Cuiabá integra o grupo de 5 capitais brasileiras que não possuem nenhuma feira de alimentos orgânicos. Verificação é do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) em parceria com o Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECDC), que identificou Boa Vista (Roraima), Macapá (Amapá), Palmas (Tocantins) e São Luís (Maranhão) como localidades onde há demanda por esses produtos, mas nenhum centro de comercialização direta da produção agroecológica e orgânica. Em todo país foram identificadas 140 feiras, distribuídas em 22 capitais, sendo que o Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) reúne o maior número delas, num total de 25, seguido por Brasília (Distrito Federal) com 20 feiras, Recife (Pernambuco) com 18 e Curitiba (Paraná) com 16.
Porém, nos próximos 2 anos o abastecimento de alimentos orgânicos na Capital mato-grossense pode receber um reforço com o desenvolvimento de um projeto que prevê aumentar a produção em toda região da Baixada Cuiabana, explica a fiscal agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Jeankeile Bif. Intenção é garantir esse tipo de produto aos turistas que chegarem ao Estado para acompanhar os jogos da Copa do Mundo de 2014, atendendo exigência da Federação Internacional de Futebol (Fifa). "É possível garantir essa produção nesse prazo fazendo a conversão de propriedades e queremos iniciar com os agricultores que já investiram nesse tipo de atividade".
Recentemente a Superintendência do Mapa tentou realizar duas feiras para comercialização de alimentos orgânicos em Cuiabá, mas esbarrou na falta de produtos. "Existe demanda mas a produção na Baixada Cuiabana, próxima do principal centro consumidor que é a Capital, ainda é muito pequena". Registros do ministério apontam a existência de 71 produtores cadastrados em todo Estado, os quais são habilitados para comercializar a produção com as prefeituras, atendendo a alimentação escolar, além de feiras.
Interessada em comercializar os produtos orgânicos, a proprietária do Empório Quitanda Santa Cecília, Carla Paludo, revela que ainda não encontrou fornecedores locais e que alguns clientes do recém-inaugurado estabelecimento têm procurado esses alimentos. "Temos interesse em negociar, mas é difícil encontrar fornecedor até em São Paulo, de onde trazemos a maioria dos produtos".
Mercado consumidor de alimentos orgânicos cresce em média 30% ao ano, diz a pesquisadora da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), Maria Elienai Correia. "Há uma demanda altamente reprimida em Mato Grosso e esse é um mercado que o produtor deixa de explorar, por falta de assistência técnica e também por querer vender apenas em grandes quantidades". Orientação sobre como produzir alimentos sem uso de agrotóxicos também é feita pela Universidade de Mato Grosso (Unemat), durante as aulas do curso de Agronomia.
Pioneiro na atividade e mantendo uma produção comercial bem-sucedida em 13 anos de atividade, o produtor Marcos Sguarezi diz que buscou especialização fora do Estado antes de fazer a conversão da propriedade para produção agroecológica. No sítio Monjolinho, em Chapada dos Guimarães, cultiva 42 produtos entre frutas, verduras, legumes, ervas aromáticas e temperos, além de cana para conversão em açúcar mascavo e até flores comestíveis. Para o próximo ano, a intenção é ampliar a produção com o cultivo de morango. Alimentos obtidos na propriedade são comercializados de forma direta numa feira realizada todo sábado na cidade de Chapada dos Guimarães e, principalmente, com uma rede de supermercados em Cuiabá.
Todos os produtos são certificados com o selo de alimento orgânico. Atenta a esse mercado, foi inaugurada em Chapada dos Guimarães a empresa Rockall Fertilizantes Naturais, que atualmente atende o projeto PAIS em unidades de Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Pernambuco, Ceará e Pará. De acordo com a diretora de vendas Natia Ortega, os fertilizantes produzidos com rochas trituradas são ricos em minerais e tornam as plantas resistentes aos ataques de insetos e à estiagem. "A produtividade das lavouras orgânicas pode ser superior às convencionais a partir da regeneração dos solos com mineralização e essa não é uma forma dispendiosa".
Preço – Pesquisa realizada pelo Idec identificou que o principal entrave ao consumo de alimentos orgânicos é, além da falta de feiras especializadas, o preço praticado, geralmente mais caro se comparado aos produtos convencionais. Consumidora de alimentos orgânicos, a jornalista Josana Salles avalia que para a população mato-grossense ainda é não é possível manter uma alimentação baseada em produtos livres de agrotóxicos. "Além da produção pequena, concentrada em algumas regiões (Chapada dos Guimarães, Cáceres e Alta Floresta), há uma diferença grande nos preços.
O tomate orgânico, por exemplo, pode custar até R$ 5 a mais que o convencional". Terapeuta corporal Gê Vilá também reclama dos preços dos orgânicos e da pouca oferta em Cuiabá e compara com a capital de Santa Catarina, Florianópolis, onde há 7 feiras específicas desse tipo de alimento, segundo pesquisa do Idec. "Estou de mudança para lá, onde há uma boa produção e comercialização de orgânicos".
Produtor Marcos Sguarezi confirma a diferença nos preços dos alimentos orgânicos e calcula uma variação de 12% sobre os alimentos convencionais. "Nesta época em que o tomate convencional encareceu, por exemplo, o orgânico estava mais barato e compensa comprar o orgânico porque o sabor é fantástico".