O madeireiro Daniel Tenório Cavalcanti, preso na Operação Curupira, em junho, reside em Sinop e tem uma madeireira em Marcelândia. Ontem à tarde, ele prestou depoimento, em Cuiabá, ao juiz federal Marcos Alves Tavares, e confirmou que pagou propina para fiscais do Ibama, no Trevo do Lagarto, para passar algumas cargas de madeira que estava com documentação irregular. As quantias pagas não foram reveladas. Só Notícias teve acesso a cópia do termo de depoimento do madeireiro, que também é acusado pelo Ministério Público de ser despachante e de vender ATPFs falsificadas.
Ele afirmou que a primeira vez que houve pagamento de propina ocorreu entre final do ano passado e início deste ano, quando foi apreendido um caminhão e um servidor do IBAMA solicitou dinheiro para seu sócio, Wanderlei Zaura. Daniel confirmou que o sócio pagou o valor, não revelado. “A partir deste fato toda vez que caminhões da empresa passava pelo Trevo, eram apreendidos, estando ou não regular a carga”, confirmou. “Os motoristas dos caminhões ligavam e esclareciam que, para liberação da carga, havia a exigência de pagamento de quantias em dinheiro. Sua empresa era coagida a pagar o valor. Como a madeira era exportada e se dirigia ao Porto de Paranaguá havia a necessidade de pagamento de quantias”, disse. Daniel Tenorio Cavalcante afirmou que não se recorda do nome dos fiscais que ficavam no Trevo do Lagarto.
Daniel também explicou ao juiz que em alguns casos se “tratava de carga de champanhe (madeira) com nota fiscal correta e portando ATPF”. Esclarece que, nestes casos, havia medição pelos fiscais do IBAMA e os mesmos “afirmavam que a quantidade estava errada e por isso exigiam o valor”. Daniel esclareceu “que sempre passava caminhões de forma regular, entretanto os fiscais criavam empecilhos e exigiam valores”. Ele revelou que sempre havia exigência de propina e chegou a ligar para os fiscais para acertar a quantia tendo em vista que caso não houvesse a ligação prévia a quantia exigida era maior. Disse ainda que na maioria das vezes quem ligava era seu sócio Wanderlei.
Ele afirmou que não denunciou os fiscais porque quem fizesse isso teria a empresa fechada e assim “não poderia continuar com sua atividade prejudicando sua família”. Daniel nega que estivesse comercializando ATPFs (guias para transporte de madeira) falsificadas ou calçadas. Ele admitiu, porém, que seu sócio “recebeu ATPFs frias em Goiânia” e que quando ficou sabendo do fato “não deixouutilizá-las. As ATPFs foram apreendidas dentro de uma caixa no almoxarifado que seria jogada fora”, revelou. Daniel disse que não conhece as expressões ATPF calçada e esquentada e que sua empresa nunca trabalhou desta forma.
O Juiz Marcos Alves Tavares havia transferido, há poucos dias, Daniel de Sinop para Cuiabá porque o Ibama informou a Justiça Federal que ele estaria fazendo ameaças para servidores do órgãos e seria líder de um bando.
Em depoimento, Daniel afirmou que “não anda com nenhum grupo armado”, que nunca teve arma e nunca foi preso com arma. Ele também negou ameaças ao interventor do Ibama em Mato Grosso Elierson Souza. Ele informou que esteve por 3 vezes no IBAMA mas não foi recebido por Elielson.
O advogado de Daniel pediu que ele fosse transferido do Carumbé para uma cela na Polinter.