Risco de violência nas unidades de saúde de Mato Grosso é diário. Os relatos de agressões verbais e físicas são registrados desde os Programas de Saúde da Família (PSF) de municípios do interior até os Prontos-Socorros da região metropolitana da capital. As entidades representantes dos médicos reivindicam policiamento na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), que chegam a perder profissionais frente à insegurança. A tentativa de homicídio contra a médica Valéria Lemelle Xavier, 46, em Guarantã do Norte, há 6 dias, reacendeu a discussão sobre a situação.
Funcionários do Centro de Saúde do Tijucal em Cuiabá, por exemplo, são vítimas e testemunhas de situações de violência entre pacientes e profissionais. Dos últimos 3 anos, uma das 15 servidoras da unidade, que prefere não se identificar, lista uma série de ocorrências, como a agressão contra uma ginecologista. A paciente queria fazer um ultrassom transvaginal, exame que a médica não indicava no momento. Diante da negativa, a paciente começou a xingar a profissional, jogou os papéis da mesa ao chão e foi para cima dela. A Polícia precisou intervir.
Na sala de vacina um técnico de enfermagem sofreu violência de uma mãe, que buscava aplicar um tipo de dose no filho. Havia outras vacinas e a usuária achava que não queriam atendê-la e deu tapas e pontapés no servidor, enquanto ele fazia uma aplicação. Um cadeirante com antecedentes criminais também causou confusão ao ameaçar atear fogo em todos caso não conseguisse um tipo de material que não estava disponível.
Há 2 meses a enfermeira Carla*, 53, foi surpreendida por um paciente que buscava medicamento. A falta do produto levou à indignação e alteração do usuário, que a agrediu verbalmente. "Ele achou que eu fosse a chefe de atendimento".
Histórias de agressão criam clima de tensão que a enfermeira Maria da Silva, 54, vive há 30 anos. Ela avalia que a falta de respeito é mútua. Do lado do balcão do atendimento muitos profissionais recebem mal os pacientes, assim como os usuários tratam os servidores com grosseira. Mas, em comum, sobressai o sistema que não universaliza o acesso igual aos serviços. "É uma tensão todo dia, eles (pacientes) acham que a gente tem culpa".
Após ouvir que não há clínico geral disponível na unidade, o tecnólogo em artes gráficas Francisco Pinto Ribeiro, 54, sai com a impressão de falta de respeito da atendente. Ele afirma já ter testemunhado agressões entre profissionais e pacientes no CPA.
Por dia, em média 200 pessoas são atendidas no Centro de Saúde do Tijucal. A gerente e enfermeira Letícia Ferro avalia que o fato de todas as servidoras serem mulheres cria um contexto de vulnerabilidade. Quatro vigilantes estão contratados para prestar serviço na unidade, mas no momento 2 estão afastados por envolvimento em campanha e férias. Em determinados turnos, como ontem pela manhã, não havia vigilante. O fechamento das portas às 11h, horário de intervalo, tem sido uma forma de prevenir conflitos.