O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM) investiga três denúncias contra a chamada “medicina antienvelhecimento”. Este é o reflexo da preocupação da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia de Mato Grosso (SBEM), que tem registrado um aumento repentino e desenfreado de pacientes que têm sofrido efeitos colaterais após consumir hormônios, mesmo estando com os exames normais.
Segundo a instituição, médicos recém formados e de diversas especializações, têm propagado a “comercialização” de métodos ortomoleculares, de antienvelhecimento e que prolongam a juventude, prescrevendo tratamentos sem embasamento científico. De acordo com o vice -presidente da SBEM, Marcelo Maia, a manipulação destas fórmulas, que são compostas por vários tipos de vitaminas e hormônios, têm custado mensalmente aos pacientes entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil.
“Os profissionais receitam os medicamentos e informam que estes só podem ser manipulados em laboratórios específicos de Santa Catarina ou Ceará, onde a fórmula seria composta por hormônios bioidênticos. O que chegou até nós, é que os médicos estariam lucrando até 20% de propina para cada medicamento vendido, valor que é repassado pelos laboratórios”.
Maia atua na área de endocrinologia e diz que tem atendido de dois a quatro pacientes por semana, vítimas do método antienvelhecimento. Todos relatam que inicialmente a sensação revigorante é ótima, mas após alguns meses de tratamento começam a apresentar as consequências negativas. “O que me espanta é que a maioria das vítimas são pessoas instruídas e que ocupam cargos importantes na sociedade, como juízes, por exemplo, e se deixam levar pela promessa de retardar o envelhecimento”.
Depressão, baixo desempenho sexual, ganho de peso rápido e repentino e fadiga são algumas das consequências da medicina da longevidade, elencadas pelo endocrinologista. “Pelo fato das fórmulas serem caras, muitos acabam abandonando o tratamento e é aí que começam a aparecer os efeitos colaterais. Tenho pacientes que fazem tratamento comigo há anos, que sumiram após aderir ao programa de antienvelhecimento e depois voltaram reclamando do resultado e com os exames todos alterados”.
Segundo o CRM, há uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) de 2011 e revista em 2012, que proíbe aos médicos de todo país a indicação e a aplica- ção dos chamados tratamentos antienvelhecimento, que usam hormônios, antioxidantes ou vitaminas, sob risco de cassação da licença do profissional. “No Brasil, a ‘medicina antienvelhecimento’ não é reconhecida como especialidade e nem como área de atuação pelo CFM, Associação Médica Brasileira e Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) do Ministério da Educação (MEC)”, frisa a presidente do CRM, Maria de Fátima Carvalho Ferreira.
Ainda de acordo com Ferreira, o uso dessas substâncias só é permitido no tratamento de problemas de saúde em que a aplicação destas tenha eficácia comprovada pela ciência. “O que não é o caso dos métodos de rejuvenescimento proibidos, que foram, inclusive, relacionados com casos de câncer e alterações hormonais graves”.
Diante disso, profissionais ficam impedidos de oferecer tratamentos que promete reduzir marcas da idade. Conforme a presidente do CRM, a política de antienvelhecimento é propagada no Brasil desde meados dos anos 2000. Desde aquela época são realizados estudos acerca dos tratamentos ofertados às pessoas que desejam prolongar a vida. “Esse tipo de medicina é ilusiva. O CFM já realizou diversos estudos relacionados a essa questão e não há comprovação de resultados positivos do uso de hormônios, antioxidantes, vitaminas e outras substâncias que garantam o rejuvenescimento”.