O coordenador do Programa Mais Médicos em Mato Grosso e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Reinaldo Gaspar Mota, esteve em Brasília, na última quinta-feira, para tratar sobre o programa e voltou a Cuiabá preocupado com as mudanças na iniciativa que, em dois anos, trouxe para o Estado 225 médicos, sendo 208 cubanos. Eles atuam em diversos rincões e em sua maioria em aldeias indígenas.
“Creio que haverá descobertura em Mato Grosso, já que a equipe de saúde do presidente Michel Temer (PMDB) prorrogou a iniciativa mas vai dispensar os cubanos e buscar substitui-los por profissionais brasileiros”, comenta o coordenador.
Ele destaca, porém, que o programa existe justamente pela dificuldade de manter médicos brasileiros em postos de saúde periféricos, em cidades sem infraestrutura e longe de grandes centros e principalmente na zona rural e em terras indígenas. “Esta é uma preocupação grande. Será que os médicos brasileiros estão dispostos a garantir esta cobertura?”.
Antes do programa, ele diz que somente três ou quatro aldeias indígenas locais tinham médico. Hoje são 30. Para ele, os governos municipais, estaduais e federais fizeram, antes do Mais Médicos, “claras tentativas frustradas” em garantir a cobertura nos interiores do país. Ressalta também que houve uma campanha nacional – chamada “Cadê o médico?” – potencializada por prefeitos e secretários mais prejudicados pela descobertura – que subsidiou o programa.
O coordenador Reinaldo destaca que o programa chegou a cidades pequenas, de fundação recente, ainda desestruturadas e de IDH abaixo da média. Os critérios de cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são expectativa de vida, escolaridade e renda per capita local.
Ele critica as secretarias municipais e o Estado por “não terem dado respaldo ao programa” e diz que “vamos perder este apoio dos cubanos, que fazem isso em pelo menos 50 países ainda em desenvolvimento”. A medicina cubana é referência internacional.
O Conselho Regional de Medicina (CRM) em Mato Grosso mantém a mesma posição desde o início do programa Mais Médicos: é contra. A médica Maria de Fátima, vice-presidente do CRM, acredita que o Brasil deve favorecer os médicos brasileiros. Diz ainda que eles não ficam nestes locais distantes, agora atendidos pelo programa, por conta da instabilidade. “Se tivessem concursos e um plano de carreira como o dos juízes ficariam”, supõe. Ela critica o fato de não ser exigido dos cubanos a validação do diploma de médico.
A BBC Brasil fez um levantamento com os coordenadores do programa no país e todos estão com o mesmo temor, de enfraquecimento da iniciativa. Em nota à BBC Brasil, o MEC afirmou que os cortes ocorreram para responder à diminuição no número de profissionais do programa, que caiu de 18 mil para 14 mil, por conta da desistência de alguns profissionais. Reinaldo entende que a desistência é resultado da falta de apoio.