Mais de 80% dos desabrigados em decorrência de desastres naturais na região Centro-Oeste são de municípios de Mato Grosso. O Estado é o que apresenta o maior número de cidades atingidas por alagamentos, enchentes e erosões da região. Dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) 2013, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ontem, mostram que nos últimos 5 anos, em mais de 100 municípios estes eventos naturais foram registrados. Além das condições geográficas de Mato Grosso, outro fator que contribui para este índice são as ocupações irregulares em grande parte das cidades.
De acordo com o professor e coordenador do mestrado em recursos hídricos do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Prudêncio de Castro, é alta a suscetibilidade a erosões, movimentos de massa e inundações no solo do Estado. Prova disso é a quantidade de municípios afetados por desastres naturais. Das 271 cidades atingidas por enchentes ou inundações graduais na região Centro-Oeste, cerca de 43% são de Mato Grosso.
“No Estado, são muitas as cidades situadas em regiões ribeirinhas, localizadas próximas a áreas inundadas. É bastante comum que uma área que fique de 10 a 15 anos sem registro de inundações, passe a ser ocupada pela população. Porém, sendo uma área propícia, em algum momento ela passará pelas cheias”.
Para o professor, a cada ano Mato Grosso fica um pouco mais sujeito a ocorrência de desastres naturais. Ele explica que entre as principais razões está o fato de grande parte das cidades estar em forte crescimento populacional, o que gera ocupação e desgaste do solo. O problema, segundo Castro, é que em muitas dessas áreas fortemente ocupadas, as condições geográficas não são favoráveis.
“Muitas cidades cresceram sem um planejamento adequado. Em sua maioria, a população mais pobre, por exemplo, acaba indo para as regiões de maior risco, como beiras de rio e áreas de declínio. Infelizmente, o que sobra para estas pessoas são justamente os terrenos mais perigosos e onde os desastres naturais acontecem”.
Segundo dados do IBGE, nos últimos 5 anos, 21.325 pessoas ficaram desalojadas ou desabrigadas em 17 cidades de Mato Grosso. A pesquisa aponta ainda que as enchentes e inundações atingiram mais de 1,8 mil edificações, entre imóveis comerciais e residenciais. Em relação aos alagamentos, os números apresentados citam 31 municípios afetados no Estado, dos 88 da região Centro-Oeste.
Outro dado do estudo diz respeito à quantidade de cidades consideradas “naturalmente inundáveis”. Em Mato Grosso, são 12 municípios classificados nesta categoria. Segundo Castro, são diversas as áreas de risco no Estado. Ele indica como uma das principais, a região metropolitana de Cuiabá devido à alta concentração populacional e de municípios. De acordo com o professor, a região é sujeita a inundações também por fazer parte do território do Pantanal.
“Temos a Depressão Cuiabana, com municípios que têm águas desaguando no Pantanal. Próximo a Capital, tem Chapada dos Guimarães, com alta propensão a deslizamentos e erosões. E Mato Grosso tem ainda uma grande faixa de cidades cercadas por montanhas e serras”.