Eeste ano, em Mato Grosso, foram emitidas 13.417 multas para motociclistas que circulavam sem a carteira nacional de habilitação (CNH) ou mesmo sem permissão para dirigir. Desse total mais de 4 mil ocorreram somente em Cuiabá, nas blitz da operação "Duas Rodas" da Polícia Militar. Mais do que dirigir de forma irregular, a falta da CNH pode trazer consequências mais graves. "Quando a pessoa frequenta um centro de formação de condutores precisa passar por 45 horas de aulas teóricas e 20 horas de prática. Nesse curso, o condutor vai conhecer a legislação de trânsito e as técnicas de pilotagem. Sem esse conhecimento, o motociclista acaba cometendo infrações como ultrapassar sem ligar a seta ou exceder o limite de velocidade, causando acidentes por falta de conhecimento", explica o coronel da PM, Wilson Batista.
As motos são responsáveis por cerca de 35% dos acidentes nas cidades, o que não é prioridade dos grandes centros e até pequenos municípios já sofrem com esse problema. A pessoa compra uma moto, a um custo menor, e começa a pilotar sem se preocupar em regularizar sua situação com os órgãos responsáveis. "A forma que nós encontramos para que os motociclistas se conscientizem é aumentar a fiscalização. Com uma multa de aproximadamente R$ 564 e até a perda do veículo, a pessoa vê a necessidade de procurar o Detran e se regularizar", enfatiza o coronel.
Por ser um veículo de baixo custo, tanto para compra quanto para manutenção, o número de motos no Estado cresce a cada dia. Até o dia 19 de dezembro foram licenciadas, em Cuiabá, 71.874 motos e com o aumento do trânsito na Capital o veículo de 2 rodas é também uma opção para escapar das filas. "A moto é a solução para um problema, que é o trânsito, mas ela também causa outros problemas, os acidentes. As pessoas têm pressa, estão estressadas por causa de ruas esburacadas e o fluxo de veículos que não flui. Com a moto, a pessoa consegue andar mais rápido, o que também a torna tão atrativa", afirma o professor da Universidade Federal de Mato Grosso e especialista em engenharia de trânsito, Eldemir Pereira de Oliveira.
Na vida de algumas pessoas, a motocicleta é muito mais do que um veículo, é a fonte de renda. Para mototaxista Homélio Rodrigues Ferreira essa foi a opção para sustentar a família. "Eu vejo muitos acidentes, as pessoas têm muita pressa, correm muito e não se cuidam, o que acaba causando colisões. Já sofri um acidente feio como mototaxista, foi difícil voltar a trabalhar, fiquei com um pouco de medo, mas não tenho o que fazer, esse é o meu ganha pão".
A regulamentação da profissão de mototaxista pela Lei Federal n.o 12.009/2009, também trouxe mais segurança. "O curso que é preciso fazer para se regularizar ensina como andar com segurança, a prestar mais atenção para não sofrer acidentes", lembra Ferreira.
De acordo com o coronel da PM, essa formação é necessária pela mudança no perfil do motociclista. "Ele deixa de ser um condutor normal para ser um profissional. Por isso é preciso se aprofundar nas técnicas de boa direção para exercer corretamente a profissão".
Mas mesmo com os cuidados, ainda no começo da profissão Homélio passou por um acidente grave. "Eu bati na traseira de um carro que havia parado no semáforo, fiquei 17 dias na UTI, quebrei meu rosto. Mas o bom é que a gente vê que errou e tenta recomeçar, mas muitos não têm essa nova chance".
O caso do mototaxista não é isolado. De janeiro a agosto de 2012 o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) atendeu, em Cuiabá, quase 5 mil motociclistas acidentados, uma média de mais de 12 pessoas por dia.
Trabalhando há 33 anos no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, o anestesista Ireno Dias Ribeiro recebe esses pacientes em todos os plantões. "Somente no último domingo operamos 6 pessoas com fraturas causadas por acidentes de motocicleta. É raro não operarmos pelo menos 2 ou 3 pessoas por dia por causa desse tipo de acidente".
Mesmo atendendo tantos pacientes fraturados, o médico reconhece as vantagens do veículo. "É uma maravilha. É acessível, mais gente pode ter, é prática. Sabemos que existem os motoristas cuidadosos e os desastrados, mas quando esses últimos se machucam, muitas vezes levam alguém cuidadoso junto".
São acidentes entre motos ou de motocicletas com pedestres, carros e bicicletas. As fraturas, expostas ou não muitas vezes terminam em cirurgias. "De modo geral as partes mais afetadas são os membros inferiores, na tíbia e no fêmur. Isso acontece porque as pernas são o primeiro apoio do motociclista, é onde ele tenta evitar o acidente. Depois vem as fraturas nos braços, bacia e cabeça, que dependendo da gravidade podem levar à morte", informa Ribeiro.
O médico faz uma análise dos últimos 6 meses e a proporção de operações em motociclistas. "Neste período, fizemos 1,3 mil cirurgias ortopédicas. Dessas, acredito que de 90 a 95% foram em motociclistas. Essa é a nossa rotina".
Durante os finais de semana, com as saídas para festas e a folga de muitos trabalhadores, os acidentes também aumentam. "As pessoas bebem, saem nas ruas e acabam batendo as motos. É tudo muito triste, são pais de família, adolescentes, moças. Não tem uma idade específica ou sexo para ter mais riscos de sofrer um acidente de moto, os únicos que dificilmente se envolvem nessas colisões são os idosos que só chegam para serem atendidos quando são atropelados". Para o especialista em engenharia de trânsito, a resolução estaria nos transportes públicos. "Eles são a causa e podem ser a solução para esses acidentes. Quando a cidade oferece transporte público de qualidade, que seja uma boa opção e com um preço acessível, o trabalhador opta por deixar a moto em casa. E se a moto for apenas para o lazer, o número de acidentes já cai vertiginosamente".
O professor também defende uma maior fiscalização para diminuir o problema. "Cerca de 90% dos acidentes são causados por imprudência. Desde uma lata de cerveja até um emocional abalado fazem parte do plano de fundo da imprudência. Precisamos de leis mais duras, a Lei Seca ajudou bastante mas é necessário continuar fiscalizando e fazer um trabalho de conscientização durante o ano inteiro".
Além da melhoria no transporte público, o sistema viário também precisa sofrer alterações. Oliveira destaca que estudar o fluxo do trânsito, melhorar as condições das pistas e os semáforos também fazem parte de uma política para diminuir o estresse no trânsito e, consequentemente, mudar as estatísticas negativas quando o assunto é moto.
Visando conscientizar os motoristas no futuro, em contrapartida das blitz que punem, a PM também realiza o projeto "Salvando Vidas". "Fizemos palestras para mais de 10 mil crianças nas escolas. Dessa forma, as crianças estão cobrando dos pais para não beber, dirigir e falar ao celular", comemora Batista.