O Ministério Público Federal deve apurar denúncias feitas pelo Greenpeace e a organização indigenista Opan (Operação Amazônia Nativa) contra fazendeiros e políticos de Juína, que teriam expulsado ativistas e jornalistas do município, na última segunda-feira. A represália, bem como ameaças sofridas pelo grupo, teriam sido gravadas e entregues ao MPF, que deverá abrir processo para apurar o caso.
“Ao mesmo tempo em que o governo celebra e assume o mérito pela queda das taxas de desmatamento na Amazônia, o episódio em Juína mostra que sua presença ou é rala ou ainda está muito longe daqui”, disse Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace, que fazia parte do grupo.
O grupo alega que estava de passagem por Juína e seguia à terra indígena Enawene-Nawe, onde iria documentar áreas recém-desmatadas, além de mostrar a convivência de um povo indígena que vive de agricultura e pesca com a floresta e seu papel em preservar a biodiversidade. Esta mesma área, conhecida como Rio Preto, estaria sendo disputada entre os Enawene-Nawe e fazendeiros, o que teria motivado a ação.
Os ativistas alegam que dezenas de fazendeiros cercaram o hotel onde estavam e fizeram uma rápida audiência, na câmara, onde informaram que não seria permitida e que seria “perigoso” insistir na viagem até os Enawene-Nawe. Entre os participantes estaria o prefeito Hilton Campos (PR) e o presidente da câmara, Francisco Pedroso (DEM). O prefeito teria declarado que não iria permitir a ida do grupo para o Rio Preto.
Mesmo com escolta policial, eles acusam que um fotógrafo teria sido agredido pelos fazendeiros. Na terça-feira, retornaram para Cuiabá, de avião. Foram protegidos por duas viaturas policiais até o aeroporto, sendo que teriam sido acompanhados pelos fazendeiros, sob ameaças.
Outro lado
Na prefeitura, Só Notícias foi informado que o prefeito Hilton Campos está viajando e buscando orientações junto a AMM – Associação Mato-grossenses dos Municípios – sobre quais procedimentos adotar diante da situação. A assessoria informou que o prefeito foi apenas intermediador na audiência, quando os fazendeiros cobravam explicações sobre o trabalho do Greenpeace e a Opan na região, já que o destino seria a mesma área disputada com indígenas.
O presidente da câmara, vereador Francisco Pedroso, disse que tentou intermediar as conversações para evitar maiores conflitos. “Busquei conversação e entendimento, mas não desabono o direito desses produtores da região. É preciso resolver esse conflito que perdura há 40 anos nessa área”, salientou. Pedro alegou que todas as discussões durante a audiência foram gravadas pela câmara.
(Atualizada às 9h34)