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Padre assassinado em MT tem certidão de óbito revisada como violenta e causada pelo Estado

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Só Notícias/Wellinton Cunha (foto: reprodução)

O sacerdote jesuíta João Bosco Penido Burnier teve a certidão de óbito revisada, pelo governo brasileiro, há poucos dias. O documento explicita que ele e mais 62 pessoas tiveram “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964”. O padre morreu em 12 de outubro de 1976, dia de Nossa Senhora Aparecida, em Ribeirão Bonito, atual município de Ribeirão Cascalheira (750 km de Cuiabá). Ele tinha 59 anos.

Conforme relatório da Comissão Nacional da Verdade, no dia 11 de outubro de 1976, o padre João Bosco Penido Burnier acompanhou o bispo Dom Pedro Casaldáliga à delegacia de polícia, onde, após alguns minutos de “tensa conversa”, foi alvejado com dois tiros na cabeça por agente do Estado, e morreu no dia seguinte. Burnier morreu sendo fiel ao Evangelho de Jesus Cristo, defendendo os fracos, os pobres quando foi a delegacia pedir justiça diante dos atos de tortura de duas camponesas, aponta o Instituto IHU Humanitas/Unisinos. Burnier permanece sepultado no seminário menor Jesus, o Bom Pastor, em Diamantino. Desde 2019, seguindo o instituto, bispos estão oficialmente articulando com a Companhia de Jesus os processos de declaração de santidade de Padre Burnier e do irmão jesuíta Vicente Canãs (martirizado na sua casa perto dos Enawenenawe) em 1987.

O relatório contextualiza que “uma semana antes havia ocorrido o assassinato do cabo Félix Pereira de Castro, muito conhecido pelos atos de violência que praticava. Sua morte revoltou as forças policiais da região, que reagiram perseguindo e torturando os suspeitos pelo crime e seus familiares”. “O objetivo da visita dos religiosos à delegacia era interceder por três pessoas que, após terem sido presas sem mandado judicial ou flagrante delito, estavam sendo torturadas”. “O padre Burnier comunicou aos soldados que informaria à hierarquia das forças de segurança sobre as arbitrariedades que estavam sendo cometidas ali. Como resposta, foi agredido com uma bofetada pelo soldado Ezy Ramalho Feitosa, que ainda o atingiu no rosto com o revólver e desferiu-lhe um tiro. Gravemente ferido, o religioso foi internado no Instituto Neurológico de Goiânia, mas não resistiu e faleceu”.

Diante das investigações realizadas, o relatório concluiu que o pároco morreu em decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro, em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela ditadura militar, implantada no país a partir de 1964. O Governo Federal admitiu oficialmente, em dezembro de 2009, por meio da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que a morte de Burnier havia sido crime político. 

No ano passado, o auditório da sede do Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso, em Cuiabá, foi nomeado em homenagem ao padre jesuíta. A Companhia de Jesus homenageia Burnier com o Centro MAGIS Burnier, sediado em Brasília e com ações em todo país, obra apostólica da companhia dedicada à formação, acompanhamento, articulação e irradiação do trabalho com jovens, em total comunhão com o Programa MAGIS Brasil. A missão é acolher as juventude e colaborar em seu processo de formação integral, através de experiências de autoconhecimento, de amadurecimento da fé e de compromisso com a sociedade.

Mineiro de Juiz de Fora, nascido em 1917, Burnier concluiu a sua formação no Seminário Maior em Roma, na Itália, tornou-se padre secular e cursou o mestrado em Filosofia e Teologia. Retornou ao Brasil em 1954, foi assistente para a América Latina da Companhia de Jesus (Jesuítas). Entre 1958 e 1965, foi mestre dos noviços e diretor espiritual dos juniores. Como missionário da Prelazia de Diamantino, atuou na defesa das populações indígenas e dos trabalhadores rurais. Em meados da década de 1970, viveu no norte de Mato Grosso, onde atuava junto aos índios das etnias Beiços-depau, Bakairi, Merure e Bororo. Em 1976, ano de sua morte, desempenhava a função de coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

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