Gonçalves, afirma policiais geralmente são alvos de criminosos de alta periculosidade. "Quem mata policial não é bandidinho".
O sindicalista reclama da atuação da Segurança Pública no combate ao crime organizado. "Vejo negligência. Não investigam os integrantes do Comando Vermelho e do PCC, que avançam no Estado e deixam os policiais em situação de vulnerabilidade em serviço e fora de serviço".
Ele lembra o caso do investigador aposentado Benedito da Costa Ribeiro, 55 anos, morto em maio de 2014 saindo de uma agência bancária. "Um dos que participaram do suposto assalto morreu em São Paulo e ficou comprovado que era do PCC. Eles simulam assalto e matam fora de serviço, mas vai saber se o Benedito estava na lista deles, por ter investigado alguma coisa".
Segundo ele, tanto o Comando Vermelho quanto o PCC "trabalham" com o tráfico de drogas e que este tipo de crime leva a outros, como homicídios. "Se o investigador vai atrás, passa a ficar na linha de morte".
A reportagem tentou falar sobre o secretário de Estado de Segurança Pública, Rogers Jarbas, sobre o problema mas ele não deu retorno até o fechamento desta matéria.