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Peritos relatam experiência e aprendizados em acidente com avião da Gol no Nortão

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Em cada perícia realizada, uma nova experiência adquirida. E não foi diferente para os peritos criminais que atuaram no auxílio às investigações sobre a queda do voo 1907 da Gol, que vitimou 154 pessoas em 2006, na região norte de Mato Grosso. Passados dez anos desta tragédia, os aprendizados são para os profissionais o maior legado para a Perícia Oficial e Identificação Técnica. Da Politec, participaram da operação, os peritos criminais, Zuílton Braz Marcelino e Reginaldo Rossi do Carmo.

Na noite do dia 29 de setembro de 2006, os peritos foram informados de que um avião havia desaparecido dos radares e suspeitava-se que poderia ter caído na Região Norte de Mato Grosso. Os primeiros destroços começaram a ser identificados por volta das 9h do dia seguinte, em uma área de mata fechada no município de Peixoto de Azevedo.

Atendendo a um pedido de apoio da Aeronáutica, profissionais das forças de segurança de Mato Grosso já estavam a caminho do ponto base, na fazenda Jarinã, distante 40 quilômetros do município. E se preparavam para o que seria o maior desafio de suas carreiras.

“Durante a viagem à Jarinã, eu não tinha noção do que iria encontrar. Eu fui pensando sobre como proceder e sabia que tinha uma missão, como perito: fazer a coleta dos corpos que necessitariam de identificação por meio do DNA”, lembra Reginaldo Rossi, que hoje é Diretor Geral da Politec.

Foram doze dias de trabalho intenso dentro da Floresta Amazônica, na região de Peixoto de Azevedo, em buscas para a localização das peças do avião, corpos e pertences das vítimas, que estavam depositados em meio à grande quantidade de folhas e destroços. A maior concentração estava a 800 metros, em torno do trem de pouso do avião. 

“Ainda que em uma proporção maior, envolvendo uma grande quantidade de vítimas, conseguimos aplicar os conceitos da Criminalística na análise dos vestígios. Os corpos e os destroços do avião, além da análise dos danos do Legacy que se chocou com o Boeing, eram os únicos elementos a serem estudados, e que nos levaram compreender o que havia acontecido’’.

Naquele momento, todas as forças de segurança estavam imbuídas em uma mesma missão: identificar as vítimas e devolver os corpos às famílias. “A cooperação mútua em torno de um objetivo comum proporcionou a sinergia necessária, fazendo com que as vítimas fossem encontradas e identificadas muito rapidamente’’, notou o perito Zuílton Braz Marcelino. 

À medida em que os corpos fossem encontrados, eram  embalados e içados por avião cargueiro da Aeronáutica até a fazenda Jarinã, onde médicos legistas e odontolegistas faziam os exames, e os papiloscopistas, a identificação pelas digitais. No mesmo processo, o perito criminal da Politec, Reginaldo Rossi do Carmo fazia a coleta de DNA das vítimas. Em seguida, os corpos e pertences eram embalados, etiquetados e recolhidos em um caminhão frigorífico até que fossem transportados por avião até Brasília (DF).   

“No campo profissional aprendi a valorizar tudo o que aprendemos e a importância da integração. Presenciei um trabalho muito bem coordenado, de logística eficiente da Aeronáutica e do Exército, de gestão dos proprietários da fazenda, onde todo suporte necessário aos profissionais estavam disponibilizados. Também o empenho do Corpo de Bombeiros, Polícias Civil e Militar, médicos legistas, peritos e papiloscopistas do Distrito Federal, além de agentes da Polícia Federal. Depois deste acidente aprendi que nenhuma ocorrência, por mais simples que pareça nunca deve ser subestimada, e que todas elas precisam de um olhar apurado para podermos enxergar as evidências e produzirmos um trabalho de qualidade’’.

Para o diretor geral da Politec, Reginaldo Rossi, a experiência vivida naqueles dias ensinou muito à Segurança Pública de Mato Grosso. “Ficou a lição de que nós, profissionais de segurança, temos que estar organizados e capacitados para, quando ocorrer um evento de grande porte como este, nós podermos dar a resposta mais eficiente possível”.

Fruto da experiência adquirida na operação, a Politec normatizou em maio de 2014 o Plano de Ação para Identificação de Vítimas de Desastres em Massa (DVI), tendo como base o modelo adotado pela Interpol e pela Polícia Federal.

O plano possibilitou a criação de parâmetros para a adoção de procedimentos que possam servir como manual de consulta e de orientação aos profissionais envolvidos nos atendimentos de eventos com grande número de vítimas, como em casos de acidentes aéreos.

Estão previstos no Plano, a designação e a logística para o deslocamento de equipes, de equipamentos e insumos, a coleta de materiais genéticos nos locais de acidente, a garantia da segurança biológica além de treinamentos específicos aos peritos e outros profissionais envolvidos diretamente no fato.

Também foi apontada pela a equipe de elaboração a necessidade de disseminação do tema entre os profissionais da Segurança Pública, a inter-relação dos órgãos que atuam em cenário de desastre, e a importância de se realizar simulações envolvendo todas as instituições.

“O planejamento é necessário para que o Estado tenha expertise e autonomia para agir em situações drásticas, contribuindo de forma eficaz para o esclarecimento dos fatos e à redução do sofrimento das famílias das vítimas’’, afirmou o diretor geral da Politec.

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