A escavação promovida em um terreno na avenida Mato Grosso, em Cuiabá, comprometeu a estrutura de sete imóveis da região e parte do terreno de um deles pode desabar a qualquer momento. Uma das casas já caiu e a obra terminou sendo interditada pela Defesa Civil municipal em dezembro passado. No final de semana, os moradores foram notificados a deixarem as residências diante dos riscos de deslizamentos de terras.
A construção no terreno começou há dois anos e os proprietários das casas relatam que desde o começo buscaram órgãos municipais competentes e até mesmo a Polícia na tentativa de barrar os trabalhos da construtora, uma vez que as casas passaram a apresentar muitas rachaduras. O técnico em eletrônica Mariano Jackson de Carvalho, 52, contabiliza três boletins de ocorrência denunciando os impactos da obra em seu imóvel, quatro protocolos de reclamações no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT), um laudo da Defesa Civil de Cuiabá e uma notificação à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano. Move ainda um processo na Justiça. A casa dele fica ao lado do terreno em construção e sofreu todos os impactos da obra.
Na última chuva, parte do solo abaixo do muro lateral cedeu e o risco de queda é certo, segundo a Defesa Civil. “Já soltamos os cabos de energia que ficavam ligados ao muro para não corrermos o risco de comprometer a casa, caso o muro caia”. O muro dos fundos apresenta várias rachaduras com mais de cinco centímetros, parte do piso da área externa também trincou, alguns pontos construídos apresentam descolamento de solo e a piscina foi afetada por um procedimento adotado pela construtora para estruturar a obra. Para dar sustentação à área escavada, foi injetado cimento no subsolo para criação de tirantes. “Quando começaram a furar o terreno na horizontal para colocar ferro e concreto, tremeu a casa toda. Parecia que ia cair”, conta Maria Catarina Silva Carvalho, 47, esposa de Jackson.
Outros problemas apareceram ao ser injetado o cimento, que “brotou” no terreno. A parte inferior da piscina também ficou prejudicada. Outro questionamento da família é sobre os tirantes que foram feitos sem autorização. Quando os proprietários do imóvel reclamaram, foram informados por funcionários da construtora que o subsolo não pertence a ninguém. “Se quisermos vender e o futuro proprietário tiver interesse em construir não vai poder, porque vai comprometer a estrutura do prédio, que foi fixada no nosso terreno?”, questiona Maria Catarina.
Apesar de todos os problemas, a família afirma que não vai sair da casa, por enquanto. Como o terreno do imóvel é inclinado, Jackson e Maria Catarina acreditam que a parte da frente deve ficar interditada, caso haja o desabamento do muro. E pensam na estratégia para sair da casa: quebrando o muro dos fundos. Coordenador da Defesa Civil de Cuiabá, Oscar Amélito confirma que as famílias foram notificadas a deixarem os imóveis, porém não podem ser obrigadas. Para ele, a queda do muro e de parte do terreno é certa e pode provocar certo pânico. Mas não acredita que a casa seja afetada. “Estou fiscalizando o local diariamente. Se chover, o muro vai cair com toda certeza”.