Mato Grosso tem apenas 3 anos para aumentar em 70% o efetivo do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar (PM) e Polícia Judiciária Civil (PJC) para preencher uma das exigências da Fifa para realização da Copa do Mundo, a garantia de segurança à população, visitantes e autoridades. Além disso, aumentar a estrutura física, modernizar o atendimento em delegacias e articular os segmentos de segurança. Mas, até o momento, nenhuma mudança começou a ser feita. As principais construções, o Centro de Comando e Controle, ainda nem estão no papel, e o 10º Batalhão da PM, aguarda por previsão de recursos no orçamento.
O professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Edésio Cardoso Carvalho, 70, conhece bem o entorno da Arena Pantanal, onde está sendo erguido o estádio do Verdão. Há 20 anos morando a um quadra de onde serão realizados os jogos, Edésio convive com a falta de policiamento. É difícil encontrar agentes em atividade ostensiva e sem um incremento, diz ser difícil acreditar na realização do evento.
Um comerciante, 65, que prefere não se identificar, cobra mais oficiais nas ruas, mas antes disso, uma seleção criteriosa. Ele relata o comportamento corrupto de alguns agentes como forma de ordenar o movimento do tráfico de drogas e armas em período próximo aos eventos e que se intensificarão durante os jogos.
Em ação – Um planejamento estratégico específico na área é essencial para garantia da segurança das pessoas durante o evento, diz o sociólogo e coordenador do Núcleo Interinstitucional de Estudo da Violência e Cidadania (Nievici) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos da Costa. Cursos especializados em antiterrorismo e de línguas estrangeiras são importantes, mas o que o pesquisador destaca é a necessidade urgente de aumento de efetivo. Hoje o Estado funciona com número de pessoal abaixo do recomendado e a inserção de pessoal demanda processo seletivo e formação, graduação, um processo, que leva tempo.
Com o efetivo completo, Naldson ainda destaca para a necessidade de atividades proporcionais à demanda de um evento de grande porte. "A previsão é haver refluxo da violência, porque terá mais policiamento na cidade. Mas, não se pode descuidar das fronteiras. Grandes eventos têm grande potencial para venda de drogas".
No papel – A PJC tem hoje efetivo de 2,7 mil policiais e pretende atingir 4,2 mil até a Copa, contabiliza o diretor-metropolitano, Marcos Veloso. Baseado na quantidade prevista hoje, que é de 5,6 mil, o déficit ainda continuaria em 1,4 mil. "Não é o que sonhamos, mas vamos utilizar todo o efetivo". No momento, 375 policiais se preparam para ingressar na academia no dia 22 de junho. A meta é realizar o concurso público este ano e formar gradativamente os policiais até dezembro de 2013.
Veloso diz haver expectativa grande em relação às melhorias na estrutura. O Mosaico 14, estrutura montada na PJC para tratar dos assuntos referentes ao evento, prevê "repaginação" do Grupo de Operações Especiais (GOE), responsável pela inteligência. Em engenharia, os projetos envolvem a montagem de um Atendimento Especial ao Turista no aeroporto em Várzea Grande, na Rodoviária de Cuiabá e outros espalhados pela cidade, que funcionarão como uma mini delegacia. Novas delegacias são previstas em Cuiabá, Várzea Grande e outras 3 nas cidades de Chapada dos Guimarães, Poconé e Santo Antônio do Leverger. É planejada também a criação de uma Delegacia da Criança e Adolescente na Capital com foco no combate à exploração sexual.
O policiamento ostensivo e preventivo sob responsabilidade da PM tem o maior efetivo no Estado. Conta com 5,9 mil policiais, segundo o comandante geral Osmar Farias. A previsão é abrir mais 4 mil vagas para ingresso na corporação por meio concurso. Atualmente, mil soldados e 120 oficiais estão em treinamento. Somando o efetivo atual com os futuros ingressos, o número ainda não atingiria a estimativa ideal para atender a população mato-grossense em 2014, que é de 12 mil policiais. O comandante da PM diz que ainda faltariam mil, mas afirma que 11 mil policiais serão suficientes para assumir o policiamento.
De estrutura, a PM deverá ter a construção do 10º Batalhão na região da Arena. Mas, no momento ela ainda aguarda por recursos. Somente a partir da nova legislação orçamentária em 2012 ela estará garantida, diz Farias. Há expectativa também para construção de mais 20 bases comunitárias entre Cuiabá e Várzea Grande.
Socorro – Os trabalhos de prevenção e combate à incêndio, controle do pânico e socorro à população será desempenhado pelo Corpo de Bombeiros. Mas, o órgão necessita de estrutura física e pessoal para colocar o plano em prática. O diretor operacional do órgão, coronel Julio Cezar Rodrigues, prevê construção de 14 unidades em municípios, como Chapada dos Guimarães, Nobres, Poconé e Santo Antônio do Leverger ao custo orçado de R$ 2,5 milhões cada. Investimento que ainda terá que ser negociado entre os Estados, municípios e iniciativa privada.
Projeto do Corpo de Bombeiros é para inclusão de, no mínimo, mais 1,4 mil bombeiros para preencher parte do déficit. Hoje são 994 bombeiros, sendo que o previsto em lei são 3.995. A oferta de pessoal é condição até mesmo para a abertura de estabelecimento e realização do evento. O coronel lembra do requisito de aprovação de projetos de combate à incêndio e pânico para liberação de alvará, que terá a demanda aumentada com a proximidade da Copa.
Forças externas – Além da segurança coordenada pelo governo estadual, a Polícia Federal (PF) fará parte dos trabalhos antes e durante o evento. Delegado da PF de Mato Grosso, Erick Ferreira Blatt, diz que será um trabalho integrado e dá como exemplo a realização dos Jogos Pan-Americanos. Como subcoordenador do evento carioca, explica que há deslocamento de efetivo de outros estados para reforçar os locais onde ocorrem os jogos. Há previsão de concurso público, mas sem data definida e o envio de policiais de outros estados deverá acontecer, aumentando em até 40% o efetivo. Hoje existem cerca de 300 policiais federais no Estado. A PF terá a função de escoltar as delegações, dar segurança aos dignitários – autoridades estrangeiras e brasileiras, e atuar em prevenção e combate a atentados.