Um grupo de pelo menos 27 trabalhadores procurou a Delegacia do Trabalho para denunciar que trabalharam durante a Copa do Mundo na Arena Pantanal, na parte de logística, mas estão sem receber os salários, alguns faltam receber o vale transporte e também apontam irregularidades na folha de ponto que era preenchida manualmente. Eles foram contratados por uma empresa de recuros humanos, de São Paulo, que recruta pessoas para atuar em outras empresas. Os trabalhadores afirmam que já tentaram receber, mas não conseguiram porque uma empresa joga a responsabilidade para outra.
Eles procuraram o Ministério do Trabalho nesta terça-feira (15) e registraram a denúncia cobrando providências do órgão de fiscalização. Ao Gazeta Digital, a auditora fiscal do trabalho, Alessandra Andrade, ressaltou que a empresa já vinha sendo investigada antes mesmo da denúncia. De acordo com ela, durante inspeção realizada em uma das empresas que utilizava mão-de-obra recrutada por ela, ainda durante os jogos da Copa em Cuiabá, foi constatado irregularidades e ausência de alguns documentos.
A empresa foi acionada pela auditora para enviar os documentos, mas isso não aconteceu. O prazo foi prorrogado e mesmo asim os documentos não foram enviados. “Isso já culminou em outras infrações”, pontua a auditora. “A denúncia dos funcionários foi um fator a mais”, destaca ela. Explica ainda que o número de trabalhadores pode ser ainda maior, pois foram trabalhadores de apenas uma empresa que fizeram a denúncia.
Lucas Moreira é um dos funcionários que trabalharam e não receberam. Ele relata que foram 4 ou 5 empresas que utilizaram pessoas recrutadas pela empresa de RH. Segundo ele, os 27 trabalhadores que ele tem conhecimento atuaram na parte de logística em 4 cargos: líderes, conferentes, operador de empilhadeira e auxiliar operacional. “Os contratos terminaram em 27 de junho e disseram que 5 dias úteis depois a gente receberia, mas isso não aconteceu. Não recebemos nem o vale transporte. Teve gente que pagou para trabalhar, alguns receberam só parte do vale transporte”, afirmou.
Ainda de acordo com Lucas, a folha de ponto era assinada de forma manual o que facilitava alterações. “Os pontos de alguns trabalhadores foram falsificados, com alteração do horário de saída”, denuncia. Ele relata que foi contratado para trabalhar por 44 horas semanais, mas teve dias em que ultrapassou o horário. “Nos dias de jogos a gente saia de madrugada por volta das 2h”. Lucas explicou que após formalizar a denuncia o grupo iria buscar auxílio de um advogado para receber informações de como proceder e, se possível, ingressar com uma ação trabalhista contra as empresas envolvidas no caso. Ele foi contratado pelo salário de R$ 1,7 mil para exercer a função de conferente. O contrato foi assinado pela empresa de RH.
A decisão dos trabalhadores em acionar a Delegacia do Trabalho foi tomada após tentarem resolver a questão de forma administrativa com as empresas e não conseguirem.
Tentativa de acordo
A auditora fiscal do trabalho Alessandra Andrade infomou que uma reunião já foi agendada para o dia 23 de julho para a empresa apresentar a documentação solicitada. A advogada da empresa disse à auditora que a empresa tem interesse em fazer um acordo com os trabalhadores e pediu para o Ministério do Trabalho intermediar.
Contudo, a auditora explicou que isso deve ser resolvido entre ambas as partes. O que cabe ao Ministério do Trabalho é exigir o cumprimento da legislação e aplicar as penalidades com base nas infrações já detectadas. “A orientação aos trabalhadores é que eles se organizem, criem uma comissão, contratarem um advogado e recorreram à Justiça porque alguém tem que acertar com os direitos trabalhistas deles”. Caso a empresa não execute os pagamentos, as demais empresas também poderão ser acionadas na Justiça pelos trabalhadores.
Outro lado:
A empresa foi procurada pelo Gazeta Digital, mas não se pronunciou até a publicação desta matéria. O e-mail enviado não foi respondido e as ligações efetuadas para a empresa em São Paulo não foram atendidas.