Apesar de ter reduzido em quase 60% a incidência de queimadas em 2008, Mato Grosso ainda apresentou 74.414 focos de calor ao longo do ano, segundo monitoramento por satélites termais realizado pelo Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam). O dado foi divulgado na reunião Pré-seca, realizada ontem e hoje em Cuiabá. Na maioria das vezes, as queimadas acontecem para preparar o solo e limpar o terreno, mas constituem crime ambiental quando realizadas sem autorização e sem levar em consideração técnicas de controle, causando incêndios florestais e queimadas descontroladas. Além disso, o fogo, sobretudo em áreas de floresta, elimina a vegetação e permite a incorporação da área a atividades econômicas, muitas vezes ilícitas.
Mato Grosso, por ser o Estado que sofre maior pressão ambiental devido ao desenvolvimento da agropecuária, segue à frente dos outros analisados no estudo do Sipam. O Acre registrou 1.933 pontos em 2008, enquanto Rondônia teve 14.157 focos. A boa notícia é que as ocorrências retomaram a tendência de redução observada nos anos anteriores a 2007.
A época seca em outubro é escolhida para a realização de queimadas por favorecer a propagação do fogo na vegetação. Por isso, o auge da seca, de agosto a outubro, corresponde a 81% das queimadas anuais. Elas ocorrem em maior parte no centro e no nordeste do Mato Grosso, em municípios como São Félix do Araguaia e Nova Maringá. Mas, quando estabelecida relação entre o tamanho do município e o número de focos de calor, Luciára, Itanhangá e Alto Boa Vista despontam como os que mais queimam. Já o Parque Estadual Encontro das Águas se destacou negativamente entre as unidades de conservação. No local, o número de ocorrências aumentou quarenta vezes.
Cerca de 1/3 dos acontecimentos de focos de calor se deram em áreas já desmatadas, outros 33% em áreas sem floresta ou de cerrado. Já 26% ocorreram em áreas de floresta nativa, o que revela que essas áreas estão sendo ameaçadas. O agronegócio, característico no estado, embora reduza o fogo por utilizar processos mecanizados, desencadeia novos fluxos migratórios e contribui para a pressão sobre as áreas que necessitam ser preservadas.