“Eu nasci de novo”. A frase, pronunciada com dificuldades e sob forte emoção, é da dona de casa Marlene Amorin, 29 anos, sobrevivente do acidente com o avião Corisco PT-NEB que ficou nos destroços da aeronave, por cerca de 19 horas, em uma mata em Sinop, onde o avião caiu. Marlene concedeu -ontem- entrevista exclusiva ao Só Notícias onde faz relatos emocionados. Ela, o filho Maicon, o médico Euler Preza e o enfermeiro Wagner Vieira sobreviveram. O piloto Ademar Maciel e a recém-nascida Maria Eduarda faleceram.
“O piloto morreu pedindo água e chamando pela mulher e a filha. Ele pedia ajuda para se levantar mas não tinha como ajudá-lo. Ele estava deitado na asa do avião. Depois que ele morreu, eu fui lá colocar a minha toalha em cima dele”.
“Antes do avião cair, o piloto estava preocupado, apavorado. Ele e o médico conversavam baixinho”.
“Foi feio demais. Eu estava com dois filhos e um morreu.”
“Passamos frio, fome, sede”.
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Leia a íntegra da entrevista de Marlene Amorin ao editor Marcos Azevedo:
– Só Notícias: O que aconteceu antes do avião cair ?
– Marlene: “Ele (piloto) estava direto fazendo ligações, conversando. Falou que iria pousar em Sinop, depois mudou para Porto dos Gaúchos e depois disse que iria seguir direto. Aí ele falou que iria pousar em outro lugar mais perto, Juara. Não sei o que aconteceu porque não parou.
– Só Notícias: O que você lembra antes do avião cair ?
– Marlene: “Lembro que ele (piloto) estava muito preocupado. Toda a hora ele estava conversando com o enfermeiro e com o doutor. E apavorado”
– Só Notícias: O que eles falavam ?
– Marlene: “Eles falavam baixinho pra mim não escutar. Eu estou de dieta ainda. Aí não consegui escutar.
– Só Notícias: Você achava que vocês estavam perdidos ?
– Marlene:”Eu achava. Eu seu que a coisa foi muito feia. Trazer dois filhos meu….. Morreu um e o pai deles está lá em Juína pensando que está tudo bem e ela está morta, tadinha”.
-Só Notícias: Como foi no momento da queda do avião ?
-Marlene: “Eu só me recordo que tentei me levantar e meu nenê estava chorando. Eu fui tentar levantar e não consegui por causa da minha perna. Mas, mesmo assim, fiz um esforço e, me arrastando, entrei no avião, peguei meu filho que estava chorando”.
– Só Notícias: Vocês estavam fora do avião ?
– Marlene: “Estávamos todos fora” ( o médico havia retirado as vítimas temendo que o avião pegasse fogo)
-Só Notícias: Como foi passar a noite, a madrugada, tantas horas na mata ?
-Marlene: “Fui ruim demais. Passamos fome, sede. O piloto morreu pedindo água pra mim. Eu iria conseguir água onde para ele ?. Não tinha como !. Foi terrível !.
-Só Notícias: O piloto morreu à noite ou de madrugada ?
-Marlene: “Não. Eu vi quando ele morreu. Era por volta do meio-dia (3ªfeira), coitado. Ele passou a noite pedindo água, pedindo ajuda para mim levantá-lo. Mas não tinha como, eu estava ruim também. Ele passou a chamar pela filha dele, pela mulher, pedia socorro e que ‘queria água bem geladinha’. Eu falava que não tem água aqui. Ele estava deitado na asa do avião e ficou quieto. Eu falei para o doutor: ‘aquele homem tá muito quieto’. Estava um sol muito quente. Aí o doutor falou que ele morreu. Aí eu fui lá (na asa) com uma toalha e coloquei nele”
-Só Notícias: O médico ajudou muito vocês…
-Marlene : “Ele tava ajudando, coitado. Também tava todo quebrado. Ele se arrastava e ajudava nós. Eu falava que estava com dor. Ele me deu remédio e pediu para aguentasse. Eu pedia água ele falava para mim aguentar que não tinha. Ele achou uma garrafinha e deu um pouquinho pra mim. Eu tava preocupada com meu filho. Consegui amamentá-lo só por volta do meio-dia. O outro eu nem vi porque já estava morto. Fui assim que passamos, com sede, fome”.
-Só Notícias: Você estava indo de avião porque seus filhos precisavam de atendimento médico ?
-Marlene: “Isso. Eles precisavam ser levados para Cuiabá e acabou acontecendo isso conosco”.
-Só Notícias: O que passa agora por sua cabeça depois destes momentos difíceis ?
-Marlene : “Eu nasci de novo. Isso é verdade. Cair com avião e estar viva, é nascer outra vez”.
Marlene Amorin está com bacia quebrada, hematomas no olho e pernas e de dieta, (ela teve gêmeos há duas semanas). Ela mora em Juína onde o marido trabalha em uma indústria madeireira.