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Mato Grosso é rota do tráfico nacional e internacional de mulheres

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Mato Grosso se destaca entre as 241 rotas do tráfico nacional e internacional de mulheres. Pelo menos 33 caminhos utilizados por grupos aliciadores para levar jovens e adolescentes para outros estados e países, onde são exploradas sexualmente, foram identificados na região Centro-Oeste. Muitos estão em território mato-grossense.

A pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial no Brasil, realizada pelo Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), apontou a ocorrência de aliciamentos em Cuiabá, Rondonópolis, Cáceres e Alta Floresta.

Outros municípios também foram identificados como destinos de mulheres trazidas de outros estados, como o Maranhão, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rondônia, Amazonas, Pará, Goiás. Muitos servem apenas como destino de trânsito, onde as vítimas passam apenas um período e depois continuam o percurso para chegar ao exterior.

A busca por profissionais do sexo mato-grossenses para atuar no exterior também foi confirmada em uma pesquisa realizada pela Pastoral da Mulher Marginalizada (PMM). Foram ouvidas 820 prostitutas que atuam em diferentes regiões do Estado.

Um percentual de 70% afirmou já ter recebido o convite para trabalhar em outros países. A maioria delas (58%) para a Espanha, principal destino das mulheres traficadas no país. Um menor número teve como proposta ir para Portugal, Estados Unidos, Itália e Venezuela.

Segundo a militante Maria Roseli Pinheiro Cândido, este índice pode ser ainda maior, já que muitas temem revelar este tipo de informação com "medo" de represálias. Apenas 58 entrevistadas admitiram ter vontade de mudar para o exterior.

O mais difícil ainda é saber quantas mulheres que deixam o Brasil atraídas pelas "falsas promessas" de emprego fácil e enriquecimento rápido. Esta é a principal arma utilizada pelos aliciadores e intermediários. São poucos os casos que são descobertos, a maioria quando as vítimas conseguem retornar para suas cidades.

Mesmo assim, com medo de serem perseguidas pelas máfias, nem sempre elas revelam os crimes sofridos. "A maioria delas vai para o exterior sabendo que vai se prostituir. Mas o que elas não esperam é ser exploradas, mantidas em cárcere privado, ser agredidas, obrigadas a usar drogas e não ter para onde pedir socorro".

Foi o caso de 3 mulheres identificadas pela Pastoral no município de Rondonópolis. Elas foram aliciadas e levadas para a Espanha para trabalhar como dançarinas em boates.

Maria Roseli, que ouviu o depoimento das 3, conta que ao chegarem ao destino combinado com os aliciadores, as jovens tiveram os documentos retidos e foram mantidas em cárcere privado, sendo obrigadas a manter relações sexuais com vários clientes, com uma pesada carga horária. Condições que foram impostas até que as mesmas conseguissem pagar as despesas da viagem bancadas pelos aliciadores. Elas conseguiram fugir e, com a realização de programas sexuais, juntaram dinheiro e retornaram para o Mato Grosso.

Uma quarta jovem teve como destino a Noruega. No período que ficou na Europa ela passou por vários países diferentes, sempre sob coordenação da máfia, até conseguir fugir. "Após fugir estas mulheres continuam fazendo programas e o dinheiro que recebem usam para fugir para países vizinhos. Assim conseguem despistar a máfia até juntar o dinheiro necessário para voltar ao Brasil".

Rotas – Ao deixarem suas casas, estas mulheres seguem um longo caminho até o destino final. De acordo com a pesquisa do Cecria, quando são aliciadas em municípios do interior, as vítimas são levadas até Cuiabá, de onde seguem para São Paulo ou Rio de Janeiro. Nestas cidades os criminosos providenciam a documentação para que as mesmas deixem o país.

No caso de adolescentes, os documentos são falsificados para que elas passem pelas fiscalizações como mulheres adultas. Por este motivo, as vítimas são escolhidas obedecendo alguns critérios. Esta ação é realizada principalmente pelas rotas intermunicipais e interestaduais com conexão para as fronteiras da América do Sul, como Venezuela, Guiana Francesa, Bolívia, Paraguai, Peru, Argentina e Suriname, utilizando o transporte terrestre.

A Polícia Federal possui um departamento para investigar este tipo de crime. Segundo o superintendente em Mato Grosso, Valmir Lemos, a maior dificuldade é identificar quando a prostituição de brasileiras fora do país é crime. "Nem todos os casos são crimes. É preciso saber se ela foi obrigada a ir para aquele país, já que a maioria é induzida a vida de facilidades, que não existe. Quando chegam lá são mantidas em cárcere privado, sofrem espancamentos e tem muita dificuldade para retornar".

Falsas promessas – A busca por melhores condições de vida também atrai muitas mulheres do interior para a capital de Mato Grosso. A Superintendência Regional do Trabalho já flagrou estabelecimentos explorando sexualmente vítimas trazidas de outros municípios.

Recentemente, uma mulher foi encontrada em um hotel no centro de Cuiabá, onde morava. Segundo um fiscal, de cada R$ 50 recebidos pelo programa, ela era obrigada a repassar R$ 20 ao proprietário do estabelecimento. Caso não conseguisse obter o dinheiro no dia, era obrigada a pagar o montante com serviços de limpeza.

No final do ano passado, fiscais também flagram 19 mulheres, com idade mínima de 19 anos, trabalhando em condições degradantes em uma casa de shows na região do Zero Km, em Várzea Grande. Todas tinham sido trazidas do interior e moravam no próprio estabelecimento.

Cada uma tinha que pagar um valor fixo para a casa quando saísse para fazer um programa fora, como se fosse uma comissão. Já o pagamento para elas era feito com fichas do próprio estabelecimento, e não com dinheiro.

A coordenadora do Comitê de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas em Mato Grosso, Dulce Regina Amorin, confirmou que é grande o número de boates e casas de shows que mantém esta prática no Estado. "Essas mulheres que são traficadas não ficam nas ruas, elas ficam em bordéis onde muitas vezes são exploradas e tem seus direitos infringidos".

Para a coordenadora, muitas delas se submetem a estas condições pela falta de amparo, já que, se denunciarem os estabelecimentos, ficarão desassistidas, muitas sem ter para onde ir. Ela argumenta que faltam políticas públicas para estas mulheres, que acabam se submetendo novamente às mesmas condições por falta de opção.

O Comitê foi criado em novembro do ano passado e realizará, no mês que vem, um evento para debater um plano de combate e assistência às vítimas do tráfico. A maior preocupação é com o período da Copa de 2014, que pode fomentar esta prática no Estado.

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