Uma semana após pedir “transparência absoluta” e atribuir à Casa Civil o atraso na divulgação dos dados de maio sobre desmatamento na Amazônia, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, mudou o discurso. Nesta sexta-feira, 11, ele defendeu a ampliação do prazo para divulgação dos relatórios mensais do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Disse, inclusive, que a mudança atende a uma crítica “em parte justa” de governadores como o do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), e a um “pedido nosso para melhorar a eficácia da fiscalização”.
A nova determinação dada ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi criticada por organizações não-governamentais. Marina Silva, que pediu demissão da pasta há dois meses, disse na quinta-feira, 10, ao Estado considerar “fundamental que se mantenha a transparência do sistema, livre de influências políticas”. Ontem, Minc afirmou que a “mudança de metodologia” vai trazer um dado de “melhor qualidade”. “Pela primeira vez, vai desagregar o corte raso da degradação progressiva, uma das broncas crônicas de Maggi e de vários outros governadores.” Segundo ele, houve necessidade de se ampliar em 15 dias o prazo porque o processo agora é mais demorado. “Tem que ir a campo, mas é um dado de muito melhor qualidade. Daqui para a frente, assim será.”
Na sexta passada, Minc afirmara: “Sou favorável à transparência total e absoluta. Espero que (os dados) sejam divulgados na próxima (esta) semana, até porque não há razão para isso, e pode gerar uma apreensão na imprensa, justificada.” Na ocasião, disse que a Casa Civil havia pedido para “segurar” os dados e que pretendia reunir-se com a ministra-chefe, Dilma Rousseff.
A divulgação dos dados de abril, que tiveram aumento, também sofreu atraso. Naquele momento, ao comentar números parciais, Minc criticou Maggi, citado como um dos responsáveis pela alta. Ontem, o ministro voltou a dizer que houve diminuição do desmatamento em maio, na comparação com abril deste ano e com maio de 2007. Os números, segundo ele, serão divulgados terça-feira. “Será um dado mais qualitativo, separando uma coisa da outra. A soma não muda o dado. Mas como ele vem desagregado, atende a um pedido nosso e também a uma crítica em parte justa dos governadores, que reclamavam que enquanto Prodes (projeto de monitoramento da floresta amazônica por satélite, anual) era só corte raso, o Deter somava o corte raso e a degradação progressiva.”
Minc participou do lançamento de um prêmio ambiental da Vale. Ele o presidente da mineradora, Roger Agnelli, comentaram a multa de R$ 5 milhões recebida na véspera pela empresa, sob a acusação de venda ilegal de madeira no Pará. “Essa infeliz coincidência mostra a independência. Eu não fui cooptado pela Vale. Pisou na bola, é caneta”, disse Minc. Agnelli levantou a suspeita de a madeira ter sido roubada, mas ressalvou: “Não tem justificativa. Vamos apurar.”