A Comissão Pastoral da Terra em Mato Grosso (CPT-MT) denunciou, no lançamento do caderno "Conflitos no Campo Brasil – 2015", em Cuiabá, esta manhã, que 17 pessoas estão ameaçadas de morte. Todas são moradoras de municípios do Nortão e estão envolvidas em disputa por terra.
O coordenador da CPT-MT, Cristiano Cabral, disse que o Estado não faz nada para preservar a vida dessas pessoas e resolver estes graves conflitos que em 2015 impactaram na vida de 1.278 famílias sem-terra, 1.643 assentadas, sendo 1.090 despejadas, muitas vezes por pistoleiros.
Um dos casos é de uma fazenda, no município de Novo Mundo. Somente deste conflito sete estão ameaçados de morte, entre eles três homens e duas mulheres, lideranças de um acampamento que soma cerca de 100 famílias. Uma das famílias é do lavrador J.T.O., de 54 anos. Ele conta que, desde 2009, essas famílias reivindicam a posse de 14.639 hectares da União e que um fazendeiro paulista "grilou".
"Entramos nessa área, que ele acha que é dele, há sete anos. No início ele mandou queimar 60 barracos. Daí construímos nossas casas e eles queimaram 80, inclusive a minha, mesmo assim estamos lá. Hoje eu moro, com a mulher e dois filhos, de 20 e 18 anos, em uma barraca de lona".
Um vídeo mostra a ação de pistoleiros, em fevereiro deste ano, que invadiram o acampamento e expulsaram as famílias, ameaçando-as com tiros para o alto e outras formas de tortura. O lavrador J.T.O. conta que, como forma de pressão, jogaram gasolina na roupa de um menino de menos de 3 anos e disseram que ateariam fogo no menino, na frente da mãe dele. Outras quatro crianças também estão traumatizadas com essa situação. "Levei o caso ao conhecimento do delegado em Guarantã do Norte", afirma o lavrador.
A disputa tramita na Justiça Federal de Sinop. Em uma audiência sobre o assunto, um dos quatro advogados do fazendeiro lamentou os prejuízos que ele estaria tendo com esta situação, dizendo que ele está gastando até R$ 12 mil com pistolagem para afastar os "intrusos". "O que surpreendeu é que nenhuma das autoridades presentes disse qualquer coisa. Se fosse um de nós, já sairíamos de lá presos", lamenta o coordenador da CPT-MT.
Analisando os dados do caderno Conflitos no Campo Brasil – 2015, ele afirma que proporcionalmente Mato Grosso lidera o ranking dos estados mais violentos e em segundo está o Pará.
O medo de morrer atinge também antropólogos e outros profissionais que lidam com a questão indígena. Um deles contou ao Gazeta Digital que já teve que se mudar várias vezes, para fugir das ameaças em áreas onde o poder de madeireiros, pecuaristas e agricultores é muito grande.
"Eles abominam as demarcações, querem terra para tirar madeira, muitas vezes ilegalmente, depois plantar e criar gado, é o ciclo do dinheiro", denuncia, sem se identificar por motivo de segurança.
Um dos conflitos envolve indígenas que vivem isolados e nômades nos limites de Cotriguaçu, que aparece com frequência em primeiro lugar na lista dos municípios brasileiros mais violentos. São os Kawahiva. Eles foram poucas vezes visualizados, são cerca de 15 apenas e foram contemplados com a demarcação da terra deles, nos últimos dias do mandato da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).
Ela assinou o decreto, mas a área ainda não está demarcada de fato. Há notícias de que um grupo de madeireiros já encomendou a morte do pequeno grupo indígena, que, por enquanto, está conseguindo se esquivar.
Tanto o conflito entre os donos da fazenda Araúna e as famílias lavradoras, quanto o conflito entre os madeireiros e os Kawahiva, ficam em áreas de floresta amazônica.