Mato Grosso tem, atualmente, 113 pessoas marcadas para morrer. Apenas este ano, 4 pessoas entraram na lista que consta na última edição do relatório de Direitos Humanos. Grande parte dos ameaçados é composta por lideranças regionais que denunciaram conflitos envolvendo terras. Das 4 inclusões, 3 são padres que atuam no interior do Estado. A quarta pessoa denunciou irregularidades no setor imobiliário de Cáceres e atualmente vive escondida para não ser morta.
A falta de implementação de políticas públicas que garantam proteção aos que denunciam a concentração fundiária em Mato Grosso é motivo de preocupação para entidades de defesa dos trabalhadores rurais e da comunidade indígena. Mesmo após a assinatura por parte do governo estadual de um protocolo com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que prevê a criação de 3 programas diferentes, pouco foi feito.
Diretor da Rede de Intervenção Social, o sociólogo Inácio José Werner destaca que ao menos 6 pessoas que fizeram parte dessa relação foram mortas sem que nenhum tipo de proteção fosse oferecido após terem recebido ameaças. "Elas começam e cessam por um tempo para se ver qual a reação das pessoas ameaçadas. Se elas continuam a denunciar, fatalmente serão alvos".
O sociólogo espera para o ano que vem a implementação em Mato Grosso do programa Provita, voltado para quem denuncia crimes. Já há recursos previstos para isso no orçamento do Estado e da União. E também há um diálogo entre governo e movimentos sociais para a construção dessa iniciativa. "Isso só foi possível após uma pressão enorme para que saísse do papel, mas não abrange pessoas envolvidas em conflitos agrários".
Atualmente, 23 moradores de Mato Grosso participam do programa, existente na maioria dos estados brasileiros. São casos graves, que forçam as vítimas a mudar de cidade e se desfazer da vida naquele local, que se torna insustentável por total falta de segurança. "Mas como Mato Grosso não tem isso implementado, não é possível fazer a troca das vítimas".
Os outros 2 programas ainda não implementados no Estado são o Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, justamente aquele que defenderia as lideranças que se envolvem em conflitos agrários, e o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM). Entre os novos ameaçados, 2 padres que atuam no município de Nova Canaã do Norte. Nos últimos meses, eles receberam ligações ameaçadoras. "Eles acreditam que as ameaças tenham ocorrido por motivo eleitoral, mas estão receosos com os telefonemas que receberam".