O pediatra brasileiro Mohamad Kassen Omais, 45 anos, que ficou preso durante sete dias no Líbano e foi solto nesta sexta-feira, falou à BBC Brasil sobre o pesadelo que viveu na prisão. “Quando o juiz libanês comunicou que eu estava sendo liberado e que ele acreditava que eu era inocente, eu me senti muito aliviado. Tive vontade de chorar”, disse o brasileiro, sentado em uma sala na casa de seus pais, na cidade de Qaraaoun, no Vale do Bekaa, ao lado dos três filhos e da mulher, Gisele do Couto Oliveira.
O médico havia sido acusado de “adulteração de seu passaporte libanês” e estava sendo investigado por uma possível relação com atividades terroristas. Omais foi preso no dia 15 de fevereiro quando desembarcava, juntamente com a mulher, no aeroporto de Beirute. O casal foi ao Líbano para buscar os filhos, que estavam em férias com os pais de Omais desde dezembro do ano passado.
As autoridades libanesas acusavam o brasileiro de adulterar seu passaporte libanês, e as Forças de Segurança Internas (FSI) também investigavam sua relação com terrorismo.
Pressão
“Na prisão, embora não tenha sofrido agressões físicas, eu fui alvo de muita pressão emocional e psicológica”. Omais contou que os oficiais o interrogavam em árabe, dificultando as respostas dadas por ele, uma vez que não domina totalmente o idioma. “Por um momento eu achei que iria sucumbir, mas lembrava da minha família e logo ficava mais forte”.
O caso de Omais envolveu até o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, que conversou na quinta-feira, durante encontro em Buenos Aires, com o ministro de Justiça do Líbano, Charles Rizk, pedindo sua intervenção no caso. “Agora tudo o que quero é voltar ao Brasil e esquecer tudo isto, continuar minha vida pessoal e profissional”, disse Omais.
Primo
O médico disse que foi informado pelas autoridades de que seu passaporte teria sido adulterado. “Eu confirmei que o passaporte era meu e que reconhecia a pessoa na foto. Era um parente meu, o meu primo”.
Fontes das forças de segurança já haviam dito à BBC Brasil que o primo do médico trata-se do também brasileiro Zuheir Omais, que estaria sendo procurado pelas autoridades libanesas e residiria atualmente no Brasil. O primo teria usado o passaporte do médico para viagens à Síria que, segundo policiais libaneses, estariam relacionadas com atividades terroristas.
“Eu usei meu passaporte libanês por duas vezes apenas, quando eu morei aqui no Líbano por um curto período e viajei à Síria”, disse Omais. O brasileiro não soube explicar como seu passaporte, que foi deixado com os pais quando voltou a morar no Brasil, foi parar nas mãos do primo Zuheir Omais. “Essa é uma pergunta que simplesmente não tenho uma resposta para dar, não sei como foi acontecer”, disse.
Imagem negativa
Omais confessou que sente um certo receio em relação a sua volta, neste dia 28, para Cuiabá (MT), onde reside. “Da noite para o dia fiquei com uma imagem negativa. Tenho medo de como as pessoas vão me ver, como vão se referir a mim”.
“Por ter origem árabe, já estou marcado como terrorista, e acho que levará um tempo até superar esta imagem negativa que caiu sobre mim”, disse.
Segundo a mulher, durante os dias que seu marido estava preso os dois filhos mais velhos sabiam do que estava acontecendo. “O mais velho sempre foi otimista com a libertação e inocência do pai, mas o outro ficou até doente, sentiu o efeito do episódio”, disse Gisele. “Temos medo de como nossos filhos serão tratados no Brasil por causa de toda esta repercussão”.