O déficit de militares no Corpo de Bombeiros é de 282% em Mato Grosso. A instituição, que teve um aumento de 42% nos atendimentos, em relação ao ano de 2009, tem 994 servidores, enquanto o ideal é 3,8 mil. A carência de profissionais também pode ser vista na quantidade de unidades. Apenas 17, dos 141 municípios do Estado, possuem batalhões ou companhias.
Os batalhões de Cuiabá e Várzea Grande, por exemplo, atendem outros 14 municípios da Baixada Cuiabana. Eles atuam nos casos envolvendo incêndio, afogamento, desastres naturais, atropelamentos, animais peçonhentos, deslizamentos e principalmente socorro médico, que foi responsável por grande parte da demanda.
O comandante do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros, coronel João Rainho Júnior, explica que no último ano, a instituição recebeu parte da demanda do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Um dos casos foi na frente da Câmara Municipal de Cuiabá. A vítima teve um mal súbito e perdeu a consciência no meio da rua. A população ligou para o Samu, mas os atendentes informaram que era para alguém pegar a mulher, colocar no carro e levar para o Pronto-Socorro.
Uma profissional da área de saúde estava no local e resolveu ligar para o Corpo de Bombeiros, porque a situação para remoção era inviável. Quando os militares chegaram, foram aplaudidos pelas pessoas que estavam no local.
A demora em outras situações, como as de atropelamento, acidente de trânsito, queimaduras e ferimentos, faz com que as estatísticas dos bombeiros tenham aumento significativo.
Somente os casos de atendimento médico resultaram em 18.227 ocorrências, o que representa 43% em relação ao total registrado em 2010, que foi 41.808 atendimentos.
Conforme Rainho, no ano de 2009, houve a mudança do atendimento médico de emergência, que antes era Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate), coordenado pela instituição. O trabalho passou a ser chamado de Samu e coordenado pelo Estado. Desde a transferência, existem apenas 2 ambulâncias na região metropolitana do Corpo de Bombeiros. Elas são reservas para outras cidades do interior, onde a assistência tem atendimento compartilhado entre os militares e demais servidores estaduais.
Uma está no Batalhão de Cuiabá e outra em Várzea Grande. Elas acabam usadas para fazer os atendimentos. O problema é que quando uma unidade do interior precisa de manutenção, os veículos são encaminhados, deixando a Capital sem assistência.
O valor do trabalho na Capital fica a cargo do orçamento da instituição, já que não estão cadastrados para receber o recurso do Sistema Único de Saúde (SUS).
Cronograma – Durante o período de estiagem, o trabalho do Corpo de Bombeiros fica focado nos casos de afogamento e queimadas, principalmente as florestais. No ano passado, o serviço foi intenso e muito desgastante. Rainho conta que as equipes precisaram ficar semanas no meio da floresta e fazendo revezamento para controlar as chamas. Além dos desgastes dos profissionais, muitos equipamentos acabaram danificados, como mangueiras, abafadores e fardas.
As ocorrências de afogamento também foram comuns, principalmente na Passagem da Conceição, em Várzea Grande. As pessoas procuram a beira do rio para aliviar-se do calor e acabam entrando na água sem nenhum critério de segurança. Alguns bebem muito e perdem a capacidade física de nadar. A situação melhorou após 1 bombeiro ficar de plantão na praia durante os finais de semana. "O ideal é ter uma pequena companhia no local, mas não há pessoal".
Rainho relata que o grande problema é a falta de bombeiros. Muitos equipamentos foram comprados pelo governo do Estado no último ano, como escadas, caminhões e equipamentos. A perspectiva é que a questão do pessoal seja solucionada até 2014, quando acontecem os jogos da Copa do Mundo de 2014 e Cuiabá é uma das cidades-sede. O coronel conta que existe o compromisso de serem realizados vários concursos públicos até o quadro ser completo.
Risco – No período de seca, as ocorrências são centralizadas nas áreas de risco. As enchentes e demais catástrofes precisam de atenção da instituição, que também participa efetivamente da Defesa Civil Estadual.
Como o Corpo de Bombeiros não está em todos os municípios, o socorro acaba demorando. Outra dificuldade é a falta de Defesa Civil Municipal, que na maioria das cidades é instalada após uma catástrofe.
Vistoria – Uma das funções mais requisitadas do Corpo de Bombeiros é a vistoria em imóveis e comércios. Apesar de ter o poder de liberar ou não um alvará, a instituição não tem amparo legal para fazer a interdição. Rainho assegura que a lei existe, mas precisa ser regulamentada no Estado, como acontece no resto do país. Para isto, o governo tem o projeto de um decreto, que ainda não foi publicado.
Apenas no ano passado, foram 4.156 vistorias realizadas. Mesmo não tendo condições de interditar um estabelecimento, qualquer problema que aconteça no local devido a falta de estrutura acaba resultando em atendimento, alguns casos incluem vítimas.
Prevenção – No campo da prevenção, os bombeiros são responsáveis por cursos e participam de eventos com grande aglomeração de pessoas. As 2 ambulâncias reservas são usadas em eventos, alguns deles realizados pela própria instituição.
Rainho conta que o curso de mergulho, por exemplo, está entre os melhores do país. O Estado recebe alunos de outros locais e forma um militar capaz de retirar vítimas de ferragens até debaixo d"água.