O presidente da Fecomércio em Mato Grosso avaliou, hoje, que o aumento das tarifas dos Estados Unidos irá impactar o Estado duplamente, tanto na redução de vendas como na geração de empregos. “Como elo final da cadeia produtiva, o comércio deve ser duplamente impactado pela retração e mudanças na exportação para os norte-americanos, sofrendo diretamente com a redução nas vendas dessas mercadorias, mas também com a diminuição na geração de emprego e renda das famílias”, afirmou José Wenceslau de Souza Júnior.
A medida deve entrar em vigor na próxima quarta-feira (6). O dirigente destacou ainda, que “a partir de sua vocação exportadora, o Estado tem se beneficiado de um impulso econômico relevante, já que o comércio internacional, quando fortalecido, atua como um motor de geração de riqueza não apenas para as empresas exportadoras, mas também para os municípios onde essas atividades estão instaladas”.
No plano municipal, o Instituto de Pesquisa da Fecomércio Mato Grosso averiguou que algumas cidades apresentam maior vulnerabilidade. Chapada dos Guimarães e Vila Bela da Santíssima Trindade, por exemplo, destinaram 100% de suas exportações ao mercado norte-americano no ano passado, junto a Juína, que exportou 71,57% de seu total para os EUA; Acorizal, 45,95%; e Peixoto de Azevedo, 44,03%.
Mesmo com a retirada de quase 700 produtos da tarifa adicional de 40%, municípios como Mirassol D’Oeste e Paranatinga seguem vulneráveis a impactos significativos. No ano passado, segundo a federação mato-grossense, essas cidades foram responsáveis por 75,61% de toda a carne bovina exportada de Mato Grosso para os Estados Unidos, o que evidencia que, embora o impacto possa ser menor do que o inicialmente previsto, os efeitos ainda reverberam em maior medida, com a visão focada nos municípios.
As ações da política americana tiveram início em março, com a implementação de uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio, insumos considerados estratégicos para a indústria norte-americana. Em abril, o governo dos EUA anunciou uma tarifa universal de 10% sobre as importações provenientes de países com os quais mantém déficits comerciais — o que incluiu o Brasil entre os afetados. Agora, essa tarifa deve ser elevada para 50%, exclusivamente sobre produtos brasileiros.
Segundo análise do Instituto de Pesquisa da Fecomércio, embora o mercado norte-americano represente apenas 1,10% das exportações mato-grossenses, ele corresponde a 14,64% das importações do estado — o que revela sua importância estratégica em termos de abastecimento e integração de cadeias produtivas.
Ainda conforme o instituto, entre os principais produtos exportados para os EUA em 2024, destacam-se o ouro (US$ 157,73 milhões), a carne bovina (US$ 148,27 milhões), a soja (US$ 39,48 milhões), gelatinas e derivados (US$ 16,85 milhões) e a madeira (US$ 11,09 milhões). Em 2025, os ovos de aves emergem como novo destaque, impulsionados pela crise sanitária da gripe aviária nos Estados Unidos, alcançando o terceiro lugar entre os produtos mais exportados no ano, com receita de US$ 8,07 milhões.
Diante desse cenário, Wenceslau Júnior explica que “se torna evidente a urgência de uma diplomacia econômica eficaz, capaz de mitigar os efeitos adversos dessas barreiras comerciais. Isso é particularmente relevante para Mato Grosso, cuja balança comercial responde por cerca de 30% do superávit nacional. Logo, impactos sobre sua performance externa repercutem não apenas nos municípios diretamente exportadores, mas também nos indicadores macroeconômicos nacionais”.