O Exército Brasileiro está auxiliando a Polícia Judiciária Civil nas investigações dos arrombamentos de caixas eletrônicos com a utilização de explosivos. A técnica passou a ser usada pelas quadrilhas há pouco tempo em Mato Grosso. Nas duas últimas semanas, pelo menos 5 ocorrências foram registradas em Cuiabá e Várzea Grande. Em duas delas os criminosos não conseguiram abrir os cofres, o que leva a acreditar que eles ainda não têm 100% de domínio sobre os artefatos.
Chefe do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados do 44º Batalhão de Infantaria, capitão Daniel Pereira, destacou que o comércio, armazenamento e utilização de materiais explosivos é controlado pelo Exército, o que confirma as suspeitas de que tenham sido desviados ou roubados. "A venda só pode ser feita para empresas que têm o certificado expedido por nós. Mas antes, realizamos uma vistoria na empresa para saber as condições de segurança que o material vai ficar e quais fins terá".
Pereira destacou que a maioria dos artefatos do tipo "emulsão", que são utilizados pelos bandidos, é vendida por empresas instaladas em São Paulo e Goiânia. Outra possibilidade do material ter entrado no Estado é pela fronteira com outros países, de forma ilegal, o que não está descartado.
A suspeita de que os explosivos usados nos arrombamentos seriam os mesmos furtados de uma empresa no município de São José do Rio Claro, em junho, foi descartada pela Polícia. Segundo o coordenador do Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), delegado Flávio Stringuetta, as embalagens encontradas nos locais dos arrombamentos não são as mesmas. "Conseguimos identificar, por meio da embalagem das bananas usadas em uma ação, que os artefatos tinham origem de uma empresa do Nordeste. Agora estamos tentando identificar quem comprou para saber como foi parar nas mãos dos criminosos".
Em São José, foram levados 950 explosivos que pertenciam a uma empresa de exploração de gás e petróleo, com sede no estado do Rio de Janeiro.
Rapidez – A Polícia Judiciária Civil registrou, este ano, 59 arrombamentos de caixas eletrônicos no Estado, destes, 37 consumados. No ano passado inteiro, foram 118 ocorrências.
Segundo Stringuetta, os grupos migraram do maçarico para os explosivos, seguindo tendência de outros estados como São Paulo, por que o risco é menor. É uma ação muito mais rápida. Enquanto com maçarico são necessárias horas de trabalho para abrir o cofre, com o uso de explosivos o resultado é obtido em poucos minutos. O tempo gasto para armar a emulsão e explodi-la leva menos de 3 minutos, explicou o tenente Frederico Corrêa Lima Lopes, do Esquadrão Antibombas do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
A quantidade de material necessária também é baixa. Com menos de 500 gramas, a explosão causa grandes estragos, como o visto na agência do Banco do Brasil, localizada na avenida Prainha, no centro da capital. Criminosos conseguiram abrir um caixa e danificar outros 2 usando emulsões. Com a explosão, parte do forro de gesso do prédio caiu e ficou espalhado pelo chão. Uma parede de vidro também foi arrancada. O mesmo ocorreu na sede da Secretaria Municipal de Trânsito (SMTU).
Para não serem atingidos, os bandidos precisam manter uma distância considerável de, no mínimo, dez metros. "Eles sabem desse risco. Em todas as ações usaram pavios para dar tempo de saírem do local e manterem distância de segurança antes da explosão".
Estragos – Além de ganhar tempo, a preferência pelos explosivos do tipo "emulsão" se deve a 2 fatores. O primeiro deles é a facilidade em consegui-los, que é maior, pois são usados em atividades comerciais. Lopes lembra que dinamites, por exemplo, têm uso restrito das forças policiais. O segundo fator é a garantia de que o dinheiro será retirado sem grandes perdas. Com a quantidade certa de explosivo, o estrago de notas será bem menor.
A Polícia acredita que os crimes registrados em Cuiabá e Várzea Grande tenham sido cometidos pelo mesmo grupo. O delegado Flávio Stringuetta explica que as falhas, em algumas ações, mostram que os criminosos ainda estariam testando a nova técnica. "Por ser uma modalidade nova precisa de um aperfeiçoamento. Eles podem ter recebido ajuda de gente de fora, já que as explosões começaram em São Paulo, mas ainda estão cometendo erros".
Para o tenente do Esquadrão Antibombas, Frederico Corrêa Lima Lopes, a falta de conhecimento dos grupos pode ter frustrado alguns arrombamentos. Ele detalha que, para conseguir explodir a "emulsão", é necessário o uso de espoletas. Se a composição dos 2 materiais não estiver correta, o artefato não detonará.
Foi o que ocorreu nos caixas localizados em frente à Prefeitura de Várzea Grande. As bananas foram colocadas ao lado do cofre, mas não detonaram. Foi necessário o trabalho do esquadrão para desativá-lo.